A Bomba Relógio Lagunar

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Escrito por David Zee/ Editado por Gabriela Lima

O Complexo Lagunar da Baixada de Jacarepaguá compreende 5 lagoas (Tijuca, Camorim, Jacarepaguá, Lagoinha e Marapendi) com área molhada de 13 km² e ocupando 10% desta baixada costeira.

No seu estado natural, era uma área de acúmulo de águas (vargens) na estação úmida (verão). Contudo, foi escolhida como área de expansão urbana da cidade do Rio de Janeiro e como tal, deveria ser “enxugada” com canais artificiais (Sernambetiba, Cortado, Portelo, Marapendi) para que pudesse ser ocupada. Na década de 1960 foram escavados inúmeros canais e implantadas as vias de acesso (Américas/Ayrton Senna) para viabilizar a sua urbanização.

Hoje as obras são apenas inauguradas e ficam esquecidas quanto a sua manutenção. Desta forma os canais ficaram assoreados por falta de cuidado, prejudicando as trocas hídricas (estagnação das águas), além de promover o acúmulo de poluentes lançados nestas lagoas. Assim, parece que o destino dos espelhos d’água cariocas, como é o caso das lagoas da Barra e da Baía de Guanabara, é ser apenas o local de lançamento de resíduos. Esquecemos que existem inúmeros outros usos mais nobres como a pesca, o transporte hidroviário, o lazer, a contemplação e o esporte náutico.

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Lagoa na Barra da Tijuca, tomada por esgoto. Fonte: Projeto Olho Verde, do Biólogo Mario Moscatelli.

Há algum tempo atrás apenas reclamações eram feitas com falta de soluções. Hoje existem soluções propostas, como a dragagem (remoção do acúmulo de material orgânico no fundo das lagoas) e as unidades de tratamento de rios -UTR- para estancar o acesso da poluição. Infelizmente a obstacularização legal e burocrática somada à falta de prioridade da questão ambiental impedem a conservação destes ecossistemas hídricos.

Em não mais que 10 anos, a continuar este tipo de encaminhamento, estaremos habitando uma terra arrasada com espelhos d’água sem vida e pútridas. A desvalorização dos imóveis e a crescente ameaça à saúde pública serão a tônica da falta de qualidade de vida.

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Poluição na Lagoa de Marapendi. Fonte: Projeto Olho Verde, do Biólogo Mário Moscatelli

Na véspera do dia mundial do meio ambiente (5 de junho), mais uma manifestação da sociedade organizada foi realizada para alertar aos governantes, no quebra-mar da Barra. Cariocas que amam esta cidade novamente expressam a sua indignação com o estado lastimável das lagoas da Barra.

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Manifestantes no quebra-mar da Barra. Fonte: David Zee.

David Zee

glossário:
assoreamento: acúmulo de sedimentos (terra, areia, argila, …) em corpos d´água como rios, lagoas, baías, etc.

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