O grande Atlântico é um oceano cheio de mistério e histórias. Foi também a principal rota marítima no período colonial possibilitando a descoberta e o comércio com novo continente. É também a rota por onde mais se criaram estórias, mistérios e perguntas, mas que ao longo dos tempos foram aos poucos sendo desvendados. Suas belezas são imensuráveis, porém encontram-se ameaçadas pela falta de estudos e de controle dos limites. Suas riquezas naturais são muitas, entretanto muitas foram dizimadas ao longo da história. A continuar nesse ritmo em pouco tempo perderemos inúmeros serviços ambientais marinhos que ainda conseguem manter o equilíbrio do planeta.
A formação do Oceano Atlântico não aconteceu de forma rápida, mas como tudo na natureza demandou milhões de anos. Há cerca de 270 milhões de anos na era Paleozoica, havia apenas um grande continente emerso chamado de Pangeia cercada de água. Pouco a pouco esse continente foi se partindo em função do movimento das placas tectônicas. No período Triássico (251 a 100 M.a.) que começou a separação e o surgimento de dois mega continentes, Laurasia e Gondwana. Já no fim do período Cetáceo e início do Cenozóico que os continentes foram tomando na forma como se apresentam atualmente.
Foi na época Pliocénico (5,2 Milhões de anos a 11 mil anos atrás) que ocorreu a união das Américas com o surgimento do Istmo do Panamá. Depois dessa separação, os continentes foram aos poucos tomando a forma que são hoje promovendo assim a formação do Oceano Atlântico da época atual.
Também a origem da vida na Terra, iniciou nos oceanos. No Oceano Atlântico foi uma tarefa muito demorada. Para chegar ao nível atual de variedades de espécies marinhas muitas transformações aconteceram.
Portanto ao longo dos milhões de anos e com o movimento das placas tectônicas a bacia do Oceano Atlântico foi se formando assim como o movimento de suas águas. Na superfície dos oceanos, a radiação solar mais aquecia as águas da região tropical. Tal fenômeno impulsionava o movimento das correntes superficiais de águas quentes em direção aos polos para espalhar o calor acumulado.
Enquanto isso as águas frias dos polos por serem mais densas mergulhavam e percorriam pelo fundo dos oceanos. Portanto as correntes marinhas de profundidade e frias se originam nos polos. Por outro lado, as correntes superficiais e quentes se originam dos trópicos e espalham o calor em direção aos polos. Graças a circulação e a mistura das águas provocadas pelas correntes ocorrem as trocas de energia favorecendo o equilíbrio e a vida no planeta. Todo esse processo no Atlântico foi moldado por demoradas eras geológicas e hoje encontram-se ameaçadas pelas mudanças climáticas.
Outro serviço ambiental das correntes oceânicas profundas e frias é a capacidade de mobilizar depósitos orgânicos sedimentados nas profundezas do oceano para a superfície. Essa mobilização renova o estoque de nutrientes nas camadas d’água superiores propiciando o surgimento de uma imensa diversidade e quantidade de fito e zooplâncton. Esses organismos microscópicos não têm em mobilidade própria e constituem o elo primário de toda cadeia alimentar (trófica) e que possibilita a proliferação de inúmeros animais superiores até chegar às baleias.
Através deles forma-se a cadeia sucessória de inúmeros organismos marinhos contribuindo para a diversidade biológica do Oceano Atlântico. O fitoplâncton também é o maior produtor de oxigênio do planeta através da fotossíntese. Desta forma, as correntes, além de promover a proliferação da vida marinha nos oceanos distribuem o calor absorvido nos trópicos para as regiões polares mantendo assim o equilíbrio térmico do planeta. Percebe-se nesses detalhes o inestimável serviço ambiental que o Oceano Atlântico fornece para a manutenção do homem neste planeta de equilíbrio frágil.
Entretanto a falsa percepção da abundância dos recursos marinhos nos primórdios da civilização humana tornou o homem descuidado quanto aos cuidados necessários para se manter a continuidade dos benefícios oferecidos. A falta de conhecimento e o crescimento das demandas em função do aumento da população humana põem em risco a manutenção da oferta dos recursos marinhos. Essa tendência nociva afeta a evolução saudável do Oceano Atlântico. Assim tornamos o maior predador dos mares.
A colonização nas Américas e na costa africana, não só trouxe impacto para os continentes, mas também para o mar. O aumento da captura de animais marinhos se desenvolveu desde então. Muitas espécies foram extintas no século XVI. Muitos mitos de monstros marinhos também fizeram com que baleias e polvos fossem caçados de maneira excessiva pelos marinheiros. A continuar nessa progressão, apesar da imensidão do Oceano Atlântico, este não conseguirá se manter equilibrado já nas próximas décadas, principalmente em suas áreas costeiras.
Com o passar dos séculos e a evolução da tecnologia, a moléstia do homem para com o oceano mudou de forma. Agora a poluição dos rejeitos das grandes cidades costeiras e dos rios que nela desembocam, levando esgotos e plásticos, são as principais inimigas dos mares. A exploração e o transporte do petróleo em alto mar sem os devidos cuidados, com risco de vazamento, trazem enormes impactos no Oceano Atlântico. Muitos animais ficam ameaçados de morte pela intoxicação de poluentes químicos. Da mesma forma, as manchas de óleo que chegam ao litoral contaminam as praias e devastam os berçários do mar que são as baias e os estuários.
A ameaça real e contrária a evolução da qualidade dos oceanos é o despejo de lixo e plásticos nos rios, e espelhos d’água costeiros. O plástico pela sua alta resistência e baixa densidade acarretam seu acúmulo e flutuação, sendo facilmente transportado para inúmeras localidades do Oceano Atlântico. A sua presença, livre na natureza, faz com que inúmeros animais e peixes corram risco de ficar presos e mortos em redes velhas abandonadas. As tartarugas marinhas confundem sacos plásticos com seu alimento predileto, as águas vivas, e morram engasgadas ao ingerir.
O Oceano Atlântico não só é um “Titan” em seu nome, mas também em sua biodiversidade. Abrigando e mantendo inúmeros seres marinhos fundamentais para a saúde do nosso planeta. O Oceano Atlântico é fonte de inspirações de contos e poemas, mas também é um gigante que precisa ser protegido. Devido à falta de conhecimento e da maneira como podemos interagir de forma amigável com os oceanos, o Oceano Atlântico ainda tem um futuro incerto e ameaçado.
Escrito por: Thais F. Posse
Referências:
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