Novos Riscos Ambientais na Baía de Guanabara

Square

Escrito por David Zee/ Editado por Gabriela Brandão B. Lima

A liberação de enormes quantidades de esgotos domésticos e lixo orgânico nos espelhos d’água urbanos (rios, lagos e baías) acarreta um desequilíbrio ambiental devido a digestão anômala de matéria orgânica pelas bactérias. A decomposição anaeróbica (sem oxigênio) pelo excesso do lodo orgânico depositado no leito dos canais e estuários origina a liberação de um gás venenoso denominado  gás sulfídrico (H2S).

O odor de ovo podre que muitas vezes percebemos nas margens das lagoas e rios acusa a presença do gás sulfídrico. Este provoca dor de cabeça, enjoo, fadiga e tontura. O limite máximo de exposição para o ser humano previsto na NR15 (norma brasileira) é de 8ppm, considerando o tempo de exposição de até 48 horas/semana. Concentrações superiores a 20 ppm (partes por milhão) são críticas e grave ameaça a saúde pública segundo as normas internacionais de segurança. Em casos extremos (acima de 80 ppm), falta de ar, irritação nos olhos, dor de garganta e tosse são sintomas comuns na população exposta. A inalação por períodos prolongados ou concentrações superiores a 800 ppm pode ser letal ao homem. Durante a 1ª Guerra Mundial o gás sulfídrico foi utilizada pelos britânicos como arma de guerra.

Tabela 1: Sintomas relacionados a concentração de gás sulfídrico em ppm.

Captura de Tela 2016-06-27 às 17.39.22

Esse diagnóstico analisa os níveis de gás sulfídrico encontrados nas embocaduras dos principais rios que descarregam enormes quantidades de lixo orgânico, esgotos e sujidades urbanas na Baía de Guanabara. O monitoramento foi realizado no dia 14/04/2016 entre 8:30 e 16:00 horas em condição de vazante na maré de quadratura.

Tabela 2: Rios analisados durante a campanha e população de sua bacia drenante.

Captura de Tela 2016-06-27 às 17.41.48

riosbg.png
Figura 1: Localização dos rios descritos na tabela 2.

Com partida na Marina da Glória a campanha que durou 7 horas e 30 minutos, percorrendo no total, percorreu um trajeto de 90,5 km (vermelho). Analisando no total 22 amostras próximas a desembocadura dos 7 rios previstos. Conforme ilustrado na figura 2.

trajetobg.png
Figura 2: Trajeto realizado (em vermelho) na campanha e pontos onde foram feitas as análises.
Captura de Tela 2016-06-27 às 18.03.08
Figura 3: Gráfico de valores máximos de H2S nos rios analisados durante a campanha.

Dentre as principais conclusões e recomendações, citam-se:

1) Existem pontos indicando níveis inadmissíveis de concentração de gás sulfídrico na saída do Canal do Cunha, Canal do Mangue, rio Irajá e rio Pavuna – Meriti.

2) Nesta campanha não foi possível acessar a foz do Rio Guaxindiba e do Rio Imboaçu, devido às restrições de calado para o acesso da embarcação e realização das medições (fozes muito assoreadas). Em especial no Rio Berquó, não houve medição, visto que no momento da inspeção não havia vazão de extravasão devido às comportas estarem fechadas. Daí a inexistência de valores na Fig. 3, o que não garante segurança local.

3) Ocorre risco evidente para saúde pública, podendo gerar óbitos na população ribeirinha ao longo dos rios mais contaminados.

4) A presença de gás sulfídrico é indicador de ausência de oxigênio dissolvido na coluna d’água e portanto a impossibilidade de haver organismos superiores (peixes).

5) Altas taxas de gás sulfídrico indicam também enormes quantidades de matéria orgânica em decomposição adentrando para a Baía de Guanabara.

6) Os principais indutores de poluição no espelho d’água da Baía de Guanabara são os rios drenantes de áreas densamente ocupadas.

7) O limite máximo de exposição para o ser humano previsto na NR15 é de 8 ppm, considerando o tempo de exposição de 48 horas/semana. Portanto, em todos os rios que puderam ser realizadas as medições, os níveis de gás sulfídrico estão acima da norma brasileira. Vale destacar que nas normas internacionais, como no Japão, Reino Unido e Suíça, o limite é de 5 ppm.

glossário:
restrição de calado – limite de profundidade mínima que uma embarcação pode chegar de acordo com a altura do barco abaixo da linha d´água.

Comment

0 Replies to “Novos Riscos Ambientais na Baía de Guanabara”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *