Por muitos anos os mares foram objeto de desejo e aventuras masculinas, onde marinheiros, pesquisadores e exploradores deixavam suas mães e esposas nos portos sem saber se retornariam. Porém, isso vem mudando com o passar dos anos. Ultimamente as mulheres vêm ganhando espaço e assumindo seu importante papel nas pesquisas oceanográficas. Mulheres que mudaram e que continuam mudando a história da oceanografia pelo mundo afora.
No dia internacional da Mulher o Olhar Oceanográfico vem render reconhecimento além de agradecer a essas mulheres e homenageá-las. Não será possível citar todas, mas algumas das inúmeras estrelas que guiam os mares do saber aqui serão lembradas. Mulheres emblemáticas que precisamos relatar o que fizeram pelo planeta e que seus esforços jamais sejam esquecidos.

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Sylvia A. Earle
Conhecida como “A Dama dos Mares”, a estadunidense de Nova Jersey é autora de mais de 100 artigos científicos. Em 1955, se formou em Botânica na Florida State University e ali mesmo aprendeu a mergulhar. Completou seu Doutorado em 1966, durante esse período, conseguiu coletar mais de 20 mil amostras de algas no Golfo do México. Já em 1968 descobriu dunas submersas durante uma exploração científica na costa das Bahamas.

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Sylvia Earle liderou inúmeras expedições oceanográficas em uma época em que as mulheres ainda eram vozes longínquas da ciência. Mas foi em 1970 que pode liderar um grupo de aquanautas mulheres do projeto Tektite II. O objetivo dessa exploração era observar os reinos marinhos e os efeitos sobre a saúde de viver por longos períodos em estruturas submarinas. Para tanto, ficaram submersas há 15 metros de profundidade nas proximidades das Ilhas Virgens e estudaram os efeitos da poluição sobre os recifes de corais em aparelhos conhecidos como SCUBA. Também no mergulho submerso de grandes profundidades é recordista mundial em mergulho profundo autônomo.
Sem dúvida, Sylvia Earle é uma grande voz que ecoa nos oceanos fazendo as mulheres conquistarem espaços nas ciências do mar.

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Simone Melchior Cousteau
Em uma época completamente hostil para a humanidade, Simone encontrou no mar motivos para viver e ter uma família. Casou-se com Jacques Cousteau quando tinha apenas 17 anos, fazendo dela a companheira de pesquisas fundamental para Jacques em suas missões pelo mundo afora. Apresentando Cousteau a um engenheiro e se tornando ela uma co-inventora do Aqualung, foi a primeira mulher mergulhadora autônoma. A década de 1960, foi o começo dessa jornada de pesquisas submarinas para essa grande mulher. Simone também foi a única mulher a bordo do navio Calypso, sendo ela conhecida como “A Pastora” pelo seu jeito de liderar e guiar toda a tripulação.

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Apesar de não ser uma diplomada em ciências do mar, Simone Melchior Cousteau dedicou sua vida em função dos oceanos. Em um tempo quando os homens guerreavam entre si e hostilizavam as mulheres, Simone encontrou em Jacques Cousteau a oportunidade de ter uma família além de seguir seu grande sonho de pesquisas marinhas. Uma união perfeita que resultou em milhares de pesquisas, filmes e livros que até hoje são fontes de inspiração para muitos oceanógrafos.

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Hui Huang
Desde 1998, a pesquisadora da academia Chinesa de Oceanologia, com sede em Guangzhou, observou que a os peixes e algas das Ilhas Xisha estavam diminuindo a cada ano que se passava. Foi então, que Huang descobriu que a causa dessa diminuição era por conta da morte de inúmeros recifes de corais da região. Essa diminuição foi atribuída ao aquecimento global e às mudanças climáticas.

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Um desafio foi lançado pelas mãos dessa pesquisadora: impedir o desaparecimento da biodiversidade das ilhas, e isso só poderia acontecer com o renascimento dos recifes de corais. Huang e sua equipe dedicaram mais de 20 anos no cultivo e replantio dos recifes de corais naquela região. Foram mais de 200 metros quadrados de recifes de corais cultivados, salvando assim todo o ecossistema das Ilhas Xisha. Seu trabalho ficou conhecido no mundo todo e sendo exemplo para muitas outras pesquisas nessa área, como uma esperança de mudar o quadro global atual de degradação dos recifes de corais, mundo afora.

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Marta Vannucci
Falar sobre grandes nomes da ciência brasileira e não falar de Marta Vannucci, é ignorar toda a história da oceanografia brasileira. Uma grande cientista que junto com o Prof. Wladimir Besnard, fundaram o Instituto de Oceanografia da Universidade de São Paulo- IOUSP. Durante a sua coordenação no IOUSP, Marta trouxe inovação e recursos. Além de um prédio totalmente dedicado a Oceanografia, também promoveu a negociação do navio de pesquisa Prof. Wladimir Besnard. Em 1969 a UNESCO lhe convidou para dois cargos, um na França e outro na Índia. Indo contra o óbvio, Vannucci preferiu ir para a Índia e lá trabalhou por dois anos. A seguir foi convidada para pesquisar plânctons no México na Universidad Nacional Autónoma de México e em 1974 voltou para a Índia.

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Ao voltar para o Brasil, Marta dedicou-se a pesquisa sobre Manguezais em conjunto com diversos pesquisadores. Sempre que podia, Marta coletava materiais para suas pesquisas no Instituto de Oceanografia, e com os resultados dessas análises ela publicava artigos como “Notas biológicas: II. Sobre Embletonia mediterrânea (Costa), e em Cananéia”. Esses trabalhos publicados são referências internacionais até hoje. Marta Vannucci teve seu apogeu científico no Brasil em momento em que o país estava mais hostil e perigoso para as mulheres. Uma inspiração de coragem e intrepidez para muitas cientistas brasileiras.

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Yara Schaeffer Novelly
Doutora em Ciências, Bacharel e Licenciada em História Natural pela Universidade do Brasil em 1965, essa carioca raiz é uma especialista em Manguezais. Seu amor pelos mangues começou quando seu pai a levava para passear de barco nas ilhas da Baia de Guanabara. No Instituto de Oceanografia da USP, montou para os alunos um laboratório de Manguezais (Bioma). Sua vida é dedicada a mostrar aos alunos e a comunidade oceanográfica a beleza e importância dos manguezais. A biodiversidade desse ecossistema é fundamental, não somente para os oceanos, como também para o continente. Onde muitos costumavam ver apenas o lamaçal, Yara viu um berçário de animais marinhos e a peculiaridade das árvores nesse bioma. Foi em 1976 ao participar de um simpósio em El Salvador que percebeu que no Brasil os manguezais eram pouco estudados e que ainda havia muito a ser realizado nessa área.

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Yara Schaeffer foi corajosa o suficiente para desafiar grandes tubarões políticos em defesa dos manguezais brasileiros. Em uma época onde as mulheres no Brasil eram silenciadas, Yara usou a ciência para cuidar dos ecossistemas costeiros do nosso país, melhorando as condições litorâneas e mostrando novas formas de pesca sem agressão aos manguezais e aos animais que lá vivem. Ela é a inspiração para muitas oceanógrafas do país e do mundo. Ela mostrou que até os seres menores e de lugares aparentemente improváveis, são importantes para nosso planeta.
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As mulheres possuem um “oceano” de mistérios, força e determinação dentro delas. Por isso nada melhor que uma mulher para entender o mar. Entender o quanto é triste a violação e o desrespeito que o oceano vem sofrendo ao longo dos anos. Assim como o oceano que possui uma vasta diversidade, as mulheres em suas inúmeras facetas conseguem se identificar com essa imensidão azul. Nós do olhar oceanográfico agradecemos a todas as mulheres que se lançaram ao mar e que fazem a diferença no mundo científico. Abrindo portas e inspirando as novas gerações de mulheres cientistas por todo o planeta. Mostrando que o oceano precisa de todas unidas para que ele viva por mais gerações.
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Fonte: https://www.tampabay.com/life-culture/2021/01/13/dunedins-sylvia-earle-is-still-on-mission-to-save-the-oceans/
Escrito por Thais Fonseca Posse
Referências Bibliográficas
EARLE. Sylvia. meioambiente. Sylvia Arerle a dema dos mares. National Geographic. Disponível em: https://www.nationalgeographicbrasil.com/meio-ambiente/sylvia-earle-a-dama-dos-mares. Acesso em 17 de fev.2024
Academia Chinesa de Ciências | CAS · Laboratório Chave CAS de Ecologia e Biorrecursos Marinhos Tropicai. https://www.globaltimes.cn/content/1176341.shtml. Acesso em: 18 de fev.2024
HUANG. Hui. Pesquisadora Chinesa replanta corais. R7 disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=LIdhn3fKx3w. Acesso em: 18 de fev.2024
SIMONE. Melchior Cousteau. Jean Michel Couteau’s. Ocean F tures society. Disponível em: https://www.oceanfutures.org/about/cousteau-family/simone-melchior-cousteau. Acesso em: 19 de fev.2024
MELCHIOR. Simone Cousteau. Jóias do mar. Just The Sea. Disponível em: https://justthesea.com/pt/three-knots/?v=5b61a1b298a0. Acesso em: 19 de fev.2024
VANNUCCI. Marta. A primeira mulher a ser tornar membro da academia brasileira de ciências. ABC. Disponível em: https://www.abc.org.br/2015/03/08/marta-vannucci-a-primeira-mulher-a-se-tornar-membro-da-academia-brasileira-de-ciencias/. Acesso em: 20 de fev.2024
SCHAEFFER. Yara Novelli. No atoleiro do Manguezal. USP. Disponível em: https://www.io.usp.br/index.php/noticias/10-io-na-midia/896-yara-schaeffer-novelli-no-atoleiro-do-manguezal.html. Acesso em: 21 de fev.2024