Florestas Subaquáticas: uma oportunidade de combate às mudanças climáticas

Square

Você já pensou no reflorestamento marinho? As plantas subaquáticas fornecem inúmeros serviços ambientais que contribuem para a fixação do carbono e a produção de oxigênio, combatendo assim o efeito estufa. Uma boa estratégia para compensar as queimadas da Amazônia Verde é pensar na proteção da Amazônia Azul. Recuperar a qualidade das águas promove a biodiversidade marinha das plantas superiores e de organismos vegetais.

Assim pensam os cientistas do Velho Mundo, como iremos retratar a seguir.

Florestas Subaquáticas de Possidônias no Mar Mediterrâneo.

As pradarias de possidônia oceânica são uma das comunidades vivas mais interessantes existentes no Mar Mediterrâneo, onde se abrigam numerosos benefícios para o ecossistema marinho e para conservação do litoral da região.

A possidônia oceânica não é uma alga, e sim uma planta superior macrófita com raízes desenvolvidas, caule e folhas verdes largas e aplainadas que chegam a medir até 1,5 metros de comprimento, flores e frutos. São encontradas próximas da costa oceânica, em fundos arenosos, a uma profundidade de até cerca de 40 metros da superfície.

Essas plantas começam a brotar no início do outono, quando folhas verdes novas surgem e as plantas florescem, desprendendo frutos conhecidos por azeitonas dos mares. Esses frutos ao se soltarem das possidônias sobem para a superfície da água e são transportadas por vários dias pela maré até que desprendem da casca e caem no fundo do oceano onde germinam.

Possidônia Oceânica: planta macrófita com raízes desenvolvidas, caule e folhas verdes largas.

Um importante papel exercido pelas possidônias oceânicas está relacionado com o seu ciclo vital característico: no final do verão, quando a água do mar tem temperaturas mais baixas, as folhas verdes se desprendem, migram pelos mares formando placas de toneladas de folhas mortas que se acomodam na região costeira. Esse material tem importância fundamental para a proteção das praias, freando a erosão e a diminuição da faixa de areia.

Aglomerados de possidônias que desembocam nas praias, freando a erosão e o encurtamento da faixa de areia.

Além disso, ao redor das pradarias de possidônias se estabelecem numerosas espécies da fauna marinha já que estas florestas oferecem condições de abrigo e alimentação favoráveis para o desenvolvimento desses seres: as folhagens da possidônia freiam as massas de água oceânica e formam barreiras que acumulam partículas de substratos em suspensão que irão alimentar a comunidade possidônia. Essa retenção de sedimentos suspensos auxilia na manutenção da limpeza e transparência das águas do Mar Mediterrâneo. Por isso, a possidônia oceânica também é considerada uma boa bioindicadora da qualidade da água do oceano.

Bioindicadora da qualidade da água do oceano: Floresta de Possidônia abriga inúmeras espécies marinhas.

Essas plantas demoram a se desenvolver e precisam de muitos anos para cobrir uma grande extensão do fundo oceânico. Em contra partida, nota-se que a destruição dessa floresta é acelerada e, nos últimos anos, esse processo tem se intensificado. As principais causas da destruição desse ecossistema marinho são as mudanças climáticas, a contaminação por substâncias poluentes tóxicas, pesca irregular com redes de arraste e âncoras lançadas ao fundo do mar. Também como causa da degradação das pradarias nos oceanos podemos citar a eutrofização por despejo de resíduos urbanos, que aumenta a quantidade de plâncton e o surgimento de algas sobre as folhas da possidônia. Dessa forma ocorre um bloqueio da penetração de luz que compromete o crescimento da floresta.

Devido a esses fatores de regressão, a cada ano, segundo especialistas, de 1% a 5% dessas florestas subaquáticas, que têm uma notável importância ecológica, são consideradas áreas extintas. 

Destruição das Florestas de Possidônias tem se intensificado nos últimos anos.

E o que fazer para preservar essas florestas subaquáticas? Os prados de possidônia oceânica são considerados habitats de interesse prioritário pela União Europeia e por isso vários projetos estão em curso. Por exemplo, projetos existentes nas Ilhas Baleares, um arquipélago localizado perto da costa leste da Espanha, no Mediterrâneo, como IMEDEA (Instituto Mediterrâneo de Estudos Avançados), no qual uma equipe de pesquisadores e jardineiros submarinos, auxiliam empresas a replantarem o bosque de possidônia, que devido aos processos dessas próprias empresas sofreram degradações são ações de destaque que estão sendo adotadas.

Prados de Possidônia Oceânica: habitats de interesse prioritário pela União Europeia.

Com isso, se obtém um território hoje protegido e convertido em laboratório vivo, onde se destaca a importância do reflorestamento subaquático para garantir biodiversidade, diante de um contexto de crise global de preservação dos ecossistemas marinhos, para se poder garantir a pesca aos redores e a manutenção das praias da região.  

Laboratório vivo em pleno Mediterrâneo, onde se destaca a importância do reflorestamento subaquático.

Formentera, na Espanha, é conhecida como o último paraíso do Mediterrâneo por ter conseguido conciliar o turismo com a proteção do meio ambiente. O segredo da existência de um mar cristalino e das extensas praias de Formentera, que a diferenciam do resto do Mediterrâneo, é a preservação da pradaria de possidônia que rodeia a ilha, uma depuradora natural que limpa a água e permite a sedimentação da areia no litoral. Um autêntico bosque submarino que foi declarado Patrimônio da Humanidade pela UNESCO em 1999.

O “Projeto Life+ Posidonia Andalucia” busca a conservação das pradarias andaluzas de possidônia oceânica da região, aprovado pela Comissão Europeia em setembro de 2010, para garantir a conservação a longo prazo dos leitos de ervas marinhas da Andaluzia, aplicando medidas de proteção e divulgando às pessoas, especialmente aos habitantes da costa, sobre a importância que os leitos de plantas marinhas têm para a qualidade de vida e desenvolvimento sustentável da região.

Preservação da Pradaria de Possidônia: segredo da existência de um mar cristalino na região mediterrânea.

Portanto, com esses exemplos de projetos científicos no Velho Mundo conseguimos refletir mais sobre o quanto é essencial se pensar no ambiente marinho como recurso natural que contribui com serviços inestimáveis para o desenvolvimento econômico, a prosperidade e a qualidade de vida do nosso planeta.  

Vale a pena assistir ao vídeo que detalha toda a importância de preservação das florestas subaquáticas de possidônia oceânica, neste link.

Maria Gabriella Baptista

Fontes:

Revista Ronda Iberia 

Junta de Andalucia

Parlamento Europeu 

Qual viagem

Comment

One Reply to “Florestas Subaquáticas: uma oportunidade de combate às mudanças climáticas”

  1. Que demaissss!!!! A gente nunca pensa na floresta que está embaixo d’agua ♥️ Adorei a matéria

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *