Os recifes de coral são os ecossistemas mais diversos dos mares por concentrarem a maior densidade de biodiversidade de todos os ecossistemas (Adey, 2000). Os recifes de coral constituem-se importantes ecossistemas, altamente diversificados, seja no nível local, regional e principalmente no global. Por abrigarem uma extraordinária variedade de plantas e animais possuem grande importância econômica, pois representam a fonte de alimento e renda para muitas comunidades. Uma em cada quatro espécies marinhas vive nos recifes, incluindo 65% dos peixes encontrados nos oceanos. Além dos animais, estima-se que 500 milhões de pessoas residentes em países em desenvolvimento possuam algum tipo de dependência dos serviços oferecidos por este ecossistema (Wilkinson, 2002). A “saúde” dos recifes afeta diretamente as pessoas que delas dependem para se alimentar e dos serviços ambientais produzidos.
No entanto, os recifes de coral em todo o mundo estão seriamente ameaçados e estima-se que 27% deles já foram degradados irreversivelmente. Previsões indicam que, no ritmo atual, uma perda semelhante ocorrerá nos próximos 30 anos (César et al., 2003). O monitoramento dos recifes de coral é especialmente importante devido à correlação encontrada entre eventos de branqueamento que vem danificando os recifes de coral e as mudanças climáticas globais.
No Brasil, os recifes de coral se encontram espalhados por aproximadamente 3 mil km de costa a partir do Maranhão ao Sul da Bahia, representando as únicas formações recifais do Atlântico Sul. Nessa longa extensão existem unidades de conservação federais, estaduais e municipais que protegem uma parcela significativa desses ambientes. Apesar de toda a sua importância, os ambientes recifais em todo o mundo, vêm sofrendo um rápido processo de degradação através da ação humana. A degradação dos recifes de coral está intimamente ligada às atividades econômicas e de mau uso. Por outro lado, as mudanças climáticas provocam o aquecimento das águas que estressam os corais. O stress atinge o ponto de expelirem, a partir das algas que neles habitam, as zooxantelas, deixando-os “branqueados”. O branqueamento de 1998, um dos anos mais quentes da história, danificou imensas áreas de coral em todo o mundo, aumentando seriamente a quantidade de recifes prejudicados. A poluição por nutrientes e soterramento de sedimentos na mineração de areia e rocha, o uso de explosivos e substâncias tóxicas na pesca, também estressam os recifes.
A preocupação com a conservação e o equilíbrio dos recifes levou à criação da Rede Global de Monitoramento de Recifes de Coral (GCRMN – Global Coral Reef Monitoring Network) das Nações Unidas, em 1997. Os recifes de coral têm sido apontados como o primeiro e maior ecossistema a sofrer impactos significativos devido às mudanças climáticas globais. Impactos negativos provocados pela ação antrópica da pesca, poluição e mau uso do solo que levam detritos ao mar também têm degradado os recifes de todo o mundo.
Atualmente o Reef Check é o maior programa internacional de monitoramentos de recifes de coral envolvendo mergulhadores recreacionais (voluntários treinados) e cientistas marinhos. O programa Reef Check, desde sua concepção na década de 1990 busca o envolvimento de voluntário e é pioneiro em estratégias de conservação. O monitoramento participativo da biodiversidade vem se mostrando essencial, não apenas para geração de dados necessários à compreensão dos fenômenos e às medidas de manejo, mas também por aproximar pessoas ao legitimar a participação e qualificar o debate.
A preocupação com o estado de conservação dos recifes se consolidou mundialmente na década de 90, quando se constatou que os impactos humanos estavam atingindo níveis alarmantes, porém a informação disponível ainda não era suficiente para formar um retrato global da situação dos recifes (GINSBURG, 1994). Uma das ações propostas foi a padronização da coleta de dados, possibilitando comparações e diagnósticos sobre a saúde dos recifes de coral (HILL & WILKINSON, 2004). Para atender esta demanda, o protocolo Reef Check foi desenvolvido em 1996 pelo ecologista marinho Dr. Gregor Hodgson. Este utiliza indicadores biológicos de impactos diretos agrupados em categorias para que possa ser aplicado em escala global por voluntários supervisionados por cientistas. Ao mesmo tempo, a padronização objetiva poder comparar resultados de modo que possam servir como um indicativo da saúde recifal em escala oceânica. A primeira avaliação global do Reef Check foi realizada em 1997 e incluiu 350 recifes de 31 países (HODGSON, 1999). Desde então, o Reef Check tem crescido, sendo amplamente utilizado ao redor do mundo com milhares de voluntários que atuam em ações de conservação e na coleta de dados. Mais de 90 países trabalham em conjunto para proteger os recifes de coral por meio de educação, pesquisa e conservação. O Reef Check têm desde então, contribuído para a Rede Global de Monitoramento de Recifes de Coral (GCRMN), ligada à Iniciativa Internacional de Recifes de Coral (ICRI) que é uma parceria informal entre várias Nações e organizações que se esforçam para preservar os recifes de coral e ecossistemas associados em todo o mundo.
No Brasil, o protocolo de monitoramento de recifes de coral Reef Check foi adotado em 2002. Este foi adaptado para os recifes de coral brasileiros no âmbito de um projeto piloto coordenado por pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e Instituto Recifes Costeiros (IRCOS). Financiado pelo PROBIO do Ministério do Meio Ambiente (MMA) e apoiado por outras Universidades e Instituições que realizam pesquisas e estudos dos recifes brasileiros. O Reef Check Brasil reúne pessoas de diferentes formações, porém com um interesse comum: a preservação dos recifes e sua biodiversidade, além dos bens e serviços que estes podem oferecer.
O Reef Check foi elaborado para monitorar e avaliar a saúde dos recifes de coral, com base na abundância de determinados organismos recifais. Estes chamados indicadores conseguem refletir a condição do ecossistema e são facilmente reconhecíveis. Os organismos indicadores são aqueles cuja presença/ausência ou abundância se relaciona a diferentes estados do ecossistema, determinados tanto por condições locais, como por impactos humanos e mudanças ambientais (De CÁCERES et al., 2010). Os estados alterados dos organismos, como o branqueamento e a presença de doenças também são mensurados, pois indicam impactos ligados a aumentos anômalos da temperatura média da água do mar, relacionados a eventos extremos como El Niño, e contaminação por patógenos. A seleção desses organismos indicadores foi baseada em seu valor econômico e ecológico, além da sua sensibilidade aos impactos humanos (como pesca, poluição, turismo e mudanças climáticas), facilitando-se assim a sua identificação. Dezesseis organismos indicadores globais e indicadores regionais específicos do Atlântico (Caribe e Brasil), Indo-Pacífico e Havaí, que incluem peixes, invertebrados e algas, servem como medidas específicas de impactos humanos, como pesca, coleta ou poluição nos recifes de coral (HODGSON et al., 2006). Os indicadores estão agrupados em categorias no protocolo básico, enquanto no protocolo avançado são coletados dados mais detalhados ao nível de espécie. Nos dois níveis, os dados são registrados durante as três rotinas principais de coleta de dados do Reef Check.
É importante ressaltar que o mais recente relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) aponta que já foram perdidos 50% de todos os recifes globais. Assim, se o planeta atingir o aumento esperado de 1,5ºC na temperatura média global nos próximos anos, os recifes de coral diminuiriam entre 70 a 90%. É de extrema importância que para prevenirmos a destruição total dos corais com a redução da poluição além de proteger áreas onde há corais em bom estado. Desenvolver uma economia azul viável e tentar frear o aquecimento global são pilares básicos para esse objetivo. Existem assim muitos desafios a vencer e sem a participação da sociedade consciente isso não será possível.
Escrito por: Agnnes Marie Pereira Coelho de Carvalho
Referências:
PERSPECTIVAS, S. A. E. Monitoramento dos Recifes de Coral do Brasil. Disponível em: <https://antigo.mma.gov.br/estruturas/chm/_arquivos/18_introducaobr.pdf>.
Recifes de Coral. Disponível em: <https://antigo.mma.gov.br/processo-eletronico/item/397-recifes-de-corais.html>. Acesso em: 26 jan. 2024.
Manual de monitoramento Reef Check Brasil 2018 [recurso eletrônico] /Autoras: Beatrice Padovani Ferreira, Ana Lídia Bertoldi Gaspar, Mariana Sofia Coxey, Ana Carolina Grillo Monteiro – Brasília, DF: MMA, 2018.
<https://antigo.mma.gov.br/estruturas/chm/_arquivos/18_anexos_parteI_br.pdf>
ADEY, 2000, apud PERSPECTIVAS, S. A. E., p.9; Monitoramento dos Recifes de Coral do Brasil. Disponível em: <https://repositorio.icmbio.gov.br/bitstream/cecav/1504/1/Monitoramento_dos_Recifes_de_Coral_do_Brasil_Livro.pdf>
Wilkinson, 2002, apud PERSPECTIVAS, S. A. E., p.9; Monitoramento dos Recifes de Coral do Brasil. Disponível em: <https://repositorio.icmbio.gov.br/bitstream/cecav/1504/1/Monitoramento_dos_Recifes_de_Coral_do_Brasil_Livro.pdf>
Ginsburg, 1994, p. 17, apud Manual de monitoramento Reef Check Brasil 2018 [recurso eletrônico] /Autoras: Beatrice Padovani Ferreira, Ana Lídia Bertoldi Gaspar, Mariana Sofia Coxey, Ana Carolina Grillo Monteiro – Brasília, DF: MMA, 2018.
Hill & Wilkinson, 2004, p. 17, apud Manual de monitoramento Reef Check Brasil 2018 [recurso eletrônico] /Autoras: Beatrice Padovani Ferreira, Ana Lídia Bertoldi Gaspar, Mariana Sofia Coxey, Ana Carolina Grillo Monteiro – Brasília, DF: MMA, 2018.
Hodgson, 1999, p. 17, apud Manual de monitoramento Reef Check Brasil 2018 [recurso eletrônico] /Autoras: Beatrice Padovani Ferreira, Ana Lídia Bertoldi Gaspar, Mariana Sofia Coxey, Ana Carolina Grillo Monteiro – Brasília, DF: MMA, 2018.
Cáceres et al, 2010, p. 27, apud Manual de monitoramento Reef Check Brasil 2018 [recurso eletrônico] /Autoras: Beatrice Padovani Ferreira, Ana Lídia Bertoldi Gaspar, Mariana Sofia Coxey, Ana Carolina Grillo Monteiro – Brasília, DF: MMA, 2018.