Baleias: a consciência dos oceanos e a contradição dos países desenvolvidos

Square

Recentemente, várias famílias de baleias Jubarte apareceram no litoral do Brasil, e imagens incríveis desses animais viralizaram.

vídeo da baleia jubarte saltando próxima a uma canoa havaiana
Mapa das rotas de migração das Jubartes
fonte: Época

Esses cetáceos migram até o nosso litoral todos os anos, onde as águas são mais quentes, para se acasalar e no ano seguinte dar a luz aos filhos concebidos. A gestação das Jubartes dura em torno de um ano para coincidir com a migração seguinte. A reprodução ocorre em nosso território pois elas vêm em busca de águas mais agradáveis, diferente das águas das proximidades da Antártida, onde esses animais normalmente habitam. E agora está ficando mais fácil encontrar baleias por aqui, pois suas populações estão crescendo cada vez mais. Só nos últimos 30 anos as estimativas passaram de 1000 para mais de 20 mil indivíduos.

O litoral brasileiro é importante na rota da migração das baleias. Durante a primavera e o verâo (6 meses) as baleias do Atlântico Sul se alimentam e reabastecem de energia. As ilhas Geórgia do Sul e Sandwich do Sul são tradicionais áreas de pastejo desses magníficos mamíferos marinhos. A dieta predominante das baleias é o crustáceo semelhante ao camarão denominado krill. Recarregadas de energia através do acúmulo de uma robusta capa de gordura as baleias migram para o norte durante o outono e o inverno fugindo das águas frias.

Mas, por mais que esses animais estejam encantando os brasileiros, eles estão sofrendo em diversas partes do mundo, e a maioria das espécies está diminuindo em número de indivíduos, em um movimento contrário ao nosso. A caça às baleias, iniciada no século XVI em larga escala para a utilização de seu óleo, ossos e barbatanas ainda não acabou, mesmo sendo proibido no último século.

A comissão baleeira internacional proíbe desde 1986 a caça comercial de baleias, pois as populações estavam num ritmo de diminuição alarmante, com risco de se extinguirem. Porém países como Japão, Noruega, Dinamarca e Islândia ainda permitem caçar esses animais com pretextos científicos e culturais. No final de 2018 os japoneses apresentaram uma proposta para revogação da moratória da caça às baleias, porém eles não conseguiram votos suficientes para aceitação da mesma. 

Baleia sendo colocada dentro do navio
fonte: Go Outside

Um dos massacres de baleias mais famosos do mundo ocorre todos os anos nas Ilhas Faroe, Dinamarca. Cerca de 200 indivíduos são mortos todos os verões em sua migração, com o pretexto de manter as tradições dados pelos dinamarqueses. É uma enorme contradição o país com a capital mais sustentável da Europa ter um dos maiores índices de mortalidade de cetáceos do mundo.

Massacre de baleias nas Ilhas Faroe
fonte: Vírgula

A contradição se torna maior ainda quando analisamos a Noruega. É o país que mais mata baleias em todo o planeta. O paradoxo é que esse mesmo tem investimentos altíssimos em sustentabilidade, com exemplos marcantes principalmente na área de resíduos plásticos e petróleo. Os noruegueses reciclam 99% do plástico que produzem, com a diminuição gradual do imposto ambiental da empresa de acordo com a quantidade de resíduos reciclada. Quanto ao petróleo, as iniciativas são enormes também. O plano do governo prevê a extinção de carros movidos por combustíveis fósseis no país até 2025. Mas isso não anula a crueldade que atinge os cetáceos, que correm grandes riscos.

As baleias mesmo povoando grande parte do oceano contam apenas com 13 espécies. Dentre essas, 4 estão em extinção, sendo a Franca do Norte a mais afetada, com apenas 320 exemplares restantes. E as outras 9 espécies continuam ameaçadas. Isso porque as populações não se recuperaram das perdas para a caça antes da proibição. Os números são devastadores, sendo 1961 o ano com mais mortes – cerca de 70 mil indivíduos. A proibição da caça precisa continuar por muitos anos para dar chance para as espécies se recuperarem, assim como a conscientização da importância da preservação. “Salvem as baleias!” como diria a campanha de preservação do Greenpeace, que deu fama ao movimento de proteção dos cetáceos. Uma das principais ações decorrentes do movimento foi a aprovação da moratória da caça às baleias.

Baleia Franca, espécie com menor número de indivíduos.
fonte: Toda Matéria

A maior presença das baleias no litoral brasileiro representa a consciência da defesa e da proteção dos oceanos. Que a sociedade brasileira persiga sempre esse ideal.

Paula Charnaux

Fontes:
WWF
BBC
El País
O Globo
Abril

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *