COMO BALEIAS REGULAM O CLIMA?

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Ao longo dos anos, a atividade humana tem emitido cada vez mais gases estufa na atmosfera – principalmente o dióxido de carbono –, levando ao aquecimento global e à intensificação das mudanças climáticas. Os oceanos desempenham um papel essencial no combate a tais alterações, devido ao fato de serem reguladores climáticos através do carbono azul, que se refere a todo carbono capturado e armazenado pelos ambientes marinhos e costeiros. Esses ecossistemas realizam o sequestro de carbono, removendo CO2 da atmosfera e transformando-o em oxigênio.

Os oceanos são fundamentais no ciclo do carbono e
na regulação climática. Imagem: Pexels

A própria fauna desses ecossistemas faz parte do fluxo de carbono e acaba estocando-o em seus corpos.  Seguindo esse raciocínio, vamos explicar o papel de um grande mamífero marinho no ciclo do carbono e seu potencial de ajudar na atenuação das mudanças do clima. Sendo assim, como as baleias podem ser reguladoras climáticas?

As baleias também podem desempenhar papel de reguladoras climáticas retirando carbono da atmosfera.
Imagem: Unsplash/Thomas Kelley

As baleias são mamíferos marinhos conhecidos, principalmente, por seu grande tamanho. Estudos – como o relatório publicado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) – demonstram como esses animais podem ser uma importante ferramenta, atuando direta ou indiretamente no combate às mudanças climáticas. Sua existência influencia na regulação da temperatura global, tendo efeitos no ciclo do carbono das seguintes maneiras:

Levando carbono ao fundo oceânico

As baleias são capazes de capturar e armazenar elevadas quantidades de carbono em seus grandes corpos. Estima-se que, no decorrer de sua longa vida, esse mamífero tem o potencial de acumular cerca de 33 toneladas de tal elemento. Isso ocorre, por exemplo, através da biomassa. Ao ingerirem toneladas de alimentos – como o krill – anualmente, as baleias acumulam o carbono fixado nas cadeias alimentares pelos seres fotossintetizantes. Seus corpos são, dessa forma, enormes reservas de carbono, sendo essa estocagem mais efetiva que a dos animais menores. Esse potencial também está relacionado ao fato de absorverem mais carbono do que liberam na expiração.

Esquema de como as baleias participam do ciclo do carbono. A figura demonstra o exemplo de acúmulo pela ingestão de muitas presas e também indica o  sequestro de carbono pela “queda da baleia”.
Imagem: Alex Boersma.

Quando esses mamíferos morrem, suas carcaças afundam (o fenômeno da “queda da baleia”), levando ao fundo oceânico o carbono estocado ao longo de suas vidas. Dessa forma,  este é retirado do ciclo da atmosfera por séculos ou milhares de anos, com a queda das baleias, servindo assim, como verdadeiros sumidouros de carbono. Essa estocagem nas profundezas dos oceanos é essencial para regulação climática por diminuir a quantidade de carbono da atmosfera que seria incorporada em seu ciclo como CO2 com potencial de elevar a temperatura global.

O carbono é levado ao fundo oceânico e lá fica estocado por centenas ou até milhares de anos.
Imagem: Michael Rothman

As fezes das baleias

As baleias se alimentam em partes mais profundas dos oceanos e retornam à superfície para respiração e para liberação de excrementos. Suas fezes são ricas em ferro e nitrogênio, nutrientes que propiciam a multiplicação de fitoplâncton. Esses seres microscópicos fotossintetizantes – que constituem a base da cadeia alimentar marinha – têm papel crucial no clima global por sequestrarem em torno de 40% do CO2 produzido no planeta. Além de capturarem bilhões de toneladas de dióxido de carbono, também produzem a maior parte do oxigênio atmosférico.

No topo da imagem, ilustra-se a maré de excrementos responsável pela proliferação de fitoplânctons.
Imagem: imf.org.

Portanto, as marés de excrementos liberadas pelas baleias podem ser consideradas fertilizantes naturais por conterem os nutrientes limitantes que influenciam no crescimento das populações de fitoplâncton. Assim, mais fezes desses mamíferos representam maior quantidade de seres fotossintetizantes e mais carbono capturado pelos oceanos. Ou seja, ocorre o estímulo à fixação de carbono com aumento da produtividade marinha e do sequestro de carbono pelo fitoplâncton, o que impacta diretamente na regulação do clima e no combate às mudanças climáticas.

As fezes das baleias têm o potencial de proliferarem fitoplânctons, que são essenciais na regulação climática.
Imagem: Gaceta UNAM

O valor das baleias

De acordo com o relatório do FMI, os serviços ecossistêmicos – como o caso da captura de carbono, além de outras atividades – realizados por tais animais podem ser precificados. As estimativas indicam que uma baleia de grande porte vale 2 milhões de dólares, em média, e a população atual tem um valor de cerca de 1 trilhão de dólares.

“Quanto vale uma baleia?” e serviços ecossistêmicos realizados por esse animal; “Cada baleia sequestra 33 toneladas de CO2.”.
Imagem: imf.org.

Essa quantificação teve como objetivo chamar a atenção dos emissores de carbono para o valor dos serviços prestados pelas baleias e convencê-los a investir na proteção desses mamíferos. A ideia seria destinar essas quantias à conservação das populações de baleias para colaborar com a redução do CO2 na atmosfera – visto a importância delas como sumidouros de carbono – e atenuar os avanços do aquecimento global e das mudanças climáticas.

Problemas a enfrentar

Pesquisadores avaliam que atualmente o número de baleias existentes é cerca de 25% da quantidade do que havia antes das suas capturas para fins comerciais. Essa prática não prejudica o meio apenas ecologicamente como também no cenário das mudanças climáticas. Com a captura das baleias, sua carcaça é impedida de afundar e chegar ao assoalho oceânico, facilitando assim o retorno à atmosfera de todo carbono armazenado em seus corpos. Ou seja, a caça das baleias reduz bastante a quantidade desses grandes sumidouros de carbono e influenciadores da proliferação do fitoplâncton que sequestram enormes quantidades de CO2 do ciclo atmosférico.

A quantidade de baleias decaiu muito com a caça para fins comerciais, impactando, também, o clima global.
Imagem: Asmus Koefoed

 proteção das baleias poderia, assim, colaborar para a regulação do clima global e no combate às mudanças climáticas. São necessárias medidas efetivas de monitoramento e conservação das espécies desses mamíferos, promovendo aumento de suas populações e dos serviços ambientais que proporcionam. Esses animais são fundamentais para a estabilização do ecossistema marinho, bem como outros organismos desse meio. Dessa forma, é preciso entender, mais do que nunca, que a existência das baleias pode andar lado a lado com a sobrevivência da humanidade.

Escrito por Laiza Lacerda Motta

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CHAMI, R. et al. Nature’s Solution to Climate Change: A strategy to protect whales can limit greenhouse gases and global warming. IMF Finance & Development, 2019. Disponível em: <https://www.imf.org/en/Publications/fandd/issues/2019/12/natures-solution-to-climate-change-chami#:~:text=The%20 carbon%20 picture%20 potential%20of,of%20the%20 atmosphere%20for%20 centuries>.

ONU NEWS. Baleias podem ajudar a combater a mudança do clima. 2019. Disponível em: <https://news.un.org/pt/story/2019/10/1690861>.

PEARSON, H. C. et al. Whales in the carbon cycle: can recovery remove carbon dioxide? Trends in Ecology & Evolution, 38(3), 2022. Disponível em: <https://www.researchgate.net/publication/366348926_Whales_in_the_carbon_cycle_can_recovery_remove_carbon_dioxide>.

YEO, S. Com poder de esfriar a Terra, baleias ganham a atenção de ecologistas e economistas. BBB NEWS, 2021. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/vert-fut-55768723>.

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