É de senso comum que com a temporada de verão chegando, as férias de milhares famílias estarão na praia para ter momentos de descontração e lazer. Nos períodos de dezembro, janeiro e fevereiro, a concentração de banhistas nas praias é maior, assim como os riscos decorrentes. Devido a exposição das pessoas ao mar, haja vista que a quase totalidade dos turistas que visitam a região objetiva o banho de mar, as ocorrências relacionadas aos acidentes aquáticos aumentam drasticamente.
Sabe-se que, embora seja lindo e contagiante, o mar possui perigos ocultos para grande parte da população. Desta forma ao conhecer alguns desses riscos reduz-se o risco de afogamento. Nos jornais muito se fala dos acidentes decorrentes das grandes ressacas e os cuidados que são necessários haver. Entretanto, além da ressaca, em períodos de calmarias existe a corrente de retorno que é uma das principais causas silenciosas de afogamento e de resgates nas praias (85%).
As correntes de retorno são formadas pelo refluxo de água que chega à praia empurradas pelas ondas. Estas variam em tamanho, largura, profundidade e intensidade de acordo com a morfologia da praia. Quando as ondas quebram, elas empurram a água que galga a declividade da praia para acima do nível médio do mar. Assim que a energia da água é dissipada, a gravidade atua no volume de água que ultrapassou aquele nível médio e empurra de volta formando as correntes de retorno que podem atingir velocidades de até 3m/s. Essas correntes arrastam o banhista com muita facilidade para dentro do mar, podendo em menos de 1 minuto afasta-lo das áreas rasas. O recorde mundial masculino de natação (César Cielo/BRA/2009) para 100 m livres é de 46,91 seg, o que equivale a uma velocidade de 2,13 m/s. No caso de nadadores não profissionais, consideram-se bons nadadores os que mantêm a velocidade média de 0,9 m/s durante 12 minutos. Isto explica o enorme risco que as correntes de retorno provocam para todos os banhistas, inclusive para os que são bons nadadores.
As correntes de retorno são visíveis ao longo da praia. Geralmente nos canais onde elas estão presentes, por serem mais profundos, normalmente não se observa as ondas quebrando. As ondas espumam e quebram na zona de surfe, ou seja, na face da praia onde geralmente dá pé para o banhista. Nos canais onde serpenteiam as correntes de retorno ocorre a remoção da areia que é arrastada em direção ao mar e depositada nas extremidades do canal, formando os bancos de areia.
A pouca familiaridade com o ambiente praial e/ou a falsa sensação de segurança, faz com que os banhistas desconheçam ou subestimem os perigos naturais existentes nas praias. O desconhecimento impede a possibilidade de evitá-los, aumentando assim a probabilidade de acidentes relacionados ao banho de mar. Nas praias podem ocorrer perigos permanentes e não permanentes. Os perigos permanentes são aqueles que nunca mudam de lugar. Uma vez conhecidos podem ser facilmente evitados. Já os perigos não permanentes são responsáveis pela maior parte das mortes por afogamento. Os perigos que variam ao longo do tempo podem ser ocasionados por buracos, repuxos, arrebentação das ondas, tipos diferentes de praias, correntes e organismos marinhos. A combinação desses perigos exige do banhista cuidado e atenção para serem respeitados por serem imprevisíveis.
Por isso, assim que chegar na praia, os banhistas devem se localizar e procurar eventuais sinalizações que indiquem os locais perigosos para evitar acidentes evitáveis. Nem sempre os locais mais calmos na praia representam zonas seguras pois essa calmaria indica uma corrente de retorno. Para se identificar onde apresenta esse fenômeno é necessário prestar atenção no mar. Se há uma região que apresenta ausência ou menor frequência das ondas se quebrando e nos seus limites à esquerda e à direita dessa área de calmaria houverem ondas se quebrando, cuidado pois pode haver uma corrente de retorno. Em praias urbanas geralmente os salva-vidas sinalizam esses locais perigosos com uma bandeira vermelha. O traçado da corrente de retorno se assemelha a uma espécie de corredor onde há movimentação da corrente e a água tem uma coloração diferenciada sendo mais clara ou mais escura devido a agitação da areia e a maior profundidade.
Caso aconteça de alguém cair nesta corrente em primeiro lugar é necessário manter a calma para não perder o controle da respiração. É recomendado que nade paralelamente à praia para sair do canal de escoamento da correnteza e evitar ser arrastado para alto mar. Logo após sair do canal da correnteza, será possível nadar de volta à costa ou conseguir ser socorrido por um salva-vidas.
Nas últimas décadas as pessoas vêm ocupando cada vez mais as áreas costeiras e, consequentemente, ocorrem mais casos de afogamento. Para se evitar esse risco, respeite as orientações dadas pelos salva-vidas nos avisos que estão ao longo das praias e nos sinais que o mar oferece.
Quem realmente conhece o mar é prudente e respeita a sua força para melhor usufruir de seus benefícios.
Escrito por Agnnes Marie Pereira Coelho de Carvalho
Referências Bibliográficas
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M. A. Noernberg, Universidade Federal do Paraná, Centro de Estudos do Mar Universidade Federal do Paraná, Centro de Estudos do Mar, Laboratório de Oceanografia Costeira e Geoprocessamento; Av. Beira Mar s/n. Caixa Postal: 50002. Pontal do Paraná – PR, 83255-000