As águas-vivas, também conhecidas como medusas, são criaturas marinhas fascinantes que pertencem ao filo Cnidaria e à classe Scyphozoa. Elas são animais gelatinosos, em sua maioria transparentes, com corpos em forma de sino e tentáculos que podem variar em número e comprimento. Encontradas em todos os oceanos do mundo, as águas-vivas desempenham papéis importantes nos ecossistemas marinhos como predadores de pequenos organismos e como presas para outros animais marinhos.
Entretanto, algumas espécies de águas-vivas possuem células especializadas chamadas cnidócitos, que liberam toxinas venenosas quando em contato com sua presa ou com humanos, representando assim um risco para banhistas e pescadores. Por causa da sua diversidade de espécies e beleza incomum, as águas-vivas despertam interesse tanto em cientistas quanto no público em geral, contribuindo para estudos sobre biologia marinha, conservação e até mesmo inspirando obras de arte e design.
As condições decorrentes das mudanças climáticas, como o aquecimento dos mares, acidificação dos oceanos, aumento do número de plânctons e o esgotamento de oxigênio por eventos de eutrofização, podem ser situações oportunas para a explosão da população bem como o espalhamento geográfico da água-viva. A sobrepesca interfere na remoção dos principais predadores (atum vermelho, tartarugas marinhas) e competidores, permitindo assim que certas populações de águas-vivas se desenvolvam com mais facilidade.
Na época de verão e primavera, é normal ocorrer um elevado número de águas-vivas pelo fato de algumas estarem em seu período de reprodução. Tal cenário ocorre no nosso litoral porque quando se intensifica a corrente das águas quentes do Norte no Brasil e aquece o mar nas regiões Sul e Sudeste, diversas águas-vivas se espalham chegando até a costa.
As águas-vivas são bem conhecidas pelo alto número de pessoas que são queimadas pelos seus filamentos. Apesar de terem o filamento que libera a toxina que “queima” os humanos, nem todas as águas vivas possuem o mesmo grau de toxidade. Por exemplo, água-viva-ovo-frito ou água-viva do Mediterrâneo tem um tamanho médio que oscila entre 20 e 40 cm de comprimento. Seu nome popular é atribuído à semelhança que possui com um ovo frito quando é observada de cima. A toxidade desta espécie de água-viva é muito leve, inclusive pode ser imperceptível se alguma pessoa tiver contato com ela, pois não é perigosa.
Outro exemplo é a medusa-da-lua, espécie de água-viva com diâmetro de 20-40 cm, reconhecida por sua beleza e transparência. Seus órgãos sexuais em forma de ferradura a distinguem de outras espécies. Embora seja considerada inofensiva para os seres humanos, é importante tomar cuidado, pois sua semelhança com outras espécies tóxicas pode levar a confusões e acidentes.
A água-viva-leite com tamanho máximo de 20 cm, tem capacidade de intoxicação leve a moderada. Esta é comum aparecer no início do verão no litoral desde Santa Catarina até o Uruguai. Trata-se de uma das principais causadoras de acidentes na costa brasileira. Pode ter uma coloração diversa, desde rosada, roxa, leitosa ou com polígonos vermelhos. Possui longos e finos tentáculos saindo de sua borda e extensões foliáceas bem como do centro do seu corpo.
Águas-vivas com grande toxidade podem causar sérias queimaduras, levando inclusive, a uma parada cardio-respiratória. Um exemplo é a Physalia physalis, mais conhecida como Caravela Portuguesa. Ela possui um flutuador roxo-azulado com formato de bexiga, que funciona como uma vela induzindo o arraste pelo vento, bem como tentáculos muito longos. Sua presença é mais comum no Nordeste e Sudeste do Brasil. Porém acontecem também grandes encalhes no verão em praias do Rio Grande do Sul. Suas lesões são muito dolorosas e causam linhas vermelhas bem características.
A proliferação de águas-vivas também afeta as economias costeiras e a saúde pública por infestar os destinos turísticos populares. Quando há acidentes com água-viva, a chance de outras pessoas também serem atingidas é bastante alta. Geralmente elas andam em grupo no mar, ou seja, sempre que há um acidente é necessário que afastem todas as pessoas próximas do local.
As precauções para quando alguém é queimado por água viva é que se lave com vinagre ou água do mar. Nunca lave com água doce pois ela poderá estimular quimicamente (por osmose) os outros nematocistos grudados na pele da vítima a liberar mais toxinas e piorar ainda mais a ferida.
Para saber mais sobre ferimentos causados por animais marinhos, leia estes artigos do Olhar Oceanográfico: https://olharoceanografico.com/agua-v iva/ e https://olharoceanografico.com/cuidado-com-os-animais-peconhentos-nas-praias/
Torna-se assim de extrema importância a difusão do ensinamento sobre os possíveis animais marinhos peçonhentos que possam vir a aparecer em um passeio na praia. Portanto, ao nadar ou passear pela praia, é aconselhável permanecer atento às águas-vivas e evitar tocá-las, mesmo que pareçam inofensivas. Se avistar uma água-viva na areia é recomendável manter uma distância segura e notificar as autoridades locais para garantir a segurança de todos os frequentadores da praia. Além disso, ao praticar atividades aquáticas, como mergulho, snorkeling ou surfing, utilizar roupas adequadas e equipamentos de proteção que possam ajudar a reduzir o risco de acidentes com as águas-vivas. Ao tomar essas precauções simples, podemos desfrutar melhor da beleza do mar, preservando a maravilhosa experiência de estar na praia.
Escrito por: Agnnes Marie Pereira Coelho de Carvalho
Referências Bibliográficas
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DAMIÃO, A. O.; DAMIÃO, A. O.; COSTA, P. T. S. IDENTIFICAÇÃO DE SINTOMAS E TRATAMENTOS RELACIONADOS A ACIDENTES PROVOCADOS POR CNIDÁRIOS URTICANTES. Disponível em: <http://ri.ucsal.br:8080/jspui/bitstream/prefix/3842/1/Identifica%C3%A7%C3%A3o%20de%20sintomas%20e%20tratamentos%20relacionados%20a%20acidentes%20provocados%20por%20cnid%C3%A1rios%20urticantes.PDF>. Acesso em: 23 mar. 2024.
Disponível em: <https://safesea.com.br/blog/aguas-vivas-no-nordeste/nordeste-descubra-a-epoca-mais-propicia-para-as-aguas-vivas/>. Acesso em: 23 mar. 2024b.