As baleias Jubarte (Megaptera novaeangliae) e Franca (Eubalaena sp.) fazem parte da ordem Cetacea, que pertence à classe dos mamíferos. Essas duas espécies foram as que mais sofreram com as caçadas no Brasil e, nos últimos anos, foi possível observar o crescimento de suas populações.
Desde o período colonial, as caçadas no Brasil tinham o comércio como principal objetivo. Diversas partes das baleias eram aproveitadas no comércio, como por exemplo, as barbatanas, gordura e carne. As barbatanas, que separam o alimento da água, são placas córneas formadas por queratina (sim, a mesma proteína que compõe cabelos e unhas) e, por ser maleável, sua barbatana foi utilizada para construção de diversos utensílios do dia-a-dia da época, como guarda-chuvas e muitos espartilhos. Seu óleo, sua principal e mais procurada característica biológica, foi usado não só para a iluminação, mas também produção de cosméticos e de uso farmacêutico! O óleo foi considerado como um “detóx” do sangue.
A caçada intensiva diminuiu a população das baleias no litoral brasileiro. No caso da baleia-franca, por ser mais lenta, consequentemente de fácil captura, sofreu mais no período da caça e chegou a ser considerada extinta. Como consequência dessa redução, tornou-se mais difícil obter as partes de maior valor comercial das baleias, como as barbatanas e o óleo. Dessa forma, as caçadas foram diminuindo, porque as armações não tinham capital para sustentar os custos dessas operações, basicamente falindo.
Para erradicar de vez com a caçada, José Sarney, presidente do Brasil de 1985 a 1990, mandou suspender a caça em 1985 e, em 1987, foi aprovado pelo congresso da lei federal 7.643, do qual é proibido a caça e molestamento nas águas jurisdicionais brasileiras.
Com o ressurgimento das baleias no litoral brasileiro, os movimentos ativistas em prol da conservação desses animais ficaram cada vez mais intensos. O Projeto Baleia Jubarte, que começou em 1988, contava com uma população de Jubarte estimada em 1.000. Muito diferente da situação atual, que saltou para aproximadamente 25.000 de acordo com o monitoramento aéreo realizado em 2022 pelo Instituto Baleia Jubarte. Este instituto tem o intuito de auxiliar o projeto e é capaz de monitorar cerca de 6,2 mil quilômetros entre a divisa do Ceará com o Rio Grande do Norte até o litoral norte de São Paulo, em busca de aparições desses mamíferos marinhos.
A princípio, a caça intencional aos cetáceos foi cessada, entretanto, de acordo com o jornal e portal de notícias da região metropolitana de Florianópolis, Correio de Santa Catarina, foi noticiado em 2021 a morte acidental de cetáceos que ficaram enrolados nas redes de pesca ilegais e vieram a óbito. A polícia militar ambiental (PMA), que é responsável por combater esses crimes e fiscalizar possíveis infrações contra o meio ambiente, recolheu essas redes ilegais.
Com a ajuda de ONGs e patrocinadores, foi possível não só conservar as espécies, mas estudá-las o suficiente para saber a grande influência desses mamíferos marinhos no ecossistema. Você sabia que as baleias ajudam a regular nosso clima?
Algumas espécies de cetáceos são escolhidas para serem estudadas como sentinelas que, de forma simplificada, são colaboradoras no monitoramento de um ecossistema, devido à utilização de tecnologias capazes de detectar poluentes orgânicos e contaminantes marinhos. O reflexo da poluição que chega aos oceanos pode ser encontrado nesses animais não só no estômago, com restos de lixo ou rede de pesca, mas pode se acumular em seus tecidos, como por exemplo, o mercúrio.
A preservação dos cetáceos é importante não só para manter o equilíbrio do ecossistema (ou para não ser considerada em extinção), mas também para a nossa saúde, pois não há soluções para um problema, como a poluição, caso não saibamos sua dimensão.
Desse modo, é importante que não só haja medidas protetivas nacionais, como também internacionais, para o melhor monitoramento desses belíssimos animais. Assim como é extremamente valoroso que a sociedade brasileira apoie as ONGs nacionais que lutam diariamente em favor da preservação de um ecossistema tão rico como o nosso.
Escrito por Erica F. Dias
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
RICCO, Danilo Augusto. Atividade Baleeira no RJ: causas do fracasso nas épocas colonial e contemporânea.
BUELONI, Fernanda Soares et al. Mudanças temporais na utilização da baleia-franca, Eubalaena, Australis, pelas comunidades locais dos municípios de Imbituba e Garopaba, litoral sul de Santa Catarina, Brasil. 2012.
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Cetáceos | Expo Baleia – Museu Nacional – UFRJ. Cetáceos. Disponível em: https://museunacional.ufrj.br/expobaleia/cetaceos.html#:~:text=Os%20cetáceos%20são%20os%20mamíferos,No%20entanto%2C%20são%20mamíferos
ICMBIO.GOV.BR. Espécies sentinelas: Monitoramento ambiental com base em biomarcadores de efeito cito- e genotóxico. Disponível em: https://revistaeletronica.icmbio.gov.br/cepsul/article/view/2333
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REPOSITÓRIO INSTITUCIONAL UNESP. Impactos ambientais e estratégias para a conservação: ações efetivas podem reverter a exploração dos oceanos?. Disponível em: https://repositorio.unesp.br/handle/11449/217827