Dentro do mar tem rio

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Como os rios influenciam o mar?

Os rios têm grande poder erosivo e capacidade de transportar e depositar sedimentos e nutrientes, influenciando diretamente o local onde desembocam, que pode ser outro rio, um lago, uma lagoa, uma baía ou diretamente no oceano. Assim, se o rio está saudável, traz benefícios como o depósito de nutrientes em sua foz, criando um ambiente rico em biodiversidade. Por outro lado, se está degradado, funciona como transporte de poluentes.

A presença de grandes cursos d’água em uma região pode ser determinante para moldar aquela zona costeira, influenciando nas características físicas, químicas e biológicas do mar.

Rios urbanos: como as cidades alteraram os rios?

A importância dos rios é tanta que a maior parte das cidades se desenvolveu próxima de cursos d’água, fazendo deles os usos mais diversos, como abastecimento de água para consumo, aproveitamento industrial, irrigação/agricultura, criação animal, pesca e aquicultura, geração de energia, lazer e transporte. Entretanto, à medida que as cidades crescem, os rios passam a ser entendidos e utilizados não como um sistema vivo, mas apenas como escoadouro de esgoto, lixo e efluentes industriais.

Impactos da degradação dos rios

A alteração e degradação dos rios urbanos têm impactos diversos. Alguns dos principais efeitos sociais são os alagamentos, que causam transtorno no trânsito e prejuízos principalmente à população mais vulnerável, muitas vezes por habitar áreas de risco e margens de rios e “valões”. Esses alagamentos, comuns em muitas cidades principalmente nos períodos chuvosos, estão associados à alteração do curso natural dos rios, somado à impermeabilização do solo. Os alagamentos envolvendo rios poluídos também expõe a população à doenças, como amebíase, giardíase, gastroenterite e leptospirose, tornando-se um problema de saúde pública.

O Rio dos Porcos, no Jardim Maravilha, Guaratiba, Zona Oeste do Rio de Janeiro. Divulgação / Prefeitura do Rio. Disponível em: <https://prefeitura.rio/noticias/prefeitura-faz-mutirao-de-limpeza-em-rios-e-bueiros-da-cidade-para-evitar-enchentes-e-alagamentos/>

Os resultados dos impactos ambientais também são muitos. A poluição por esgoto e adubos orgânicos pode desencadear o processo de eutrofização do rio e a poluição por resíduos sólidos pode se emaranhar na fauna e na flora, além de obstruir os cursos d’água. Além disso, diversos rios recebem contaminantes industriais, como óleo, detergentes e até mesmo metais pesados, que se acumulam no fundo ou entram na cadeia alimentar. O Rio Irajá, na Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro, é um dos casos em que se somam os diversos tipos de contaminantes, que depois terminam na Baía de Guanabara. No caso das cidades litorâneas, a poluição dos rios pode afetar também atividades econômicas importantes, como o turismo, por conta da interferência dos rios na balneabilidade das praias.

Água poluída sai de canal na Joatinga em direção ao mar da Barra da Tijuca. Foto: Mario Moscatelli | Projeto Olho Verde. Disponível em: <https://bandnewsfmrio.com.br/editorias-detalhes/agua-poluida-sai-de-canal-na-joatinga-em-dire>.

Como revitalizar os rios urbanos? Exemplos de sucesso

Apesar das diversas iniciativas frustradas, há casos de sucesso de revitalização de rios em grandes metrópoles mundo afora, como o Rio Sena (Paris), o Rio Tejo (Lisboa) e Projeto Rio e Baía Saudáveis, que busca revitalizar o Rio Brisbane e a Moreton Bay. No Brasil  também há bons exemplos em cidades de médio porte, como o caso do Rio Jundiaí e Piracicaba no interior de São Paulo. A revitalização de rios urbanos requer projetos caros e de longo prazo, mas os resultados obtidos dos exemplos citados acima já são visíveis e mostram que é  possível replicá-los em outras partes do mundo.

A vida  está voltando ao Rio Jundiaí. Foto: Guilherme Dan. Disponível em: <https://tribunadejundiai.com.br/mais/meio-ambiente/8-fotos-que-provam-a-vida-esta-voltando-ao-rio-jundiai/>

A melhor estratégia de recuperação dos rios urbanos é focar na causa, que resume-se na deficiência dos serviços públicos de coleta, tratamento e disposição adequada dos resíduos (lixo e esgoto doméstico e industrial) gerados pelas cidades. Como a gestão dos detritos urbanos depende de inúmeros fatores e segmentos governamentais, seu domínio completo é complexo e lento. Por outro lado, o desequilíbrio ambiental dos sistemas naturais (rios e solo) acontece de maneira rápida.

Portanto, recuperar pontualmente os cursos d’água naturais, como rios e canais, para os quais estes resíduos urbanos convergem, evita o deságue de poluentes e consequentemente a contaminação de espelhos d’água maiores, como lagunas, baías e praias. Realizar o isolamento e o tratamento dos poluentes (esgotos, lixo e sedimentos) nos rios torna-se uma alternativa interessante.

Escrito por: Januário Campos de Amorim

Referências Bibliográficas

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ASSAD, Leonor. Cidades nascem abraçadas a seus rios, mas lhes viram as costas no crescimento. Cienc. Cult.,  São Paulo ,  v. 65, n. 2, p. 06-09,  June  2013 .   Disponível em: <http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0009-67252013000200003&lng=en&nrm=iso>. Acesso em  20  dez.  2021.  http://dx.doi.org/10.21800/S0009-67252013000200003.

PIOLA. Alberto R; Osmar O. Möller Jr; PALMA. Elbio D. O IMPACTO DO RIO DA PRATA NO OCEANO ATLÂNTICO. Ciência Hoje. Rio de Janeiro, 2005. Disponível em:  <https://cienciahoje.org.br/artigo/o-impacto-do-rio-da-prata-no-oceano-atlantico/>. Acesso em: 07 jan. 2022.

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