O que sabemos sobre o Oceano Profundo?

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O oceano profundo é um ambiente peculiar de características físico químicas quase que inimagináveis. Além da total ausência de luz, as baixas temperaturas, alta salinidade e pressão contribuem para a ideia de que o fundo oceânico seria o ambiente mais rigoroso do planeta. O que será que encontramos nas profundezas dos oceanos?

Até meados do século XIX, acreditava-se que o oceano profundo era desprovido de vida. A expedição do navio inglês HMS Challenger (1872-1876), conhecida como o marco dos estudos oceanográficos, abriu o conhecimento a respeito da biota que resistiria aos fatores extremos daquele ambiente.

A tecnologia e o conhecimento se tornaram cada vez mais desenvolvidos ao longo do tempo, possibilitando uma pesquisa mais avançada, porém a ciência do mar profundo ainda é muito limitada pela dificuldade da logística em torno deste ambiente e pela falta de financiamento. Hoje, conhecemos muito mais a Lua que o fundo dos oceanos. Mas por quê?

Box Core: Equipamento utilizado para coletar amostras de sedimento do fundo oceânico. Fonte: Deep Green

Fatores Físicos

As condições físicas ao longo da profundidade se tornam cada vez mais rígidas, obstáculos para o homem, que encontra dificuldade em realizar as pesquisas.

A pressão hidrostática, diferente da pressão atmosférica, cresce linearmente 1atm a cada 10 metros de profundidade e a diferença de densidade das massas d’água cresce à medida que se distancia da superfície do mar. No fundo oceânico a temperatura pode chegar aos 4°C e a salinidade alcança altas taxas, principalmente em altas latitudes. 

Nas regiões mais costeiras, a luz solar consegue penetrar em torno de 40 metros devido ao alto aporte de material particulado em suspensão que dificultam a entrada de luz na água, já no oceano aberto, a luz pode alcançar cerca de 200m, a chamada zona eufótica.

Organismos fotossintetizantes (fitoplânctons) não sobrevivem após essa camada, pois dependem da luz solar para produzirem sua própria energia. Já os organismos que não são capazes de produzir sua energia, os heterotróficos, possuem diversas adaptações e estratégias para a sobrevivência, como carapaças mais resistentes à alta pressão, apêndices sensitivos para localização, bioluminescência, escamas mais escuras para camuflagem, etc.

Hydrozoa do Filo Cnidaria – Fonte: Alexander Semenov

Fauna

A fauna é composta de organismos de diferentes filos: cnidários, poríferos, poliquetas, protistas, crustáceos, moluscos e peixes que são resistentes às condições físicas rigorosas e hostis e ainda conseguem lidar com a super competição por alimento.

A grande parte da fauna é composta por organismos depositívoros, ou seja, se alimentam de matéria orgânica depositada sobre o fundo, como restos de células mortas de algas, pelotas fecais de origem animal, cadáveres de peixes e cetáceos, etc. São poucos os organismos que conseguem explorar e caçar seus alimentos neste ambiente.

Carcaça de Baleia sendo devorada por organismos detritívoros – Fonte: Instagram do Olhar Oceanográfico

Acredita-se que a diminuição da biodiversidade se dá não só com o aumento da profundidade mas também com o aumento da latitude, porém, próximo ao Polo Sul, a biodiversidade é conservada, isto porque a Antártica exerce um papel importante na manutenção das espécies.

O peixe-dragão vive mais de duas milhas de profundidade no Atlântico leste – Fonte: National Geographic

Assoalho Oceânico

O assoalho oceânico possui diversas feições geológicas que diversificam o ambiente, assim como nos continentes, que vão desde calmas e extensas planícies abissais a perturbadas e pontuais fontes hidrotermais, localizadas principalmente no eixo das cordilheiras meso-oceânicas.

O ponto mais profundo dos oceanos está nas Fossas Marianas, localizada no Oceano Pacífico e sua profundidade pode chegar até 11km. Como comparação, o monte Everest, o ponto mais alto do mundo, possui quase 9km de altura!

As fontes hidrotermais estão normalmente situadas abaixo de dois mil metros de profundidade, em regiões de expansão e subducção do assoalho oceânico associadas às bordas das placas tectônicas, liberando um fluido superaquecido. A temperatura em locais próximos dessa emissão se aproxima dos 400˚C. Essas fontes abrigam organismos como bactérias quimiossintetizantes que utilizam moléculas reduzidas como o sulfeto de hidrogênio e o metano para a produção primária de matéria orgânica.

Fumarolas formam, espontaneamente, as moléculas básicas para a vida – Fonte: Revista Galileu

Ainda há muito a ser descoberto nesta vasta imensidão azul. Cientistas afirmam que atualmente conhecemos cerca de 1% dos oceanos e este mundo a ser explorado merece mais atenção e investimento, o que engrandeceria ainda mais nossa profissão.

Escrito por Roberta Bonturi

Referências Bibliográficas

Biologia Marinha, Edition: 2, Chapter: 16, Publisher: Editora Interciência, Editors: Renato Pereira, Abilio Soares Gomes, pp.383-398. Acesso em: 27/12/2018

BACHRATY, Charleyne; LEGENDRE, Pierre; DESBRUYÈRES, Daniel. Relações biogeográficas entre as faunas das valas hidrotermais de águas profundas em escala global. Pesquisa em Mar Profundo Parte I: Oceanographic Research Papers , v. 56, n. 8, p. 1371-1378, 2009.

TUNNICLIFFE, Verena; MCARTHUR, Andrew G.; MCHUGH, Damhnait. A biogeographical perspective of the deep-sea hydrothermal vent fauna. In: Advances in marine biology. Academic Press, 1998. p. 353-442.

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