O Futuro do Brasil também está no mar

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O mar sempre foi fonte de recursos essenciais para os povos de diferentes culturas desde o início da civilização humana. Na verdade, antes das revoluções marítimas pouco se sabia da diversidade de bens necessários que poderiam se aproveitar do oceano para mover o desenvolvimento da sociedade. Os únicos recursos explorados eram os alimentos, como peixes, moluscos, entre outros frutos marinhos. Tendo em vista a evolução das ciências do mar, hoje é possível observar o quanto pode ser aproveitado dos oceanos. A demanda desses recursos mostra a ligação intrínseca do ser humano com o oceano e a necessidade do uso racional e da preservação ambiental que é preciso ter para a sua constante renovação. Isso é a essência da sustentabilidade.

Oceano vivo. Fonte: https://portalods.com.br/noticias/vida-marinha-e-ameacada-por-poluicao/

O Brasil possui um vasto território de exploração marítima, que é a ZEE (Zona Econômica Exclusiva ). Esta é a responsável por uma boa parcela da economia brasileira, tendo em vista que dependemos do extrativismo para a manutenção das comunidades litorâneas. A pesca artesanal ao longo da costa brasileira é possível em função do aporte da matéria orgânica natural trazida pelos rios que deságuam no oceano Atlântico. Nas últimas décadas a poluição urbana, também trazida pelos rios, tem prejudicado muito os berçários naturais encontrados nos manguezais, lagunas e baías. A necessidade de pesquisas bem como de ações governamentais e sociais para a redução da contaminação são urgentes para interromper o ciclo vicioso da destruição dos ecossistemas costeiros.

 Infelizmente a região marinha de alto mar que banha o território brasileiro é pobre em nutrientes. Consequentemente há uma baixa produtividade da atividade pesqueira industrial, fato que deixa o Brasil no vigésimo sexto lugar no ramo da exportação de pescados, em escala mundial.

Na região costeira é onde se concentram a maior parte dos nutrientes que são escassos em mar aberto. Pelo fato da maioria dos pescados se  concentrarem na região costeira do Brasil há uma grande competição entre a pesca industrial, em grande escala, com a pesca artesanal e de subsistência. Essas  são realizadas por pessoas simples que vivem graças ao pescado que conseguem capturar , tanto para o consumo quanto para  a comercialização artesanal. Assim, populações caiçaras e de pescadores artesanais espalhados nos 8.500km de litoral desde o Amapá até o Rio Grande do Sul dependem para sua sobrevivência dos alimentos encontrados ao longo da costa.

Os anos da má gestão da atividade pesqueira, acabou gerando a gradual depreciação dos estoques pesqueiros que acaba prejudicando principalmente as populações mais carentes que vivem da pesca. 

Entre outros benefícios do oceano, temos o seu potencial energético bem como a diversidade das fontes promissoras, entre elas as eólicas, solares e mesma das ondas.  Graças às condições climáticas e a superfície plana e sem obstáculos que possam dissipar a energia dos ventos, o mar é uma fonte constante e destacada de energia eólica. Além disso, a retirada dos parques eólicos nos continentes traz diversos benefícios no que diz respeito a diminuição dos impactos visuais e sonoros. Outra vantagem é a potencialização da produção de energia devido a velocidade constante e unidirecional dos ventos provindos do mar no nordeste brasileiro. Não menos vantajoso é também a possibilidade de construir parques eólicos sobre a rasa plataforma continental marinha e liberar as concorridas áreas litorâneas para a preservação de ecossistemas costeiros ricos de biodiversidade, bem como para a ocupação urbana.

 Na alta disponibilidade de espaço físico e na forte incidência da radiação solar em um país tropical como o Brasil, as áreas costeiras podem ser um excelente local para a instalação de usinas solares. A princípio, adquirir fontes de energia renovável tem sido o objetivo  para diminuir as emissões de carbono. Nesse quesito, vale lembrar dos inúmeros serviços ambientais marinhos e uma das mais importantes é a fixação do gás carbônico nocivo através da absorção promovida pelo plâncton marinho. Da mesma forma, ao se deixar de emitir gás carbônico por meio do consumo da energia limpa dos ventos gerados pela interação oceano-atmosfera estamos abandonando a matriz energética suja do combustível fóssil. Em ambos os oceanos promovem serviços ambientais inestimáveis para o homem. Na verdade, a adoção dessas energias renováveis é uma possível alternativa que possibilita substituir a principal matriz energética brasileira atual, a hidrelétrica. Sendo 65% da matriz energética brasileira, as usinas hidrelétricas vêm causando diversos impactos ambientais e criam uma dependência energética que pode ser observada em períodos de seca. Tal fato cria um clima de insegurança energética e prejudica a economia nacional, sazonalmente. Para que ocorram investimentos, tudo depende da vontade política que é movida pela opinião pública. Na medida que a sociedade tem consciência das oportunidades marinhas que se apresentam no litoral brasileiro novos recursos podem aportar para as ciências do mar objetivando gerar empregos e inovações tecnológicas para o benefício social. 

Outro serviço essencial para o Brasil, oferecido pelo mar, é o transporte. Mais de 95% dos produtos exportados pelo país passam pelos portos e terminais brasileiros, pois se utilizam das rodovias do mar. Em termos de transporte interno pelo país, atualmente o meio rodoviário é a principal e a dominante forma de promover o transporte de mercadorias e pessoas. Entretanto, os gastos dessa opção de transporte são altos e a adoção dos meios marítimos seriam mais competitivos para a economia do país. A navegação de cabotagem tem uma vantagem logística ímpar bem como da sua alta capacidade em termos de volume e de custo do transporte.

As oportunidades oferecidas pelos oceanos estão diante de nós quando olhamos para o mar de uma forma diferente. De uma forma em que os oceanógrafos podem ajudar a forjar um Brasil mais marinho. Onde os recursos são abundantes e diversos para um litoral amplo com mais de 8.500km de extensão que se abre na nossa frente. Para tanto se faz necessário um bom gerenciamento para conseguir manter intacta essas oportunidades e saber reconhecer outra relevante fonte de recursos, que é o mar.

Escrito por: João Pedro Rodrigues de Carvalho

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