Historicamente todos os seres vivos têm se dispersado por todas as regiões do planeta, seja por migração ou por processos naturais. Entretanto com a intervenção do homem, as espécies têm se espalhado muito mais rápido e para lugares cada vez mais distantes do seu habitat natural. As espécies exóticas, sejam elas terrestres ou aquáticas, existem em todas as partes do globo.
A denominação “espécie exótica” é designada àquela que se encontra fora da sua área natural de distribuição, podendo ter sido introduzida pelo homem (intencional ou acidentalmente) ou não. Geralmente, elas não conseguem permanecer nessas novas regiões, pois não conseguem se adaptar ao lugar e com isso não são capazes de suprir suas necessidades vitais. Porém, uma pequena porcentagem dessas espécies acaba conseguindo se estabelecer neste novo local e passa a ser considerada “invasora”. Dessa forma, começam a possuir vantagens competitivas e se favorecem no ambiente por não possuírem inimigos naturais, além de se multiplicar rapidamente e, consequentemente, dominar esse ecossistema. Um exemplo é a Antártica que mesmo sendo um dos lugares mais inóspitos do mundo e possuir difícil acesso, já se estima que possua cerca de 200 tipos de organismos, dentre animais, micróbios e plantas, vindos de outros continentes.
Considerada o segundo maior tipo de ameaça aos animais e plantas nativos, perdendo apenas para destruição dos habitats (desmatamento, queimadas, etc), as espécies invasoras provocam extinção dos seres nativos da região em que se instalaram de uma maneira milhares de vezes mais rápida do que o habitual. Acredita-se que, aproximadamente, cerca de 3 mil espécies marinhas “pegam carona” todos os dias na água de lastro (forma não intencional) que é uma técnica usada para manter a estabilidade e a integridade estrutural de grandes navios cargueiros.
Aqui no Brasil, temos diversos exemplos de espécies aquáticas exóticas invasoras que foram introduzidas em nosso território. Abaixo, listamos algumas.
Peixe-Leão
Originário da região de confluência dos oceanos Pacífico e Índico, o primeiro peixe-leão avistado no oceano Atlântico foi há 30 anos e desde então invadiu praticamente toda a costa leste do continente Americano.
Uma das hipóteses é que este animal tenha chegado ao Atlântico através do tanque de lastro dos navios. Outra hipótese também é que algumas espécies tenham escapado de um aquário na Flórida após a passagem do furacão Andrew, em 1992.
Por não possuírem um predador natural no oceano Atlântico e se adaptarem facilmente a qualquer clima e ambiente, este animal acaba dizimando várias espécies nativas por onde passam. Tem um apetite muito voraz, onde seu estômago pode comportar entre 50 e 60 peixes pequenos.
As espécies invasoras de peixe-leão se reproduzem com extrema rapidez. Estima-se que cada fêmea possa colocar cerca de 2 milhões de ovos anualmente e desovar a cada 4 dias, aumentando de forma assustadora a população deste animal.
Segundo cientistas, somente a partir de 2005 que o peixe-leão passou a ser considerada a espécie marinha invasora mais numerosa no mundo. O maior desafio é que pesquisadores ainda não descobriram como detê-los e reverter essa situação. A forma mais divulgada para o controle da espécie é através da caça.
Coral-Sol
Com sua origem na região ocidental do oceano pacífico, o Coral-sol é considerado um dos mais comercializados do mundo. Encontrado pela primeira vez nas décadas de 1980 e 1990, no Litoral do Rio de Janeiro, a espécie tem se espalhado rapidamente pela região costeira brasileira e causado prejuízos. Acredita-se que esta espécie tenha sido introduzida na costa do país através da água de lastro de navios cargueiros.
Por não possuir um predador natural no Brasil e ter uma taxa de reprodução de duas a três vezes maiores que as espécies nativas, onde cada colônia pode liberar cerca de 5 mil larvas, a população de Coral-sol tem aumentado rapidamente. Com isso, ocupam o espaço de outras espécies de corais que venham a se fixar nas rochas, inclusive as oriundas do local. Essa situação acaba reduzindo a quantidade de espécies de peixes nesses habitats, diminuindo a vida marinha local.
O maior medo dos pesquisadores é que este animal afete grandes pontos de diversidade de corais, como Abrolhos, por exemplo, dizimando assim toda a fauna nativa.
Mexilhão-Dourado
O mexilhão-dourado é um molusco de água doce que acabou sendo introduzido no Brasil, na década de 90, por meio de água de lastro dos navios que vinham da Argentina. Originário da China, esta espécie se encontra atualmente em vários países da América do sul. Essa espécie invasora apresenta uma reprodução bem rápida, uma taxa de crescimento populacional alta além de uma grande capacidade de incrustação, podendo se espalhar por grandes áreas em pouco tempo. Por conta disso, tem um grande potencial de alterar de maneira calamitosa os ecossistemas que invadem.
Os prejuízos que este animal traz são devastadores e podem estar ligado à economia, meio ambiente e saúde humana. Algumas das consequências negativas relacionadas à espécie são as obstruções de tubulações de captação de água potável, danos a motores, obstrução de filtros e sistemas industriais de usinas hidrelétricas.
Por não possuir um predador natural nas águas brasileiras e encontrar um ambiente favorável a sua adaptação, o mexilhão dourado consome parte dos alimentos disponíveis para os mexilhões nativos. Ele também acaba contribuindo para a mortandade de peixes que não conseguem digeri-los e também de moluscos, pois os mexilhões se fixam em suas superfícies e acabam sendo impedidos de se locomover, defender ou até mesmo de se alimentar.
Tilápia-do-Nilo
Espécie originária do Egito, da região do rio Nilo, conhecida como tilápia-do-Nilo, foi introduzida no Brasil no século XX e também em alguns países com água tropical. Por possuir grande capacidade de reprodução e se alimentar de plantas e outros animais, a tilápia-do-nilo é um peixe que tem grande histórico de extinção de espécies, principalmente as nativas, no local em que é introduzida. Tem a fama de alterarem o pH e o nível de oxigênio da água. Além disso, a tilápia pode causar erosão, pois tem como hábito reprodutivo a escavação de buracos nas bordas dos lagos e rios.
Com a globalização cada vez mais crescente, facilidade e rapidez dos meios de locomoção, as espécies têm sido introduzidas com uma facilidade cada vez maior nos ecossistemas. Os custos com medidas de prevenção, controle e erradicação de espécies exóticas invasoras mostram que há danos bastante significativos para a economia e meio ambiente. Neste cenário, realizaram-se diversos levantamentos nos Estados Unidos da América, Reino Unido, Austrália, África do Sul, Índia e Brasil que confirmam os prejuízos econômicos anuais em razão das invasões biológicas nas lavouras, pastagens e nas áreas de florestas. Esses prejuízos chegam facilmente a casa dos bilhões de dólares.
Para combater as espécies invasoras existem três abordagens internacionais a serem seguidas. A primeira delas é prevenção para impedir que esses animais exóticos entrem no novo habitat. A segunda é a detecção antecipada e uma rápida ação para erradicação. A terceira e última abordagem é a gestão para conduzir as ações e minimizar os danos causados pela invasão do animal.
Um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU para este ano de 2020 é implementar medidas para evitar a introdução e reduzir significativamente o impacto de espécies exóticas invasoras em ecossistemas terrestres e aquáticos, e controlar ou erradicar as espécies prioritárias (ODS 15.8).
O Ministério do Meio Ambiente, por meio do Departamento de Conservação e Manejo de Espécies, atua na formulação e definição de políticas, normas, iniciativas e estratégias destinadas à prevenção da introdução e ao controle das espécies exóticas invasoras que ameacem os ecossistemas, habitat ou espécies nativas. Dessa forma, tenta garantir um maior controle para que o ecossistema nativo não saia prejudicado e o ecossistema continue em equilíbrio.
Escrito por: Rafael Dias
REFERÊNCIAS
Informe sobre as espécies exóticas invasoras marinhas no Brasil / Ministério do Meio Ambiente; Rubens M. Lopes/IO-USP… [et al.], Editor. – Brasília: MMA/SBF, 2009. 440 p.; il. color. (Série Biodiversidade, 33)
https://www.mma.gov.br/biodiversidade/conservacao-de-especies/especies-exoticas-invasoras.html
ESPÍNOLA, Luis A.; JÚLIO, Horácio Ferreira. Espécies invasoras: conceitos, modelos e atributos. Interciencia, v. 32, n. 9, p. 580-585, 2007.
SOUZA, Rosa Cristina Corrêa Luz de; CALAZANS, Sálvio Henrique; SILVA, Edson Pereira. Impacto das espécies invasoras no ambiente aquático. Ciência e cultura, v. 61, n. 1, p. 35-41, 2009.
https://super.abril.com.br/ciencia/especies-invasoras/
http://peixevivocemig.blogspot.com/2012/06/peixes-especies-exoticas-invasoras.html
https://www.educamundo.com.br/blog/especies-exoticas-invasoras