Baía de Guanabara: berçário ou cenário de destruição?

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O nome Guanabara, historicamente, provém dos índios tamoios, que deram esse nome porque significa “seio de onde brota o mar”. Curioso imaginar que com esse nome estima-se que a baía receba cerca de 18 mil litros de esgoto in natura por segundo, devido à carência de saneamento básico.

A baía, mesmo sendo tão famosa e fazendo parte dos principais cenários turísticos da cidade do Rio de Janeiro, sofre todos os dias com a poluição, a qual transformou a região em umas das áreas mais poluídas da costa brasileira.

Baía de Guanabara poluída com vista de um dos principais cartões postais da cidade do Rio de Janeiro. Fonte: https://razoesparaacreditar.com

De acordo com os dados do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), as amostras coletadas do espelho d’água com a qualidade péssima ou ruim tiveram um aumento de 75% até o fim de 2019. Os principais rios e canais que desaguam na baía apresentaram índices de 81% na pior categoria, sendo 43% péssima e 38% ruim. O monitoramento da qualidade é feito através da análise de parâmetros físicos, químicos e biológicos em 15 diferentes localidades.

Mas de onde vem tanta poluição?

O acúmulo progressivo da poluição impede a recuperação desse ecossistema, pois a capacidade de digestão do meio natural é menor que a proporção do volume de lançamento dos poluentes. Diante desse cenário, a irreversibilidade da degradação é uma hipótese a ser considerada. As principais causas e origens desses problemas são as seguintes:

  1. A ocupação desordenada;
  2. O descaso de sucessivos governos com o saneamento básico;
  3. A deficiência na coleta e tratamento de lixo.
Águas contaminadas na região central do Rio de Janeiro. Foto-saneamentobasico.com.br

Na porção noroeste da baía, no rio Roncador, é possível observar uma fileira de canos saindo de pequenas casas, marcando a paisagem local. A região em questão localiza-se em Magé (município do Rio de Janeiro), que até hoje não possui rede de esgoto conectada com estação de tratamento para impedir a entrada in natura de efluentes domésticos e industriais nos inúmeros rios que serpenteiam a região. Infelizmente essa realidade não é apenas do rio Roncador, mas 76% do esgoto recebido pela Baía não possui tratamento.

Do outro lado da baía, as casas nas margens do rio Iguaçu, município de Duque de Caxias, moradores também não possuem seu esgoto tratado e relatam que a rede de esgoto improvisada por eles entope toda vez que a maré sobe ou quando ocorre algum temporal. A consequência é o contato direto dos moradores vulneráveis, com doenças pois as enchentes inundam suas casas com esses dejetos. Tal cenário é acompanhado pela proliferação de ratos e baratas, vetores de doenças.

A falta de saneamento básico, além da precária coleta e tratamento de lixo das áreas urbanas informais potencializam os danos na qualidade hídrica da Baía de Guanabara. Tais zonas informais descartam poluentes em grande escala a céu aberto, que atingem os rios responsáveis pela drenagem de extensas áreas densamente ocupadas e conduzem toda essa imundice para a baía. A dura realidade é que os rios naturais estão mortos e se transformaram em verdadeiros valões condutores de lixo e esgoto para o espelho d’água da Baía de Guanabara. Portanto os rios são os maiores indutores da poluição para a baía.

Rio Roncador poluído. Foto: divulgação/icmbio

Uma vez que os rios são os principais indutores da poluição da Baía de Guanabara, estrategicamente trabalhar na remoção dos efluentes líquidos e sólidos transportados pelos rios facilita em muito a redução do envenenamento da baía. A instalação de Estações de Tratamento de Águas dos Rios nas embocaduras torna- se um importante equipamento de prevenção contra a entrada de poluentes para o corpo d’água da baía. Desta forma é possível dar uma sobrevida para o ambiente. Para que essa medida emergencial mantenha a baía viva é necessário que ocorram investimentos direcionados para a sua instalação e também uma previsão orçamentária para a manutenção do funcionamento dessas estações. Pois, os ganhos econômicos para a sociedade fluminense que esse ecossistema pode prover é maior que o investimento para a sua conservação.

A visão integrada e a gestão de longo prazo são necessárias para todo litoral brasileiro para que esses cenários de degradação sejam erradicados em nossas cidades costeiras. A sociedade precisa estar consciente desse problema e refletir. Os rios são os principais vetores da poluição, uma vez que deságuam em corpos d’água costeiros com todos esses dejetos e resíduos não tratados. Somente com a execução dos cuidados de controle e de gestão costeira para a despoluição a esperança e o uso sustentável podem tornar -se realidade.

Vista para Baía de Guanabara do bondinho Pão de Açúcar.
Foto – Kanhangadvartha

Escrito por: Andressa Dutra

Referências bibliográficas:

ALENCAR, Emanuel. Baía de Guanabara: descaso e resistência. Mórula Editorial, 2021.

www.inea.rj.gov.br

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3 Replies to “Baía de Guanabara: berçário ou cenário de destruição?”

  1. Artigo maravilhoso! Adorei conhecer mais sobre esse assunto, de uma forma bem clara e de fácil entendimento! A autora Andressa Dutra está de parabéns!! 👏👏👏👏

  2. Parabéns pelo artigo! Muito interessante, e necessário.

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