No dia 22 de maio comemora-se o dia internacional da Biodiversidade. Mas o que representa a Biodiversidade Marinha?
A Biodiversidade Marinha expressa a riqueza e a variedade das espécies vivas existentes no mar. Plantas, animais, invertebrados, insetos e microrganismos compõem milhões de seres vivos que vivem integrados em uma harmonia construída ao longo de milhões de anos nos oceanos. Contudo uma grande parte destes organismos ainda nem foram identificados e muito menos estudados pelo homem. É natural que a biodiversidade marinha seja maior que a terrestre, afinal a vida depende da água. Da mesma forma a vida iniciou nos oceanos primitivos há mais de 3,5 bilhões de anos atrás. Atualmente os oceanos ainda são um território inexplorado e misterioso. Saiba que abaixo de 3.000 metros de profundidade, menos humanos conseguiram alcançar do que astronautas conseguiram pisar em solo lunar. Para finalizar a surpresa do desconhecimento humano dos oceanos, saiba que a profundidade média dos oceanos é da ordem de 3.870 metros de profundidade, ou seja, quase nada conhecemos da morfologia e do fundo do mar.
– Qual é a importância de conservar a biodiversidade marinha?
Inúmeros são os benefícios auferidos pela biodiversidade marinha. Dentre os mais representativos e relevantes constam os seguintes:
1. Oferta de alimentos
A pesca fornece proteínas para inúmeras comunidades de pescadores que dependem exclusivamente deste tipo de alimento para sobreviver. O assombroso crescimento da população mundial pressiona pela necessidade de alimentos para sua sobrevivência.
2. Princípio ativo de fármacos
Diversas espécies marinhas produzem venenos/toxinas para predar e afastar ameaças. Outros lançam produtos químicos que retardam o desenvolvimento de espécies competidoras. Conhecer estas substâncias biológicas pode ser a chave da descoberta de novos fármacos de valor medicinal
3. Produção de oxigênio (Ciclagem dos elementos)
Diferentemente do senso popular, não são as florestas os grandes geradores de oxigênio do planeta. As algas e o fitoplancton marinho produzem mais da metade do oxigênio que a Terra precisa para manter o sistema em equilíbrio. Através da fotossíntese na produção de biomassa lança-se uma enorme quantidade de oxigênio na atmosfera diariamente.
4. Fixação do Carbono (Regulação do Clima)
O carbono expelido na queima de combustíveis fósseis, provocado pelo homem moderno, lança enormes volumes de gás carbônico na atmosfera provocando o aquecimento do planeta através do efeito estufa. Os vegetais marinhos como algas, fitoplancton e macrofitas aquáticas promovem a captura do carbono e sua fixação na biomassa vegetal proporcionando um extraordinário serviço ambiental para o planeta.
5. Digestão da matéria orgânica
Inúmeras espécies de decompositores que habitam no leito de baías e estuários fazem a digestão da matéria orgânica carreada pelos rios e depositada no fundo. Quanto maior for a riqueza da diversidade das espécies tanto maior será a estabilidade e a resiliência desses ecossistemas. A ciclagem da matéria orgânica é uma importante função desses organismos decompositiores.
6. Fornecimento de matéria prima
Algas calcáreas e carapaças de moluscos são fontes de cálcio para produção de fertilizantes, suplementos medicinais, dentre inúmeros outras matérias primas encontradas na biodiversidade marinha. A pujante economia da indústria farmacêutica e de cosméticos depende de derivados nobres da flora e da fauna marinha para atender um mercado consumidor cada vez mais exigente e sofisticado.
Portanto o enorme valor agregado encontrado em muitos organismos marinhos impulsiona um potencial mercado consumidor trazendo inúmeros benefícios à sociedade moderna em decorrência dos predicados excepcionais só descobertos através de investimentos na pesquisa da biodiversidade marinha.
– Quais são as principais ameaças à biodiversidade marinha?
1. A Sobrepesca
A pesca excessiva e acima da capacidade de reposição natural dos estoques pesqueiros é um rápido caminho para a redução drástica da biodiversidade.
2. A poluição orgânica e inorgânica (plásticos)
O crescente aumento do volume de despejo e sua toxicidade em ambientes costeiros decorrentes dos efluentes de origem antrópica destroem os berçários do mar como é o caso dos manguezais, marismas, estuários e baías.
3. O Efeito Estufa
O lançamento de gases do efeito estufa aquece o planeta, elevando a temperatura das águas do mar e como consequência destroem os recifes de corais e matam inúmeros organismos que não suportam a elevação da temperatura das águas. Da mesma forma a acidificação dos oceanos contribuem para o desaparecimento de ecossistemas e espécies marinhas.
4. Uso do solo inadequado
A expansão urbana sobre áreas naturais e sensíveis do litoral como manguezais, restingas e praias arenosas destroem ecossistemas importantes para a reprodução da vida marinha.
– Como proteger a biodiversidade?
Promover uma estratégia integrada e coesa de proteção à biodiversidade marinha através de um sistema de coordenação internacional que ainda não existe para realizar as seguintes ações:
1. Gestão Integrada
Como os oceanos estão interligados e sem fronteiras humanas de países que impeçam a sua livre comunicação, o homem também deve ter sabedoria de promover organismos internacionais que falem entre si e saibam reproduzir essa união através da gestão integrada desses ecossistemas. A cooperação científica e o entendimento político entre nações vizinhas devem privilegiar o equilíbrio e a estabilidade dos oceanos de modo a promover a salubridade dos oceanos. Só assim conservaremos a biodiversidade e a possibilidade do aproveitamento continuado dos recursos vivos para o futuro.
2. Criação e Manutenção de Áreas Protegidas
Ser capaz de identificar, criar e manter a identidade natural das áreas de proteção ambiental em função da sua fragilidade, importância genética e habitats singulares que porventura existam em diferentes pontos do planeta.
3. Controle das águas internacionais
O controle e a gestão devem também alcançar corpos d’água internacionais onde existem dificuldades de acesso e a falta de financiamento para a pesquisa geram lacunas de domínios e de competência.
4. Pesquisas Científicas
Gerar conhecimento para reconhecer inúmeros territórios ainda inexplorados bem como o entendimento dos processos naturais que regem a vida marinha nos oceanos.
Portanto saber cuidar da biodiversidade marinha representa dar um passo importante no sentido de perpetuar os recursos vivos dos oceanos e garantir o futuro da humanidade. Sem esses recursos naturais a vulnerabilidade humana aumenta e o desequilíbrio ambiental pode se tornar irreversível.
David Zee
Referências Bibliográficas
Miller-Thorne,B.. The Living Ocean: understanding and protecting marine biodiversity. Island Press, 1999. 214p.
Earle, S.A.. The World is Blue: how our fate and the ocean’s are one. National Geographic, 2009. 319p.