As festas de Réveillon e o Carnaval são grandes comemorações que agitam multidões pelo o Brasil inteiro. São nessas duas épocas do ano que o setor hoteleiro e os comerciantes conseguem mais que dobrar seus lucros. Todo o país se prepara para receber turistas do mundo inteiro. As praias ficam lotadas e a falta de sinalização e de equipamentos suficientes para coleta de resíduos bem como de uma conscientização do coletivo faz com que todos os anos o litoral brasileiro acumule milhares de toneladas de lixo descartado sem destino e tratamento adequado. O Olhar Oceanográfico vem alertar os impactos ambientais na orla urbana que muitas vezes passam desapercebidos de um olhar mais atento da população que usufrui das belezas que as praias oferecem.
Atualmente uma das principais ameaças da qualidade das nossas praias somos nós mesmos. A falta de conhecimento e de zelo do nosso litoral provoca a perda de inúmeras praias urbanas que outrora eram muito frequentadas e famosas. Hoje a sujeira e o abandono de muitos quilômetros de praias urbanas estão presentes em cidades como o Rio de Janeiro, Salvador, Santos, dentre outras.
Na virada de 2020, o balneário Camboriú-SC ficou marcado por um enorme rastro de sujeira deixado na praia. No mesmo ano, os moradores da Praia de Iracema protestaram e ficaram indignados com a quantidade de lixo descartado na areia. Foram cerca de 80 toneladas coletadas em uma megaoperação de limpeza.
Os dados abaixo mostram a quantidade anual de lixo deixado na praia de Copacabana durante a noite de Réveillon. Ela só não parece ser crescente pois durante a passagem de ano em 2021 e 2022 houve uma queda brusca em decorrência da pandemia. Note que a partir da noite de ano novo de 2023 em diante a proporção de resíduos só faz crescer. Além da contaminação do resíduo propriamente dito existe a contaminação orgânica que redunda na presença de microrganismos patógenos que se proliferam num ambiente úmido, quente e contaminado de matéria orgânica.
Repare que houve uma diminuição no ano de 2021 e 2022 devido às restrições contra COVID-19 mas nos anos subsequentes houve uma aceleração da quantidade de despejo de resíduos.
Durante o Carnaval, a folia promovida pelos blocos de rua também deixa rastros de caos e de sujeira. Grande parte do lixo descartado são carreados para os rios e galerias de águas pluviais e que terminam no mar.
Em 2017, na Praia da Ferrugem, em Santa Catarina, foliões destruíram uma área de preservação ambiental na orla. No mesmo ano, cerca de 119 quilos de lixo foram retirados do mar da Barra, em Salvador. Foram encontradas inúmeras latinhas de bebidas no fundo do mar baiano, prejudicando o ambiente marinho.
As cidades de Salvador e do Rio de Janeiro disputam um vergonhoso título desse período do ano, infelizmente não pelo Carnaval mais animado, mas sim, pelo Carnaval mais sujo. No Carnaval de 2024 o Rio de Janeiro bateu um recorde: foram recolhidas 800 toneladas de lixo apenas nos blocos de rua.
Lutando contra essa maré de poluição, cooperativas como o Bloco da Limpeza e surfistas no Rio de Janeiro, o Instituto do Meio Ambiente (IMA) em Alagoas, e programas governamentais realizam a limpeza e distribuem folhetos educativos sobre preservação ambiental e medidas cautelares para manter as praias limpas durante o Carnaval.
Existe um grande esforço dos agentes de limpeza públicos que nessas duas épocas do ano trabalham arduamente e sofrem riscos devido a presença de garrafas quebradas deixadas na areia das praias. Contudo, mesmo com todos os esforços dos trabalhadores e voluntários, ainda não é suficiente para mitigar os danos. É preciso haver a participação efetiva e a conscientização de todos que usufruem das alegrias dessas duas importantes festas populares. De nada adianta poucos realizarem a limpeza enquanto que milhares sujam sem cuidado algum. Garrafas de vidro demoram cerca de um milhão de anos para se decompor, latas de alumínio levam de 100 a 500 anos, e o plástico pode levar aproximadamente 400 anos. Além disso, os animais marinhos como tartarugas e leões-marinhos confundem sacos plásticos com seu alimento, as águas vivas, o que pode ser fatal para eles.
É necessário adotar medidas de conscientização, prover e manter equipamentos de receptação de resíduos além de leis mais efetivas para garantir que no futuro possa garantir uma diversão mais limpa e sustentável em nossas praias.
A zona costeira brasileira atrai turistas de todos os lugares. Nossas belezas naturais são muito apreciadas e aproveitadas. Os eventos de Réveillon e Carnaval são os eventos mais aguardados do país para receber os visitantes. Porém é necessário orientar cada visitante dos compromissos com a natureza. Esse dever de organizar e instruir contra a poluição é de total responsabilidade dos donos da casa. Nós é que temos o dever de querer limpeza no espaço que recebemos nossos convidados. Como vamos exigir dos visitantes limpeza se nós mesmo não mantemos nossas praias limpas? A educação e a cidadania iniciam dentro da nossa consciência.
A segurança da população e a garantia de um ambiente natural preservado, para que no próximo ano a festa possa ser repetida com qualidade, é fundamental para o desenvolvimento da economia azul do litoral brasileiro.
Escrito por: Thais Fonseca Posse.
Bibliografia:
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G1 – Rio de Janeiro. (2016). “Comlurb remove mais de 600 toneladas de lixo das festas do Rio”. Disponível em: https://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2016/01/comlurb-remove-mais-de-600-toneladas-de-lixo-das-festas-do-rio.html
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G1 – Rio de Janeiro. (2019). “Comlurb espera recolher cerca de 300 toneladas de lixo em Copacabana”. Disponível em: https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2019/01/01/comlurb-espera-recolher-cerca-de-300-toneladas-de-lixo-em-copacabana.ghtml
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SBT News. (2024). “Equipes de limpeza recolhem mais de 190 toneladas de lixo após festejos de pré-carnaval no RJ”. Disponível em: https://sbtnews.sbt.com.br/noticia/brasil/equipes-de-limpeza-recolhem-mais-de-190-toneladas-de-luxo-apos-festejos-de-pre-carnaval-no-rj
G1 – Rio de Janeiro. (2025). “Após réveillon, Comlurb recolhe cerca de 520 toneladas de lixo da praia de Copacabana”. Disponível em: https://cbn.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2025/01/01/apos-reveillon-comlurb-recolhe-cerca-de-520-toneladas-de-lixo-da-praia-de-copacabana.ghtml
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Folha do Meio Ambiente. (2024). “Carnaval e lixo”. Disponível em: https://folhadomeio.com/2024/02/carnaval-e-lixo/
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