Etimologicamente, hidrografia tem sua origem na junção dos vocábulos de origem grega hýdor (água) e graphein (descrição). Ela trabalha com dados que vão desde a temperatura e salinidade de uma coluna d’água, à direção e volume do fluxo de água, e até mesmo na segurança da navegação. Se desenvolveu ao longo dos séculos em decorrência principalmente da necessidade do avanço da navegação, que em tempos mais antigos era muito dependente da proximidade da costa. Contudo, com o avanço na precisão dos dados hidrográficos e meteorológicos, sem falar na confecção das cartas náuticas, a navegação se tornou muito mais independente e eficiente para os mais diversos fins.
Segundo a Organização Hidrográfica Internacional, a hidrografia pode ser definida da seguinte forma:
“A hidrografia é o ramo da ciência aplicada que lida com a medição e descrição das características físicas dos oceanos, mares, áreas costeiras, lagos e rios, bem como com a previsão de sua mudança ao longo do tempo, com o objetivo principal de segurança da navegação e em apoio a todas as outras atividades marítimas, incluindo desenvolvimento econômico, segurança e defesa, pesquisa científica e proteção ambiental.”
O registro hidrográfico oficial mais antigo conhecido até hoje é a Carte Pisane, que é uma carta de navegação da segunda metade do século XIII. O formato do pergaminho sugere que se trata da pele de um animal, sendo uma das maiores cartas de navegação do Mediterrâneo, e de provável origem italiana.
Em 1584, Lucas Janszoon Waghenaer, oficial de navegação, criou as primeiras cartas náuticas “verdadeiras” utilizando a unidade de medida de braças, fazendo então o primeiro atlas marítimo do mundo, com um total de 45 cartas que vão desde a Noruega até o Estreito de Gibraltar.
As cartas de Waghenaer tiveram um impacto tão grande que, em 1681, o Rei Carlos I da Inglaterra decidiu mapear toda a costa da Grã-Bretanha. Escolheu um oficial da marinha, Greenville Collins, e lhe deu o título de Hidrógrafo do Rei e com o iate Merlin ele começou a mapear, trabalho que durou onze anos. Ao fim, mesmo não tendo um mapa topográfico que pudesse usar para comparar o trabalho e verificar sua precisão ou mesmo como medir a longitude, o total de cartas náuticas produzidas com precisão foi de 47 cartas e 30 páginas com tabelas de maré, orientações para a navegação e esquemas costeiros, além de mais vinte edições nos cem anos posteriores.
Após os acontecimentos da Primeira Guerra Mundial, foi realizada uma conferência em Londres entre vinte e dois países para tratar de questões relacionadas à confecção de cartas náuticas. Essa conferência buscou a coordenação de atividades dos escritórios hidrográficos nacionais, a maior uniformização possível de cartas náuticas e documentos, a adoção de métodos eficientes para aproveitar e explorar os exames hidrográficos e o desenvolvimento das ciências no campo da hidrografia e das técnicas empregadas na oceanografia descritiva. Ao final da conferência, foi criado o Serviço Hidrográfico Internacional, com sede em Mônaco (INTERNATIONAL HYDROGRAPHIC ORGANIZATION, ou IHO). Atualmente, o Serviço Hidrográfico Internacional conta com 77 Estados membros, tendo como função incentivar a segurança na navegação e a proteção do ambiente marítimo.
Portanto, a hidrografia orienta nossas vias marítimas de modo que possamos encontrar as rotas mais seguras e rápidas ao destino que queremos atingir. Dessa forma, o comércio marítimo internacional e muitas outras atividades e indústrias dependem diretamente do seu estudo e desenvolvimento.
Escrito por Maria Becker S. E. Leite
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BESERRA, Fábio Ricardo Silva ; PEIXOTO, FILIPE DA SILVA (Org.) ; COSTA, A. A. (Org.) . A Geografia e seus percursos: livro comemorativo aos 50 anos do curso de Geografia do campus Mossoró da UERN. 1. ed. Mossoró: EDUERN, 2020. v. 1. 337p .
IHO Publication C-13; MANUAL ON HYDROGRAPHY. May 2005.
https://www.marinha.mil.br/dgn/?q=ohi