DESASTRES NATURAIS: Entender para prevenir

Square

A faixa costeira é a área de interação entre as forças oceânicas e continentais, onde o embate entre elas provoca modificações na morfologia do litoral. Nas últimas décadas tem-se percebido um desbalanceamento em favor do mar tendo em vista o recrudescimento dos eventos extremos representados pelas ressacas e ciclones de origem marinha. Como resultado o impacto sobre as orlas urbanizadas tem sido manchetes de jornais e os desastres naturais tem sido recorrentes. A exposição dos passeios e avenidas a beira-mar tem sido alvos de constantes colapsos dessas edificações.

Observa-se que no inverno e outono ocorrem com mais frequência as ressacas anômalas que intensificam a erosão das praias. Por outro lado, na primavera e verão as chuvas torrenciais tem provocado inundações, escorregamentos de encostas e frequentes interrupções das vias litorâneas. Esses fenômenos trazem imensos transtornos na boa funcionabilidade das cidades costeiras gerando prejuízos financeiros e perdas de vida. A percepção de insegurança social tem chamado a atenção dos governantes que procuram investir no planejamento de medidas preventivas, adaptativas e reativas para mitigar as perdas e os impactos na sociedade.

Contudo, a eficácia dessas medidas depende em grande parte da participação da sociedade nesse processo. Afinal, somente com o ordenamento das cidades e daqueles que lá vivem será possível enfrentar essas adversidades climáticas com maior chance de mitigar seus impactos. Nas últimas décadas as ameaças climáticas tem aumentado a sua frequência e a sua intensidade, principalmente nas áreas costeiras. Se considerarmos a exposição das cidades litorâneas, o risco dos desastres naturais se potencializa tendo em vista a fragilidade dos assentamentos urbanos. A principal defesa natural das orlas urbanizadas são a presença de praias e os afloramentos rochosos. O homem ao ocupar as dunas, retirar a cobertura vegetal e ocupar a maior parte das praias aumenta a sua exposição ao perigo e fragiliza as praias. Ao proteger as praias estamos nos protegendo contra o ataque do mar em eventos extremos.

Informar a sociedade sobre os equipamentos urbanos especialmente desenvolvidos para prevenção dos acidentes e de como utiliza-los são de fundamental importância. Da mesma forma os alarmes, rotas de fuga e abrigos construídos para reagir as adversidades de nada valem se a população não for treinada nem souber como proceder nos momentos de emergência.

Todo planejamento e mobiliário urbano disponibilizado para proteger a população deve ser apresentado e discutido com os moradores mais expostos e vulneráveis aos acidentes. Quanto maior for a divulgação e a consulta social tanto maior será o engajamento reativo da sociedade no momento dos desastres.

A sinalização, a visibilidade dos equipamentos e a ampla divulgação na mídia são fatores importantes para potencializar a percepção social de segurança e de acolhimento. Da mesma forma a delimitação física explícita das áreas de risco como as baixadas e as encostas servem de alertas permanentes da vulnerabilidade desses espaços urbanos.

Enfim, para conferir segurança e resultados contra desastres naturais em zonas costeiras é preciso haver planejamento e engajamento da população nas ações preventivas. O planejamento envolve investimentos na especialização dos recursos humanos, na construção de equipamentos urbanos adaptados para situações extremas, no monitoramento permanente das ameaças, e principalmente no comprometimento integrado entre os gestores municipais, estaduais e federais. Afinal, se os desastres naturais decorrem da soma de diferentes forças ambientais, para poder fazer frente também será preciso a união de diferentes segmentos da sociedade.

CEMADEN: Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais

A previsão de novos cenários climáticos redunda em efeitos extremos que ao atingirem as cidades fragilizadas em função de um crescimento urbano fragmentado tal como é a diversidade social e econômica existentes, provocam impactos humanamente inaceitáveis.  A descontinuidade urbana promove a quebra da sua funcionabilidade e redunda num efeito cascata de impactos cuja dimensão caracteriza os desastres naturais. A faísca das ameaças climáticas que acende o pavio da exposição das cidades costeiras para essas ameaças oceanográficas provoca a explosão da bomba armada pelas cidades mal planejadas e construídas.


Escrito por David Zee

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *