A economia do Brasil tem considerável dependência dos negócios marítimos uma vez que 95% das mercadorias brasileiras exportadas passam pelos portos nacionais. Tal montante representa 14,2% do PIB nacional. (ANTAQ, 2021)
Por sua vez a operação dos negócios marítimos possuem uma forte pegada nas emissões dos Gases do Efeito Estufa – GEE. Consciente da sua responsabilidade social e ambiental, a Organização Marítima Internacional-OMI consoante com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável-ODS da ONU estabeleceu metas arrojadas para a descarbonização da navegação. Recentemente estabeleceu metas para reduzir de 20 a 30% da emissão de GEE relativa a 2008, até 2030. Em 2050, sua meta será de zerar as emissões. Portanto os portos e navios brasileiros já tem um referencial a projetar. Pensar nesta meta é avançar para o futuro.

O setor portuário e de navegação, através do conceito da descarbonização, se engaja de forma objetiva na Década das Nações Unidas da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável (2021-2030). Duas das principais metas da ODS-14 (Conservação e Uso Sustentável dos Oceanos) é a redução da poluição e o desenvolvimento das ciências oceânicas visando a convivência harmônica entre o homem e os oceanos. Ambas fazem parte do elenco de resultados que se pretende atingir com a descarbonização.
O Brasil é o primeiro país a aderir ao conceito da descarbonização portuária e marítima através do Pacto Global da ONU no Brasil em parceria com a Ocean Stewardship Coalition. Tal empreitada teve seu lançamento em 26/07/2023 no Rio de Janeiro e tem como apoio o Porto do Açu. Esta iniciativa já obteve a adesão de 35 empresas do ramo de transporte marítimo demonstrando a maturidade e a visão de vanguarda do empresariado nacional.
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Fonte: https://rotaverde.com.br/projeto-inedito-em-hidrogenio-verde-sera-implantado-no-porto-do-acu/
Um dos desenhos para a descarbonização da frota e portos são os corredores verdes do transporte marítimo. A Declaração de Clydebank oferecida pelo Reino Unido na COP 26 (Glasgow-Escócia, 2021) causou grande destaque e repercussão. O Corredor Verde é o projeto de uma rota entre dois portos ou terminais que possuam capacidade tecnológica, econômica e regulatórias para promover uma navegação com zero emissão de GEE.

Fonte: https://maritimeindia.org/the-next-wave-green-corridors-a-critique/
Um dos quesitos é a possibilidade de produção em larga escala de combustíveis de zero emissão de CO2 como é o caso do combustível com base no Hidrogênio. O Brasil tem forte potencial de geração de energia renovável (eólica e solar) nas regiões costeiras e consequentemente possibilita a produção economicamente viável do hidrogênio. A criação de um polo de produção de Hidrogênio Verde na zona industrial portuária faz todo sentido nos portos do amanhã.
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Fonte: https://oglobo.globo.com/economia/esg/noticia/2022/07/transicao-para-fontes-de-energia-renovavel-entra-de-vez-na-pauta-das-empresas.ghtml
Negócios marítimos que pensam no futuro próximo sem dúvida caminham na direção da inovação e na sustentabilidade dos sistemas portuários e de navegação. A descarbonização é o ponto de convergência para a modernização dos meios de transporte do comércio exterior para as próximas décadas. Descarbonizar representa menos desequilíbrios climáticos com eventos extremos e mais segurança para a navegação.

Se existe um meio natural e contínuo de integração que consegue se comunicar com todos os continentes do planeta este é o oceano. Para mantê-lo prestando esse inestimável serviço ambiental de interação entre os povos de modo permanente é preciso mantê-lo vivo e saudável. Assim como para manter nosso clima sereno e equilibrado para a segurança da navegação é preciso reduzir os gases do efeito estufa. A descarbonização marítima será um desses caminhos.
Escrito por David Zee
Referências Bibliográficas
Agência Nacional de Transportes Aquaviários – ANTAQ. Impactos e Riscos da Mudança do Clima nos Portos Públicos Costeiros Brasileiros. Nov,2021. 26pp.
Steiner, L.V.. Rotas para o futuro: o potencial brasileiro para definição dos corredores verdes para a navegação. Portos e Navios, 07/02/2022. https://www.portosenavios.com.br/artigos/artigos-de-opiniao/artigo-rotas-para-o-futuro-o-potencial-brasileiro-para-a-definicao-de-corredores-verdes-de-navegacao .
ONU, Pacto Global. Grupo de Trabalho GT Negócios Oceânicos. Ano 1 – Descarbonização da Frota Marítima e Portos, Anexo 1. 11pp.