CARBONO AZUL e o Dia Mundial dos Oceanos

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O dia Mundial dos Oceanos é comemorado todos os anos no dia 8 de junho. O objetivo da data é relembrar a importância dos mares para a nossa sobrevivência. Além desta data a ONU reiterou a sua relevância ao declarar a Década dos Oceanos (2021-2030) onde a ciência do mar e a sustentabilidade seriam as ferramentas que conduziriam os esforços conjuntos de todos os países do planeta. Da mesma forma as Nações Unidas também instituíram a Década da Restauração dos Ecossistemas (2021-2030) onde a meta seria a redução dos gases do Efeito Estufa pela metade até 2030. Ainda mais que esta redução dependeria da recuperação dos ecossistemas naturais que promovem esses serviços naturais de fixação do carbono livre na natureza. Dentre os inúmeros ecossistemas que contribuem com a redução do carbono na atmosfera os oceanos tem papel de destaque.  Os ecossistemas costeiros são essenciais para um planeta mais equilibrado.

Fonte: Modificado de Howard et al. 2017

Você sabia que 83% do ciclo do carbono global circula pelos oceanos?

Você sabia que a eficiência de retenção do carbono realizado pelos ecossistemas costeiros (manguezais, marismas e bancos de algas) é 10 vezes superior que as florestas tropicais?

O Carbono Azul representa o dióxido de carbono (gás carbônico) removido da atmosfera pelos ecossistemas oceânicos e costeiros. Este fundamental serviço ambiental é realizado pelos manguezais, marismas, banco de algas, recifes de corais, macroalgas calcareas e organismos marinhos que além de absorver o carbono depositam-no no leito submarino na forma de matéria orgânica.

Taxas médias de sequestro de carbono a longo prazo (g C m – 2 ano – 1) em solos em florestas terrestres e sedimentos em ecossistemas costeiros com vegetação. As barras de erro indicam taxas máximas de acumulação. Observe a escala logarítmica do eixo y.
Fonte: Mcleod et al. 2011 

O carbono azul representa uma nova opção economicamente sustentável para a manutenção e principalmente da preservação desses ecossistemas valiosos tanto sob aspecto do equilíbrio ambiental como na qualidade de vida da população costeira. A função de berçário da vida marinha, o acolhimento da biodiversidade e a sua eficácia na fixação do carbono através da enorme capacidade de ciclagem da matéria orgânica tornam esses ecossistemas costeiros extremamente valiosos, no longo prazo, sob o ponto de vista da sobrevivência do homem no planeta. Contudo valores imediatos como a beleza cênica, os recursos do espaço físico fácil e principalmente dos recursos naturais de uso imediato tornam esses ecossistemas cobiçados e vulneráveis à ação humana no curto prazo.

A taxa de perda dos ecossistemas costeiros já atinge a incrível marca de 7% ao ano o que pode representar a perda da maior parte desses ecossistemas e mesmo tornar irreversível nas próximas duas décadas segundo trabalho publicado pela UNEP/FAO/IUCN/UNESCO/CSIC.

A ocupação de áreas costeiras onde se encontram os manguezais e marismas podem provocar a contaminação de suas águas e provocar a degradação silenciosa de sua rica biota. Da mesma forma o espraiamento da malha urbana e de transporte sobre as planícies costeiras permeadas de rios que dão acesso a toda sorte de poluentes urbanos nas águas costeiras podem comprometer os bancos de corais e de algas que se espalham ao longo da plataforma continental. Portos, terminais, usinas de energia e mesmo indústrias assentadas ao longo da orla litorânea devem estar licenciadas ambientalmente de forma segura e com medidas mitigadoras e preventivas contra o risco de impactos ambientais que podem comprometer a vida e os serviços naturais prestados. Serviços como a fixação do carbono tornam-se cada vez mais necessários e urgentes tendo em vista a velocidade que as cidades e as indústrias lançam os gases poluentes. O mercado de carbono é um importante instrumento para financiar as ações de manutenção e de preservação desses ecossistemas uma vez que pagam pelo carbono lançado na atmosfera.

A sociedade precisa estar consciente desse risco e refletir sobre qual caminho quer seguir. Estar atenta às políticas públicas adotadas pelos diversos segmentos governamentais, países e empresas que atuam no curto prazo sem pensar nas consequências de longo prazo e que ameaçam a qualidade de vida das futuras gerações.  Em junho, mês que se comemoram o dia mundial do meio ambiente e o dia mundial dos oceanos é preciso parar e refletir o destino que vamos reservar para a vida no mar e no planeta. A lição aprendida pela pandemia foi que para nos proteger precisamos também garantir a segurança do próximo. Portanto garantir a saúde dos ecossistemas representa salvaguardar a nossa saúde contra os efeitos das mudanças climáticas do amanhã.

Distribuição dos ecossistemas do carbono azul pelo mundo.
Fonte: www.thebluecarboninitiative.org/

Toda costa brasileira com mais de 8.500km de extensão está repleta de importantes ecossistemas que são verdadeiras usinas de remoção e fixação do carbono emitido pelo modo de vida do homem contemporâneo. Precisamos rever nossos hábitos e construir uma opinião publica que defenda a ultima fronteira que ainda nos resta aqui na Terra, os oceanos.

Escrito por: David Zee

Referências Bibliográficas

Laffoley, D.; Grimsditch, G. (editors). The Management of Natural Coastal Carbon Sinks. IUCN- International Union for Conservation of Nature, Switzerland, 2009. 54 p. https://portals.iucn.org/library/sites/library/files/documents/2009-038.pdf

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