El Niño, Clima, Oceanos e Economia Mundial: Todos juntos e misturados

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As mudanças climáticas provocam o aquecimento do planeta e como consequência desregulam os ciclos climáticos em toda Terra. No ciclo das águas do planeta os oceanos desempenham um papel de relevância uma vez que a maior parte da água em forma de vapor na atmosfera vem dos oceanos.

Com isso as estações de chuvas e a distribuição da temperatura superficial das águas dos oceanos, principalmente no Pacífico, chega a cenários extremos provocando secas ou chuvas intensas em locais onde normalmente não aconteciam. Grande parte dos países menos desenvolvidos já enfrentam os impactos dos períodos incertos e irregulares de chuvas além de fenômenos climáticos extremos, afetando com isso suas economias.

Secas e Inundações, efeitos climáticos extremos que afetam a economia mundial

Alguns desses impactos podem se apresentar na redução dos estoques pesqueiros e prejuízos na indústria do turismo. O Peru, por exemplo, é o terceiro país que mais se pesca no mundo depois da China e da Indonésia. Sua economia se baseia na exportação da farinha de peixe, óleo, peixe congelado e mesmo enlatado o que sustenta cerca de 700.000 empregos, segundo a revista The Economist. Porém a presença do El Niño provoca o aquecimento das águas superficiais. A camada superficial de águas aquecidas na costa do Peru impede a subida das águas frias de fundo, ricas em nutrientes. Como consequência da falta de nutrientes não ocorre a proliferação da vida marinha e o pescado simplesmente desaparece. A indústria pesqueira entra em colapso trazendo fome para a população e perdas econômicas para o País.

Quebra dos estoques pesqueiros na costa do Peru em períodos de El Niño

No Brasil os principais impactos estão na agricultura e na produção de energia hidrelétrica. O Brasil é o quarto maior produtor de grãos e o maior exportador de carne bovina do mundo, segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).  Nos períodos incertos e irregulares de chuvas em épocas do El Niño resultam em grandes prejuízos nas safras agrícolas que por sua vez afetam a pecuária. Tal cenário compromete a produção de alimentos para o mundo podendo gerar insegurança alimentar e a fome principalmente em países menos desenvolvidos.

Quebra de safras agrícolas e depreciação econômica

No nordeste do Brasil o principal desafio é em relação as hidrelétricas. A situação dos reservatórios na região pode ficar crítica devido a redução das chuvas entre outubro e abril provocadas pela chegado do El Niño. Com isso a distribuição de energia pode ficar comprometida e um aumento na bandeira tarifária para os consumidores é bastante possível. Isso potencializa os custos da produção industrial além de aumentar o custo de vida dessa região. Com a redução da água nos reservatórios se faz necessário recorrer a outras matrizes de energia, reconhecidamente como “sujas”, que são as termelétricas. Além disso essas produzem uma energia mais cara.

Redução do nível d’água dos reservatórios de hidroelétricas

O El Niño, além de impactar na forma de desastres naturais como enchentes e deslizamentos, afeta a economia comprometendo a força de trabalho e destruindo muitas vezes o patrimônio da sociedade.

Por isso, o conhecimento sobre os possíveis cenários climático-hidrológicos e as suas incertezas se faz necessário para poder ajudar a estimar as demandas de água e também a definir as políticas ambientais de uso e do gerenciamento de água para o futuro. De qualquer forma os estudos desses cenários, sem dúvida, passam pelos oceanos pois esses regulam a temperatura e o clima do planeta ao realizar o transporte e a distribuição do calor em excesso absorvido pelos gases do efeito estufa.

Escrito por Leonan L. Cortez

Referências Bibliográficas

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GONZALEZ, R. A. A influência do evento El Niño – Oscilação Sul e Atlântico Equatorial na precipitação sobre as regiões norte e nordeste da América do Sul. Acta Amazônica, v. 43, n. 4, p. 469-480, 2013.

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https://www.economist.com/the-americas/2021/05/06/peru-ponders-whose-fish-are-they-anyway

CONTINI, Elisio; ARAGÃO, Adalberto. “O Agro Brasileiro Alimenta 800 Milhões de Pessoas”. Disponível em: https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/59784047/o-agro-brasileiro-alimenta-800-milhoes-de-pessoas-diz-estudo-da-embrapa. Acesso em: 06 out. 2021.

https://exame.com/economia/el-nino-intenso-pode-secar-hidreletricas-do-nordeste/

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