Você sabia que a cor dos oceanos está mudando? 

Para abordar sobre a cor dos oceanos, é preciso ter em mente a razão do mar ser, a princípio, azul e a influência da radiação solar na cor sobre a superfície do mar. A luz provinda do sol que sensibiliza a nossa retina é branca. Entretanto essa cor é resultado da união de várias cores que fazem parte do espectro visível, ou seja, as cores que somos capazes de enxergar, desde o violeta até o vermelho. Cada cor do espectro possui um comprimento de onda específico e conforme o meio em que a luz está, uma cor será menos absorvida. Assim sendo essa cor menos absorvida, terá mais probabilidade de ser refletida sendo mais percebida pelos nossos olhos. Assim o mar é um verdadeiro filtro da luz solar, absorvendo mais intensamente as cores diferentes do azul e promovendo maior difusão da cor restante que será o azul. Nesse processo, a maior parcela de luz refletida na superfície do mar será o azul, dando então essa tonalidade para as águas oceânicas. As águas de alto mar, livres da mistura das águas costeiras provenientes dos rios, não sofrem influência das cores que prevalecem na costa. 

Assim, a cor da água dos oceanos profundos provém da luz que não foi absorvida totalmente pela água do mar, ou seja, a cor azul. Porém, diversos fatores também influenciam na cor do mar, como os sedimentos (areia), a matéria orgânica dissolvida ou particulada, microalgas e cianobactérias. Em um cenário de floração de microalgas, por exemplo, acontece o fenômeno da maré vermelha, uma superpopulação de algas com coloração avermelhada estão presentes na camada superficial. Variações de temperatura, salinidade e correntes são alguns dos parâmetros ambientais que estão relacionados à floração. Dessa forma, as algas pigmentadas se proliferam rapidamente e colorem o oceano, o que pode resultar em prejuízos à biodiversidade dependendo da espécie de microalga beneficiada pelas condições existentes. O tom avermelhado nas águas do mar nada mais é do que o reflexo da luz sobre essas microalgas, ocasionado pela absorção das outras cores da luz solar e a reflexão da cor vermelha. 

As alterações de cores também podem ser observadas nas regiões costeiras causadas pela maior disponibilidade de nutrientes provenientes do esgoto urbano e fertilizantes que escoam até o mar carregadas pelas águas das chuvas. Nesses cenários, a influência antrópica é relevante. Em ambientes marinhos e de água doce sem tanta influência antrópica, as florações dependem mais das mudanças climáticas sazonais, disponibilidade de nutrientes e de possíveis predadores, atuando como controladores da reprodução exagerada de microalgas. Entretanto, nos últimos anos, a frequência de florações tóxicas marinhas tem aumentado em todo o mundo, apesar de somente algumas dezenas de espécies fitoplanctônicas serem realmente tóxicas (Raven; Ray Franklin Evert; Eichhorn, 2013). Tal fato demonstra o aumento da influência antrópica somada à eventos climáticos extremos nas últimas décadas. 

Recentemente, foi publicado um estudo que relacionou a cor dos oceanos com as mudanças climáticas. O artigo “Tendências globais de mudanças climáticas detectadas em indicadores de ecologia oceânica”, publicado na revista “Nature”, indicou que os oceanos tropicais próximos à linha do Equador estão ficando cada vez mais verdes nos últimos 20 anos. Essa alteração não pode ser explicada apenas por oscilações que naturalmente ocorrem, pois as transformações também estão se estendendo e influenciando outros ecossistemas mundo afora. 

A mudança e a forte tendência que pode ser observada na cor do mar em inúmeros pontos do oceano e regiões costeiras são claros sinais que demonstram a necessidade de mais estudos para entender as possíveis consequências e impactos que estão surgindo no sistema marinho. Tais alterações podem oferecer prejuízos para a humanidade. Uma vez que o número da população humana já atinge níveis de insolvência para o equilíbrio do planeta, torna-se fundamental desenvolver medidas mitigadoras e de adequação do comportamento humano para o reequilíbrio do planeta. A preocupação com a preservação do equilíbrio dos oceanos que cobrem 70% da superfície da Terra, sem dúvida, será uma iniciativa necessária para nossa sobrevivência futura. 

Escrito por: Erica F. Dias 

Referências Bibliográficas

Qual é a cor do Sol (e por que ele não é amarelo). BBC News Brasil, [s.d.]. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/geral-58784295 >. 

Oliveira, P. R. DE. Por que o mar é azul? Você sabe? – Curiosidades HidroMares – Soluções para Monitoramento Ambiental e Oceanográfico. Disponível em: <https://hidromares.com.br/blog/blog-por-que-o-mar-e-azul/ >. 

O oceano tem cor, e não só azul. Disponível em: <https://jornal.usp.br/atualidades/o-oceano-tem-cor-e-nao-so-azul/ >.  

Raven, P. H.; Ray Franklin Evert; Eichhorn, S. E. Raven| Biology of plants. New York: W.H. Freeman And Company Publishers, Cop, 2013.  

Cael, B. B. et al. Global climate-change trends detected in indicators of ocean ecology. Nature, 12 jul. 2023.  

GUY, J. Crise climática faz oceanos mudarem de cor e sinalizam ameaça à vida, diz estudo. Disponível em: <https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/mudancas-climaticas-alteram-a-cor-dos-oceanos-aponta-estudo/ >.