Como enfrentar os eventos extremos no litoral 

O litoral fluminense, conhecido por suas belas praias e rica biodiversidade marinha, enfrenta desafios significativos relacionados às mudanças climáticas. Esse fenômeno tem contribuído para a recorrência e o agravamento de cenários extremos de mar, como ressacas, tempestades, marés altas, aumento do nível do mar, erosão costeira e outros fenômenos, que ameaçam não apenas o meio ambiente, mas também as comunidades que habitam essa região. O cenário se torna ainda mais agressivo se considerarmos o risco da combinação ou sobreposição de dois ou mais eventos concomitantemente.

As cidades costeiras no Brasil abrigam cerca de 60% do total da população, podendo aumentar ainda mais nas próximas décadas. No estado do Rio de Janeiro, essa realidade não é diferente, com uma significativa parcela da população vivendo em áreas litorâneas. Esta concentração populacional nas proximidades do mar ressalta a importância de compreender e abordar os cenários extremos que afetam o litoral fluminense.  

As zonas costeiras são vitais para a economia e principalmente para o turismo das cidades litorâneas. É nítida a percepção social de que o litoral urbanizado está cada vez mais exposto a riscos associados à elevação do nível do mar, tempestades e erosão, que podem resultar em danos à infraestrutura, impactos socioeconômicos significativos e até perdas humanas. A insegurança social é crescente e novas propostas de gerenciamento costeiro devem ser desenvolvidas dentro do conceito da prevenção e da adaptação das cidades para os novos cenários climáticos e oceanográficos. 

Um exemplo recente aconteceu em novembro de 2023, as praias da zona sul do município do Rio de Janeiro foram impactadas por uma ressaca significativa, causando transtornos e danos à infraestrutura local. Entende-se como ressaca significativa todo evento oceânico de proporção suficiente que cause algum transtorno para as cidades costeiras. Desde erosão de praia, perdas de vidas ou mesmo interrupção de vias públicas devido a invasão de águas do mar. A combinação da elevação do nível do mar com as ondas violentas, pode propiciar o acesso da agressividade do mar às zonas urbanas debruçadas nas praias. Além de atrapalhar o trânsito e comprometer a mobilidade urbana, a ressaca também causou danos aos quiosques e estruturas ao longo da praia, evidenciando a vulnerabilidade das áreas costeiras do Rio de Janeiro frente aos cenários extremos de mar.  

A percepção de insegurança social tem se espalhado e firmado perante a opinião pública. Sem iniciativas tangíveis perante os olhos da sociedade a tendência será a depreciação econômica da orla oceânica de vários municípios em função dos riscos de erosão costeira. Estes episódios servem de alertas sobre a necessidade de medidas de monitoramento, adaptação e um planejamento urbano preventivo para enfrentar os impactos dos eventos extremos decorrentes das mudanças climáticas.  

O início do processo se dá pelo reconhecimento da evolução das ressacas através de programas de monitoramento costeiro. Sem um planejamento e a contínua manutenção da coleta de informações sobre a frequência, intensidade e impactos das ressacas que se abatem no litoral estaremos navegando sem bússola e rumo. 

Visto que o litoral fluminense vem sofrendo cada vez mais com os eventos em questão, é necessário desenvolver ações para mitigar os impactos das ressacas e da elevação do nível do mar. Para reduzir a vulnerabilidade costeira e administrar os desafios dos cenários extremos de mar, como a ressaca significativa mencionada anteriormente nas praias da zona sul do Rio de Janeiro, é essencial adotar medidas de adaptação e de gestão costeira inovadora.  

Estes mecanismos visam minimizar os riscos e mitigar os impactos causados pelos eventos extremos, levando em consideração as características naturais da região, as limitações das comunidades costeiras e a progressão das ameaças climáticas. A gestão costeira pode incluir a preservação das áreas naturais aproveitando-se da resiliência natural oferecida, a construção de barreiras de proteção contra as ondas do mar (segregação da área exposta), a implementação de sistemas de drenagem adequados (acelerar o escoamento das águas invasoras), o estabelecimento de áreas de refúgio em caso de emergências e a conscientização da população sobre os riscos (medidas de contingência), além de medidas preventivas (planejamento urbano), dentre outras ações. 

Diante dos riscos apresentados pelos cenários extremos de mar e pelas mudanças climáticas, a sociedade desempenha um papel crucial na prevenção e na mitigação dos riscos de acidentes naturais. A sua participação efetiva reduz significativamente os riscos de impactos ainda mais extensos. Além disso, a integração de esforços entre governos, comunidades locais, setor privado e organizações não governamentais é essencial para o desenvolvimento e a implementação de políticas públicas e estratégias de adaptação eficazes. A participação ativa da sociedade em programas de monitoramento costeiro, campanhas de educação ambiental e projetos de restauração e conservação de ecossistemas costeiros, são medidas que podem contribuir significativamente para reduzir a vulnerabilidade costeira e melhorar a resiliência das comunidades frente aos eventos naturais como é o caso do litoral do Rio de Janeiro. 

As mudanças climáticas proporcionam mudanças nos cenários extremos. As cidades costeiras do Brasil não estão devidamente preparadas para enfrentar as novas ameaças oceânicas. É urgente a necessidade do desenvolvimento de novos conhecimentos, técnicas e recursos humanos para adaptar as cidades para essa nova realidade climática. 

Escrito por Bruno Braga

Referências Bibliográficas

DE AGUIAR, Thaís Morais Corrêa Borges; ERVATTI, Manuela. Vulnerabilidade costeira frente a mudanças climáticas e políticas públicas na cidade do Rio de Janeiro: estamos prontos?. Novos Cadernos NAEA, v. 23, n. 2, 2020. 

ROCHA, C.; ANTUNES, C.; CATITA, C. Estudo e Análise da Vulnerabilidade Costeira face a cenários de subida do nível médio do mar devido às alterações climáticas.