Renaturalização das Praias: Adequação contra o avanço das cidades

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Quando a demanda por espaço físico para a expansão das cidades costeiras avança sobre as praias as mesmas ficam desprotegidas contra o ataque do mar.

Obra de alargamento da Praia de Copacabana, década de 1970

É preciso entender a importante função das praias conferida pela natureza. Como nada no meio ambiente é estático, e sim cíclico, o mar também tem momentos calmos seguidos por momentos de muita agitação. Assim são as ondulações e brisas suaves seguidas por um cenário de ressacas e de ventanias extremas. Todos nós percebemos que o clima está mudando principalmente para aqueles que convivem perto do mar. De uma hora para outra, um liso espelho d’água se transforma num mar revolto levando destruição e medo. As praias foram criadas para oferecer um escudo de proteção contra as ondas e correntezas de tempestade e um espaçamento para nos afastarmos de uma maré de tormenta. Quanto mais as cidades se debruçam próximos à linha d’água maior será o risco de inundações e de colapso das cidades costeiras.

Praia da Barra da Tijuca – RJ

O Balneário Camboriú é um exemplo de como a expansão da cidade sobre as praias fragilizou o seu maior patrimônio que são as praias. Além de perder o espaço de lazer e de contemplação, a população também perde a segurança contra a crescente intensidade dos ataques do mar.

Perda da proteção da faixa de areia e avanço do mar sobre as casas, Praia da Macumba – RJ

A cidade perdeu seu colchão de proteção contra as forças oceânicas na medida que grande parte das praias foram engolidas pelas calçadas, avenidas e edificações em função da valorização imobiliária. Na verdade, é um grande paradoxo, pois o uso exagerado pode levar a ruína do valor do usufruto do solo urbano pela insegurança do risco ambiental.  Torna-se prudente e imperativo recuperar o cenário praial primitivo através de um projeto de renaturalização do espaço costeiro. A engorda pelo alargamento e a reconstrução do perfil original de uma praia adaptada para dissipar a energia do mar em cenários de tormenta, corrigem erros de uma urbanização que não levou em consideração as cargas e os riscos ambientais existentes no local.

Engorda da praia de Camboriú. Fonte: Jornal Pomerode

Contudo, não é apenas o simples lançamento de enormes quantidades de sedimentos de forma indiscriminada que irá conferir estabilidade ao litoral. A reconstrução da praia requer uma composição granulométrica adequada dos sedimentos lançados para conferir uma declividade de praia segura para o banhista, um volume de material dragado suficiente para que as marés e as ondas emoldurem a morfologia desejada da linha de costa, e que o transporte longitudinal dos sedimentos devido a variação sazonal das correntes não obstrua nenhuma saída de rio ou provoquem assoreamento em outros pontos do litoral. Tudo isso depende de um cuidadoso entendimento científico das condições oceanográficas além de um correto projeto de engenharia ambiental. O entendimento da dinâmica praial somado com a previsão da evolução do cenário oceanográfico futuro são condições importantes para garantir os resultados desejados.

Obra de recuperação da praia de Camburiú – SC. Fonte: Prefeitura de Camburiú, 2021

 Para um país pródigo em inaugurações de obras, mas carente de ações de manutenção, vale um alerta. É preciso haver a responsabilidade do acompanhamento através do monitoramento da nova praia e da evolução das condições climáticas e oceanográficas, pois se trata de uma obra viva e como tal requer cuidados periódicos.

Sem praias de proteção o mar atinge diretamente as edificações urbanas

Uma nova era inicia para o gerenciamento das praias urbanas onde as estruturas moles dos sedimentos e vivas das estruturas orgânicas (vegetação) podem conferir uma eficácia muito maior do que as tradicionais estruturas duras (muros e enrocamento) para conter o avanço do mar e a agressividade das mudanças climáticas.

Escrito por: Prof. David Zee

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