Pesticidas e agrotóxicos: Ameaça nos corpos d’água costeiros

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Com o advento da agricultura em larga escala, surgiu a necessidade de exterminar as pragas que assolam até hoje as plantações. O desenvolvimento da química orgânica durante a Segunda Guerra e a consolidação do padrão tecnológico da agricultura, possibilitou o início do uso dos pesticidas como o principal meio de controle dessas pragas (SPADOTTO, 2006). Porém, as mesmas substâncias usadas a fim de melhorar a produção agrícola, trazem também danos colaterais irreversíveis à natureza e consequentemente a nós, seres humanos, devido a sua toxicidade e persistência no meio natural.

Os agrotóxicos possuem pontos negativos que ofuscam as suas vantagens como pesticidas. Por serem líquidos, conseguem facilmente permear o solo e são de alta volatilidade, ou seja, evaporam com facilidade. Tais propriedades facilitam o seu acesso  a lugares onde não deveriam estar. Sua capacidade de percolação no solo, possibilita a chegada desse produto ao lençol freático e a sua facilidade em evaporar faz com que haja a condensação desse material nas nuvens, facilitando a sua disseminação através da chuva. Dado aos fatos, é claro observar a forte ligação da presença do agrotóxico no ciclo hidrológico do planeta Terra, ou seja, independente de qual for o meio de transporte dos pesticidas, terá sempre como fim os rios, estuários, mares e outros corpos d’água.

Semelhante aos metais pesados, as propriedades físico-químicas dos pesticidas permitem sua maior persistência no meio natural e consequentemente nos organismos, quando consumidos. Essa persistência se dá por sua natureza lipossolúvel, isto é, serem solúveis na gordura animal. Tendo em vista a sua natureza lipossolúvel, quando contaminados, os compostos agroquímicos se dissolvem e se armazenam no tecido adiposo animal. Considerando a persistência das substâncias no organismo, elas passarão por um processo de bioacumulação e biomagnificação. Estas propriedades consistem no aumento progressivo de sua concentração em um organismo e o aumento da concentração da mesma substância em cada nível de toda a cadeia alimentar, respectivamente.

Além de afetar a nossa saúde e a dos organismos aquáticos, os pesticidas também são responsáveis por prejudicar o sistema ecológico do local de aplicação e arredores. Embora o seu uso seja exclusivamente para pôr fim nas espécies traiçoeiras que prejudicam o plantio, outros organismos que circundam o campo também são afetados diretamente, após entrar em contato com a substância. O livro “Primavera Silenciosa” de Rachel Carson explica muito bem a escala de danos e os efeitos negativos à biodiversidade que é retratada pelo silêncio da ausência da vida animal e insetos no campo. O fato de não haver diversidade de vida na área de cultivo não é somente um sinal de boa produtividade, mas é também um grande alerta para a anormalidade biológica no local e um grande dano ecológico.

“lucro acima de todos”
Charge – Gilmar Fraga (2019)

É explícito que as regulamentações que envolvem o agronegócio brasileiro permitem e estimulam o uso dos pesticidas em sua produção. Compostos agroquímicos como organofosforados, por exemplo, já foram estudados e evidenciados os seus efeitos nocivos ao meio ambiente e nos organismos. Entretanto ainda batem recordes de vendas para os grandes produtores agrícolas. Entendendo que a preservação e a saúde das águas costeiras e do mar dependem diretamente da qualidade das águas continentais, e sabendo que o comércio internacional brasileiro é composto predominantemente pelo agronegócio, é necessário que as empresas de agropecuária despertem para uma responsabilidade e consciência sócio-ambiental, visando a saúde do consumidor e da biodiversidade natural que ainda nos resta. Portanto, nós como consumidores finais desses produtos nocivos devemos também ter o senso de julgar esses procedimentos para nosso bem e de todo ambiente que nos cerca.

Escrito por João Pedro Rodrigues de Carvalho

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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