As águas de março fechando o verão

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A zona litorânea está em constante mudança ao sabor do embate entre as forças continentais e as forças oceânicas. Assim, a linha de praia flutua , avançando para o mar ou recuando terra adentro (SAIBA MAIS)
Com a chegada da época úmida, quando se acentuam as chuvas , a água drenada pelo relevo se empilha nos rios que deságuam nas baías e estuários. Se neste mesmo momento estiver ocorrendo uma maré de sizígia, quando a flutuação do nível da maré se amplifica ou se torna máxima em época de lua nova ou lua cheia, o encontro dessas águas (mar e rio) provoca o alagamento das planícies costeiras.
Justamente nestas áreas mais rasas ocorre o assentamento das cidades e, portanto, esta sofre a consequência das inundações agravadas com chuvas e marés.

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Figura 1: Praia de Botafogo, esquina com rua Visconde de Ouro Preto/RJ. Fonte: EXTRA

Tendo em vista a explosão demográfica, a ocupação das zonas costeiras sem planejamento para esta oscilações climáticas e oceanográficas tão presentes nessas áreas, torna-se risco de grandes proporções.
Os efeitos colaterais das mudanças climáticas provocam alterações bruscas como acúmulo excessivo de águas (enchentes), ventanias concentradas em áreas litorâneas expostas, avanço do nível do mar dentre outros fenômenos desastrosos.

CIDADE
Figura 2: Março inicia com fortes chuvas e alagamentos em Fortaleza (018/03/18). Fonte:DIÁRIO DO NORDESTE

O verão, principalmente nas suas últimas semanas é comum haver precipitações mais abundantes.  Como cantou Tom Jobim, são as águas de março fechando o verão.
Ainda mais agora com a elevação da temperatura média do planeta, maior é a energia disponível pela evaporação da água do mar. Ou seja, existe mais água em estado gasoso e, portanto, nuvens mais volumosas, promovendo chuvas mais intensas. Nesse aspecto, as áreas litorâneas mais rasas e urbanizadas correm um enorme risco de serem impactadas pelas desastres naturais.

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Figura 3: Santos já registra metade da chuva esperada para março (08/03/18).
Fonte: A TRIBUNA

Um estudo do Banco Mundial, alertou que em meados do século XXI, uma elevação provável de 0,2m do nível do mar pode provocar prejuízos econômicos anuais de 940 milhões de dólares em 22 das maiores cidades costeiras da América Latina.
Cerca de 60% da população brasileira mora na faixa costeira onde é produzido 30% da riqueza do país.
Na verdade, as cidades costeiras do Brasil ainda não possuem equipamentos adequados para esta nova realidade de extremos climáticos como chuvas e ventanias intensas. Neste sentido, os riscos de desastres naturais crescem enormemente provocando perdas materiais e de vidas.

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Figura 4: Chuvas fortes em Tamandaré, litoral sul de Pernambuco. Fonte: G1

Atualmente, muito pouca análise e estudos são dedicados para a adaptação do litoral brasileiro para a ocorrência de chuvas torrenciais acompanhadas de ventania extrema. A falta de atenção e o atraso de ações específicas com certeza resultarão em prejuízos financeiros e podem inviabilizar as cidades costeiras com ocorrência de deslizamento de terra, enchentes, vulnerabilidade da população carente, doenças e colapso dos serviços urbanos.

Prof. David Zee

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