Os desastres naturais ocorrem quando 3 fatores acontecem simultaneamente:
- A ameaça climática;
- A exposição em áreas de risco;
- A vulnerabilidade urbana.
Se juntarmos esses 3 fatores a explosão do desastre é certa.
Atualmente as cidades não crescem organicamente. Elas incham desconectadas entre bairros e de forma predatória com o meio ambiente natural. Como consequência, existe a perda de importantes serviços prestados pelo meio ambiente, que sustentam a funcionalidade da cidade como as trocas hídricas, a qualidade do ar e das águas, a estabilidade de encostas e dos solos, dentre os mais relevantes.
Descrição dos serviços ambientais que ajudam a sustentar a funcionalidade urbana:
- A natureza reservou as várzeas, faixa marginal de rios e lagoas bem como as baixadas como áreas para reservar a água em excesso das chuvas torrenciais. Hoje a expansão urbana nestes locais gera uma exposição perigosa para seus habitantes.
2. A impermeabilização do solo urbano impede o serviço da absorção de boa parte das águas de chuva que o solo natural é capaz e necessita para recarga das águas do lençol freático. A recarga do lençol freático mantém viva e permanente a vazão dos rios e córregos bem como o equilíbrio da distribuição das trocas hídricas ao longo do tempo. Assim não ocorre a vazão instantânea e volumosa dos rios que extravasam e invadem as ruas da cidade provocando situações de risco de perdas materiais e de vidas.
- A capacidade de escoar e drenar as águas das chuvas realizadas pela rede hidrográfica se perde quando a cidade assoreia a calha dos rios com lixo e entulho. O estrangulamento dos rios provoca o extravasamento das águas criando-se um remanso a montante inundando ruas e casas.
4. A estabilidade do solo e das encostas fornecidas pelas raízes da vegetação nativa, bem como a capacidade de retardar a corrida das águas realizada pela cobertura vegetal no topo dos morros se perde com a ocupação urbana e pelas queimadas. O acúmulo de lixo em áreas abandonadas provoca a combustão espontânea e queimadas que destroem a cobertura vegetal. A perda das florestas urbanas expõe o solo a erosão que assoreiam os rios inviabilizando a drenagem natural.
Quanto mais despreparada estiver a cidade contra as mudanças climáticas, tanto maior será o risco de perda de vidas, prejuízos materiais e paralisação das atividades econômicas .
Destruições causadas pelas chuvas do dias 9 e 10/04/2019 no Rio de Janeiro. Pela 4a vez a ciclovia Tim Maia em São Conrado desaba. A lagoa Rodrigo de Freitas amanhece marrom. Fonte: O Globo.
Hoje o custo das medidas corretivas e reparo dos prejuízos é 4 vezes maior do que a adoção de medidas preventivas. Dentre as principais medidas preventivas, citam-se:
- Planejamento urbano privilegiando a manutenção dos serviços da natureza como a reserva de áreas verdes (parques) e azuis (lagos) mesclados na malha urbana;
- Evitar e mitigar a ocupação de áreas de risco como encostas, várzeas e faixa marginal de rios;
- Redimensionamento e permanente manutenção da rede de drenagem pluvial contemplando áreas azuis para reservar as águas de chuva em excesso;
- Reflorestamento das áreas de risco e dragagem da rede hidrográfica;
- Desestimular a ocupação de áreas de risco através da maior taxação do IPTU;
- Maior eficácia nos serviços de lixo e esgoto;
E lembrem-se: Cidade resiliente às ameaças climáticas é aquela que é amiga da natureza.