Plástico nos oceanos: entenda o problema

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O plástico é o lixo mais abundante do ambiente marinho, sendo um dos mais importantes e crescentes problemas ambientais da atualidade. Devido a sua alta resistência à degradação, diferentes tipos de plástico podem permanecer centenas de anos no ambiente e ou até um período tão grande que ainda não conseguiu ser determinado, como é o caso dos pneus. O plástico no ambiente marinho tem origem principalmente nas regiões costeiras, sendo facilmente transportado pelo vento, pela água e outros meios devido à sua leveza e flutuabilidade, sendo as atividades pesqueiras a segunda maior fonte de plástico para os oceanos

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Menino nada em meio ao lixo em uma praia de Manila, capital das Filipinas, à procura de plásticos recicláveis para vender e ajudar a família. Fonte: George Steinmetz, National Geographic.

No oceano, o plástico é transportado pelas correntes marinhas, convergindo e se acumulando nos giros subtropicais oceânicos gerando imensas “sopas de plástico”, presentes tanto na superfície como na coluna d’água e no fundo.

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Mapa mostrando a localização das “sopas de plástico” dentro dos 5 giros subtropicais oceânicos, formados pelas correntes oceânicas indicadas pelas setas azuis. Fonte: National Geographic.
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Ave marinha morta com o estômago repleto de plástico. Créditos: Brian Gratwicke.

O plástico também configura um novo ambiente dentro dos oceanos para o desenvolvimento de micro-organismos, como bactérias, e invertebrados, que rapidamente cobrem sua superfície formando um biofilme e ou ficando incrustados. Dessa forma, é encontrada uma vasta comunidade microbiana associada ao plástico que é diferente da que vive na água do mar circundante. Isso faz com que detritos plásticos sejam um vetor de organismos estranhos ao ambiente, uma vez que viajam longas distâncias e introduzem espécies exóticas invasoras, que são aquelas que não existiam em determinado ambiente, mas que são introduzidas e se adaptam a ele, podendo trazer prejuízos e até causar a extinção de espécies nativas. Já foram encontrados inclusive micro-organismos que causam doenças a seres humanos em detritos plásticos no meio do oceano, que não sobrevivem na água do mar, o que os torna um vetor potencial também de doenças.

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Pneu encontrado no mar na costa de Porto Alegre incrustado por mexilhões-dourados (Limnoperna fortunei), que é uma espécie nativa da Ásia, sendo invasora na América do Sul desde 1990. Fonte: Marcela Uliano da Silva (Improviso Científico).

Uma considerável fração do plástico presente nos oceanos consiste em pequenos detritos menores que 5 mm, incluindo partículas que não são visíveis a olho nu, que são denominadas no geral como microplásticos. A maior parte do microplástico presente em ambientes marinhos é resultado da fotodegradação pela radiação solar e intemperismo (quebra) de fragmentos de plástico nas praias, processo que é extremamente lento na água do mar. Os microplásticos também são introduzidos diretamente pelo escoamento de micropartículas plásticas fabricadas para uso em diversos produtos, como cosméticos e higiênicos.

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Microplásticos em pasta de dente. Fonte: Pixabay.

Eles são encontrados ao longo da coluna d’água e em sedimentos marinhos ao longo do mundo inteiro, inclusive a grandes profundidades. A concentração de microplástico na água e nos sedimentos marinhos varia bastante, sendo encontradas concentrações de apenas algumas partículas até imensas concentrações de mais de 100 mil partículas por metro cúbico de água e mais de 600.000 partículas por quilograma de sedimento em zonas de acúmulo.

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Microplásticos recolhidos de praia da Europa. Fonte: Current Biology, Wright et al. (2013).

Poluentes orgânicos persistentes (POPs) são compostos altamente tóxicos, estáveis e resistentes à degradação, persistindo no ambiente durante um longo período de tempo, sendo facilmente dissipados pelo ar, água, animais e outras vias. São compostos extremamente tóxicos a diversos organismos, incluindo o ser humano, causando danos sobretudo aos sistemas reprodutivo, nervoso, imunológico e endócrino, além de serem cancerígenos e causarem deformações em fetos e abortos espontâneos. Possuem a capacidade de se acumularem nos organismos (bioacumular) e alguns também de aumentarem sua concentração ao longo da cadeia alimentar (biomagnificar), fazendo com que organismos os grandes predadores, como tubarões, golfinhos e seres humanos, apresentem as maiores concentrações desses poluentes.

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Tubarão branco com tumor na mandíbula inferior, encontrado próximo às Ilhas Neptune, no sul da Austrália. Fonte: NBC News.

Os POPs são compostos hidrofóbicos, ou seja, que tem alta solubilidade em substâncias apolares, como os polímeros (plásticos) e lipídeos (óleo e gordura), e baixa solubilidade em substâncias polares, como a água. Assim sendo, os POPs ocorrem em concentrações muito baixas na água do mar, mas ficam muito concentrados em detritos plásticos devido a sua característica hidrofóbica. Além disso, plásticos podem conter ainda outras substâncias potencialmente tóxicas, adicionadas na fabricação para mudar suas características como corantes, plastificantes, antioxidantes, surfactantes e retardadores de chamas. Isso faz com que os detritos plásticos sejam acumuladores e transportadores de substâncias tóxicas no ambiente marinho.

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Esquema mostrando a biomagnificação de um poluente orgânico persistente (POP) no ambiente marinho, onde os números e os círculos azuis indicam a concentração de PCB (bifenilas policloradas). Fonte: Modificado de © maribus, nach Böhlmann (1991).

Devido ao seu tamanho reduzido, o microplástico tem a capacidade de causar danos até mesmo aos organismos do fito e zooplâncton. Isso é uma grande preocupação, uma vez que os efeitos nocivos já começam na base da cadeia alimentar. Estudos recentes mostram que o microplástico é capaz de diminuir a capacidade fotossintética, inibir a taxa de crescimento e até causar danos físicos diretos a microalgas.

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Interação de microplásticos de PVC (policloreto de vinila) e microalgas da espécie Skeletonema Costatum, uma diatomácea. A: microalga em água sem microplástico (controle); B: microplásticos adsorvidos em células algais; C: microplásticos incorporado em células algais; D: microplásticos causando danos físicos à microalga. Fonte: Zhang et al. (2016).

Os microplásticos também podem ser ingeridos pelo zooplâncton e estudos recentes mostraram que o microplástico pode ser transferido de níveis tróficos inferiores a superiores através da alimentação e que contaminantes presentes em microplásticos ingeridos por organismos podem se acumular nos mesmos através da digestão, apresentando um efeito aditivo de toxicidade. Assim, é possível que haja o acúmulo tanto de microplásticos como das toxinas presentes neles ao longo da teia alimentar marinha (biomagnificação), mas isso ainda não foi comprovado, uma vez que os estudos sobre os efeitos do microplástico nos organismos ainda é muito recente. Desse modo, é necessário que sejam realizados mais estudos sobre o tema, uma vez que apesar de já terem sido descritos danos gravíssimos que o plástico e o microplástico causam, muitos efeitos e a real magnitude dos problemas ainda são desconhecidos.

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Vídeo mostrando diferentes espécies do zooplâncton ingerindo microplástico. Fonte: Modificado de Verity Whithe.

Diante de todos esses problemas uma coisa fica clara: algo precisa ser feito. Mas como nós poderíamos acabar definitivamente com todos os problemas que os plásticos causam nos oceanos? Parando de utilizar plástico e recolhendo todo o plástico que já foi lançado no ambiente. Naturalmente isso não é possível, mas existe muito que pode ser feito. A primeira medida a se tomar é reduzir a produção e o consumo de plástico, utilizando materiais mais sustentáveis para substituí-lo, e reciclar sempre que possível. Outra opção é desenvolver plásticos biodegradáveis, que são decompostos por organismos como fungos e bactérias, durando pouco tempo no ambiente e não se transformando em microplástico. Outra medida é proibir a utilização de microplástico na indústria, a não ser que seja biodegradável. E é claro, realizar projetos de reaproveitamento do lixo plástico e de conscientização da população. Sem dúvida é preciso que os governos se posicionem sobre o tema e que tomem medidas efetivas para combater esse problema. Contudo, você não precisa esperar uma lei para trocar sua pasta de dentes por uma que não use microplástico, conversar com seu vizinho sobre o assunto, procurar centros de reciclagem, fazer uma árvore de natal de garrafas ou até mesmo escrever um e-mail para os governantes da sua cidade para cobrar soluções. É preciso que mudemos nossos hábitos rapidamente ou uma previsão recente de que em 2050 os oceanos terão mais plásticos do que peixe pode se concretizar.

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Esculturas em formato de peixe feitas de garrafas PET reutilizadas na praia de Botafogo, Rio de Janeiro. Fonte: Edmonton Journal.

glossário:
fotodegradação: decomposição de compostos químicos causados pela luz ou pela radiação ultravioleta.

Escrito por Maria Carolina Chalegre Touceira/ Editado por Stefany Bento

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