Bioindicadores: Como a natureza denuncia a poluição

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Os ecossistemas aquáticos são essenciais para toda vida no planeta. Eles prestam serviços ambientais importantíssimos na manutenção e equilíbrio do clima do globo, bem como na produção de oxigênio e na retirada de gás carbônico. Esses sistemas aquáticos abrigam uma imensa quantidade de espécies de seres, sendo assim fundamentais para a vida. Ademais, o meio aquático é indispensável para o homem. Tais ecossistemas são fonte de alimento, recursos energéticos e minerais, além de renda, turismo e lazer. 

Ecossistemas aquáticos são muito importantes para o clima do planeta, a biodiversidade e a sociedade. Fotos: https://hlsolucoesambientais.com.br/acidificacao-dos-oceanos-uma-ameaca-a-biodiversidade-marinha/ e Guillen Perez/CC

Poluição nos ecossistemas aquáticos 

Com o passar dos anos, as atividades humanas têm provocado cada vez mais alterações negativas nos ecossistemas aquáticos, sejam eles marinhos ou de água doce. O despejo inadequado de resíduos industriais e domésticos é uma das grandes ameaças à integridade desses ecossistemas e sua biodiversidade. Os impactos ambientais pela presença de poluentes são diversos. Eles desestruturam os sistemas aquáticos e, portanto, alteram todo equilíbrio do planeta. Como resultado, a distribuição e a sobrevivência das comunidades biológicas aquáticas ficam drasticamente afetadas, redundando na escassez dos recursos naturais.

Os efluentes são muitas vezes despejados inadequadamente. Foto: https://blog.brkambiental.com.br/esgoto-no-mar/

A necessidade de proteger e preservar o meio ambiente implica na análise da poluição e consequentes impactos. Assim, o monitoramento e estudos da evolução desses impactos nos ecossistemas devem ser conduzidos para reconhecer os danos e conter os poluentes. Mesmo nesses cenários de destruição, o ambiente aquático presta importante serviço ambiental para o homem através dos bioindicadores aquáticos de poluição. 

 É cada vez mais necessário monitorar a poluição aquática. Disponível em:     https://medium.com/@henriqueback72/globaliza%C3%A7%C3%A3o-ocidentaliza%C3%A7%C3%A3o-e-desenvolvimento-no-centro-da-crise-de-polui%C3%A7%C3%A3o-marinha-ddd8e2c2463a

Mas, afinal, o que são os bioindicadores aquáticos de poluição?

Os bioindicadores de poluição são espécies ou comunidades de seres vivos capazes de indicar a qualidade de um ambiente quanto aos poluentes. São organismos que apresentam uma resposta às alterações sofridas por um ecossistema, seja por sua presença e distribuição ou por seu comportamento. Funcionam como ferramentas que indicam a degradação de um ambiente.

O estudo desses seres é essencial para avaliar o tipo de contaminação do meio e para coleta de informações sobre a amplitude dos riscos e o nível da poluição. Esses bioindicadores são diretamente afetados pelos poluentes e “registram” as mudanças ocorridas por um período de tempo.  Em ecossistemas aquáticos, existem vários desses seres vivos considerados “termômetros” da poluição. 

A presença de alguns vegetais de água doce podem indicar poluição. Foto: Mario Moscatelli 
Disponível em: https://biologo.com.br/bio/bioindicadores/

Monitorar e estudar esses organismos contribui para desvendar as condições e qualidade da água. Além disso, colabora na identificação dos poluentes e como estes afetam o meio aquático, suas condições de vida e até se podem ser ameaça aos seres humanos. Geralmente por ser um recurso de custo menor, facilita as pesquisas, colaborando ainda mais para a criação de iniciativas de avaliação da poluição. É um recurso importante não só para o presente, como também para fazer comparações no futuro e verificar se houve avanço nos quesitos de recuperação ambiental.

Através dos bioindicadores aquáticos, é possível analisar poluentes nas águas. Disponível em: https://blog.brkambiental.com.br/poluentes-da-agua/


Um bom indicador é aquele que consegue diferenciar as consequências de fenômenos naturais contra aquelas oriundas das ações antrópicas. Alguns desses seres vivos aquáticos, bioindicadores, serão apresentados a seguir:

Esponjas marinhas

As esponjas marinhas, representantes do Filo Porifera, ocupam as mais diversas áreas do planeta, desde zonas tropicais à polares. São animais filtradores e sésseis (não possuem capacidade de locomoção) na fase adulta. São portadores de poros e podem filtrar grandes quantidades de água por seu sistema de canais aquíferos.

É a partir dessa capacidade filtradora que as esponjas marinhas podem apresentar informações relevantes para entendimento de níveis de poluição. Como não se locomovem, estão diretamente expostas às contaminações por resíduos de ações antrópicas, sendo sensíveis a estas.

A capacidade filtradora faz das esponjas ótimos bioindicadores de poluição. Disponível em: https://www.microbiologia.ufrj.br/portal/index.php/pt/destaques/novidades-sobre-a-micro/380-potencial-biotecnologico-de-esponjas-marinhas-e-de-suas-bacterias-associadas

As formas como esses animais atuam na bioindicação são inúmeras. Elas conseguem armazenar grandes taxas de metais pesados em seus tecidos ao filtrarem a água. Assim, fazendo um mapeamento por suas células, é possível identificar poluentes e verificar a contaminação marinha. Há também o estudo do quanto de proteína a esponja está secretando, visto que indica a quantidade de estresse que passa no ambiente poluído. Ademais, a diversidade desses poríferos pode variar de acordo com os impactos dos poluentes presentes.

A Spongia officinalis é uma das espécies de esponja existentes. Fonte: Guido Picchetti

As algas 

O termo alga denomina um grupo diverso de organismos uni ou pluricelulares, procariontes ou eucariontes com alguns realizando fotossíntese. Podem compor comunidades de fitoplâncton, microorganismos fotossintetizantes que se encontram nas águas superficiais e são base da cadeia alimentar. Também, comunidades de fitobentos, compostas por algas que se fixam ao solo dos ecossistemas aquáticos. 

As kelps são exemplos de algas bentônicas. Foto: NOAA’s National Ocean Service

As algas são diretamente afetadas pela poluição por ocuparem um nível trófico inferior, sendo responsáveis por cerca de 50% da produção primária (pela fotossíntese). Existem vários estudos relacionados a tais organismos e seu comportamento quanto à poluição nos ecossistemas aquáticos. 

Certas espécies são, assim, consideradas bioindicadores de poluentes na água. A partir da análise comportamental desses seres quanto à poluição, pode-se determinar a contaminação de sistemas aquáticos. Um exemplo de microalga bioindicadora da poluição nas águas é a Pseudokirchneriella  subcapitata, organismo unicelular típico de águas doces. Essa espécie apresenta uma alta sensibilidade a metais pesados, que inibem seu crescimento. Dessa forma, é possível analisar o nível de contaminação do meio de acordo com o quanto tais microalgas crescem.

A microalga Pseudokirchneriella  subcapitata é considerada um bioindicador aquático. Disponível em: https://www.researchgate.net/figure/Pseudokirchneriella-subcapitata-source-wwwmokkkahu_fig10_330305216

Moluscos Bivalves

O filo Mollusca é extremamente diverso, sendo os moluscos da classe Bivalvia caracterizados por possuírem uma concha de duas valvas, ou seja, duas metades. Por serem filtradores, esses animais acumulam metais, sendo assim, são muito utilizados nas pesquisas dos níveis de poluição. O mexilhão é um exemplo de molusco bivalve muito estudado por sua resistência às mudanças de salinidade e temperatura e, com isso, sua capacidade de bioindicação. Esses animais acumulam metais pesados pela filtração que realizam e são usados em diversos programas para monitoramento de áreas que sofreram alterações.

Os mexilhões são acumuladores e, portanto, capazes de indicar poluição. Disponível em: https://stringfixer.com/pt/Mytilus_edulis

Além disso, há também ostras que indicam a qualidade de um ecossistema. A Crassostrea brasiliana e a Crassostrea rhizophorae são exemplos de espécies já usadas no Brasil como bioindicadores para identificar os poluentes e o nível de contaminação aquática por certos metais. A primeira foi importante para estudos de áreas afetadas por despejos industriais.

Tanto em sistemas marinhos quanto de água doce, se faz necessária à conservação por sua extrema importância funcional e sistêmica. Quanto mais eficientes os estudos sobre esses seres, melhores as soluções para frear as alterações nos ambientes hídricos. Os resultados das pesquisas com bioindicadores aquáticos devem ser utilizados na criação de políticas ambientais eficazes para preservação da qualidade da água. 

Ao passo que os bioindicadores nos ajudam a analisar os problemas, também são afetados negativamente pelos poluentes. Portanto a natureza está repleta de organismos que são verdadeiros detetives ou mesmo denunciadores dos malfeitos contra a mesma.

Escrito por: Laiza Motta

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRAZ, S. N.; LONGO, R. M. Bioindicadores de Poluição Ambiental: Um Estudo Bibliométrico. Revista Científica ANAP Brasil , [S. l.], v. 12, n. 27, 2019. Disponível em: <https://publicacoes.amigosdanatureza.org.br/index.php/anap_brasil/article/view/2239>.

CALLISTO, M.; GONÇALVES JR, J. F.; MORENO, P. Invertebrados Aquáticos como Bioindicadores. NUVELHAS – Projeto Manuelzão, 2018. Disponível: <https://manuelzao.ufmg.br/wp-content/uploads/2018/08/invertaquaticos.pdf>. 

MARQUES, S. M.; AMÉRICO-PINHEIRO, J. H. P. Algas como bioindicadores da qualidade da água. Revista Científica ANAP Brasil , [S. l.], v. 10, n. 19, 2017. Disponível em: <https://publicacoes.amigosdanatureza.org.br/index.php/anap_brasil/article/view/1651>. 

NEVES, F. G.; HAUEISEN, M. P.;  SEMPREBOM, T.R.; PEIRÓ, F. P. Como os seres marinhos podem nos fornecer informações relevantes sobre o mar. Bióicos, 2020. Disponível em: <https://www.bioicos.org.br/post/como-seres-marinhos-podem-nos-fornecer-informacoes-relevantes-sobre-mar>.

RODRIGUES, D. S. Poluentes marinhos como fatores de estresse em esponjas e mexilhões. 2011. 90 f. Dissertação (Mestrado em Ecologia e Evolução) – Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2011. Disponível em: <https://www.bdtd.uerj.br:8443/handle/1/5814>.

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