O que é o pré-sal na costa do Brasil ?

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A formação dos extensos reservatórios brasileiros de pré-sal está diretamente ligada aos processos de movimento das placas tectônicas. Esse lento deslocamento geológico acarretou o afastamento dos continentes africano e sul-americano, culminando na abertura do leito oceânico do Atlântico-Sul.

Entre aproximadamente 131 e 120 milhões de anos atrás, no período Cretáceo, a movimentação de falhas geológicas gerou bacias do tipo rifte (separação e formação do leito com a saída de lava por entre fendas). Nas regiões mais profundas do leito formado, foram depositados sedimentos com grande quantidade de matéria orgânica. Esta misturada aos sedimentos, e com elevadas compressões geológicas e calor do centro da Terra, se transformaram em óleo e gás do pré-sal.

Desmembramento do supercontinente Pangea; Fonte: U.S. Geological Survey

Nas áreas mais rasas houve a formação de rochas carbonáticas devido ao acúmulo das conchas de invertebrados. Com o passar das eras geológicas e com o acúmulo das águas, os grandes lagos formados foram conectados ao Oceano. Com o clima árido e a intensa evaporação da água marinha, houve o acúmulo de sais que formaram uma espessa camada de sal. Essa camada de sal depositou-se sobre a matéria orgânica acumulada, retendo-a por milhões de anos. Durante esse extenso período geológico foi possível que processos termoquímicos transformassem a camada orgânica em hidrocarbonetos (petróleo e gás natural). Portanto a matéria orgânica acumulada sob forte pressão e calor originou os reservatórios de óleo e gás em camadas profundas sob o leito oceânico que hoje exploramos no pré-sal.

Localização do pré-sal. Fonte: Petrobras

O pré-sal (antes da camada de sal) é, portanto, uma sequência sucessória de deposição e formação de rochas sedimentares que antecedem a camada de sal do período de formação geológica da região.

Segundo a Petrobras, o pré-sal se estende na região costa-afora entre os estados do Espírito Santo e Santa Catarina, numa faixa com cerca de 800 km de comprimento por 200 km de largura. Nessa faixa, a lâmina d’água varia de 1.500 a 3.000 m de profundidade.

Áreas de produção pré-sal. Fonte: EnergyWay.

A exploração do pré-sal enfrenta inúmeros desafios. Além da alta temperatura e pressão existentes nesses bolsões geológicos, outro obstáculo para a exploração é a camada de sal que antecede esses reservatórios geológicos de óleo e gás. A camada de sal se comporta como um verdadeiro selo, impedindo a expansão dos fluidos. A profundidade do mar no local é outro desafio a ser vencido na exploração do pré-sal. Devido ao fato da área localizar-se no sopé do talude da plataforma continental, é preciso vencer uma coluna d’água de mais de 1.000 metros antes de atingir o leito oceânico. A partir daí iniciar a perfuração do substrato marinho por mais de 4.000 metros de profundidade para conseguir atingir o bolsão de óleo e gás para poder realizar a extração.

Para que a exploração seja feita de forma segura, são necessárias inúmeras pesquisas. Estas incluem materiais utilizados em ambiente de fluidos com elevada corrosividade, além de complexos sistemas de coleta submarina que devem incluir métodos de instalação em áreas com condições ambientais severas. Talvez as pesquisas de maior relevância sejam aquelas que contemplam a segurança ambiental onde as tecnologias devem garantir o escoamento seguro de fluidos com alto teor de gases contaminantes, que em contato com o ecossistema marinho podem causar danos irreversíveis.

Em 1963, foi criado o Centro de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação Leopoldo Américo Miguez de Mello (Cenpes). Localizado na Ilha do Fundão, no Rio de Janeiro, lá são desenvolvidos estudos de ponta para a atividade de exploração, atuando na caracterização de rochas reservatório, em estudos das bacias sedimentares, no suporte à seleção de prospectos exploratórios.

Centros de Pesquisas como o Cenpes, bem como os profissionais das áreas das ciências marinhas, são cruciais para o desenvolvimento de tecnologias sustentáveis e seguras que garantam a correta exploração dos recursos naturais em águas profundas, evitando desastres ambientais e derramamento de óleo em alto mar.

Centro de pesquisas da Petrobras (Cenpes). Fonte: Custódio Coimbra / O Globo.

Portanto as Ciências do Mar têm papel destacado para viabilizar a exploração do petróleo em alto mar com a devida segurança, evitando ao máximo eventuais danos aos ecossistemas marinhos que tantos benefícios ambientais têm a oferecer para a humanidade.

 

Autora: Izabel Avellar

 

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