Trote Ecológico: possíveis soluções para a problemática do lixo nos oceanos

Square

Nós, graduandos 2019.1 e participantes do Projeto Olhar Oceanográfico, fomos convidados para o tradicional Trote Ecológico, coordenado pelo Projeto de Divulgação da Oceanografia (PRODIV), UERJ e Faculdade de Oceanografia (FAOC) que ocorreu no sábado 29 de junho, na Praia de Copacabana, localizada na Cidade do Rio de Janeiro.

Trote Ecológico nas areias de Copacabana no Rio de Janeiro.

Fonte: mapasblog

Neste evento, realizamos um mutirão para limpeza de praia e conseguimos, em apenas 3 horas, recolher mais de 74 kg de lixo da areia de Copacabana.

Começamos recolhendo os objetos menores: tampinhas de garrafa, canudos de plástico variados e muitas sacolas plásticas. Só com esses descartes, conseguimos encher 2 baldes por completo! Surreal, não é mesmo?! Continuamos a coleta e arrecadamos copos plásticos, garrafas de vidro, latinhas de cerveja, garrafas pets e bitucas de cigarro em abundância, perdidas nas entranhas dos canteiros de plantas dos quiosques.

Como resultado, mais de 74 kg de lixo coletados.

A grande quantidade de bitucas de cigarro encontrada na areia de Copacabana comprova o fato deste ser um dos itens do lixo mais presente nas praias do mundo, conforme vem sendo sinalizado por entidades de conservação. Este fato é preocupante pois os filtros de cigarro possuem acetato de celulose, um tipo de plástico, não são biodegradáveis, permanecendo por anos no meio ambiente. Eles ainda contêm fibras sintéticas e centenas de produtos químicos usados para tratar o tabaco.

Das areias das praias ou até mesmo dos bueiros e córregos, as bitucas de cigarro percorrem um sinuoso caminho e por fim acabam por poluir nossos oceanos. Nos mares, elas ficam por décadas, expondo risco aos animais marinhos que, por engano, podem ingeri-las como alimento.

Fotos de Karen Mason mostram animais se alimentando de bitucas de cigarros, itens do lixo mais encontrados nas praias do mundo.
Fonte: bbc

Recentemente, está circulando nas redes sociais uma foto de um pássaro, da espécie Rynchops niger, conhecido no Brasil como Bico-de-Tesoura ou Talha-mar, alimentando seu filhote com um filtro de cigarro em uma praia na Flórida, nos Estados Unidos. Esta imagem foi descrita como “dolorosa” pela Royal Society for the Protection of Birds (Sociedade Real para Proteção dos Pássaros), do Reino Unido. Tal entidade salientou que a natureza está lutando para se adaptar ao lixo humano.

Participantes do Olhar Oceanográfico premiadas
pela coleta de mais de 22 kg de lixo.

No Trote Ecológico, ao contrário, “lutamos” para salvar a natureza, E, como incentivo, quem mostrasse um maior desempenho na atividade, seria presenteado com livros da FAPERJ (Formação e Ocupação dos Litorais e Interações Homem-Meio).

Nós, integrantes do Olhar Oceanográfico, não deixamos por menos. Nosso esforço resultou em uma coleta de mais de 22 kg de lixo!!!

Triste mesmo foi comprovar que o destino desse lixo encontrado na areia muitas das vezes acaba sendo os oceanos.

Assim, cabe abrirmos um parêntese para refletirmos sobre a questão do lixo nos mares: pesquisas apontam que cerca de 80% desses resíduos sejam de origem terrestre e apenas os outros 20% se originem de atividades nos próprios oceanos, como cruzeiros, atividades de mergulho, pesca ou turismo. Então, concluímos que a ação de combate ao lixo nos mares tem que ter início em terra!

Esse assunto do lixo nos oceanos parece ser mais complexo do que imaginamos pois depois que ele é encontrado no ambiente marinho, ele passa a ser um problema de todos já que ele passa a não pertencer a ninguém de fato! Isso complica a gestão desses resíduos sólidos que possuem diversas proveniências e passamos a necessitar de colaboração não só regional, mas além-fronteiras para solucionarmos o problema, daí a sua complexidade.

Esquemático com as origens e quantidades de resíduos vertidos anualmente para os oceanos. (Gráfico: Vanessa Gonzalez Ortiz)
Fonte: poluiçãomarinha

Existem questões relacionadas com a gestão inadequada do lixo das cidades, os descartes incorretos de resíduos que são lançados deliberadamente nas lagoas e rios e no final irão desembocar nos estuários, chegando nas praias. Porém, pesquisas apontam que as medidas para solucionar as questões do lixo nos oceanos ainda são escassas e incipientes, tanto no Brasil como no exterior.

Ora, então podemos focar na prevenção: Como iremos descartar o lixo urbano? Será que necessitamos realmente de sacos de plástico novos cada vez que vamos às compras dos supermercados? Ou adotar novos hábitos como a compostagem do lixo em casa já diminuiria essa necessidade diária de consumo de sacolas plásticas?

Pelo mundo a fora existem políticas e legislações destinadas a melhorar a gestão de resíduos, aumentar a reciclagem e/ou reduzir os plásticos de embalagens, dentre outras ações que podem amenizar esses problemas de descarte de lixo que chega nos oceanos.

Sacolas convencionais devem ser substituídas por sacolas biodegradáveis com a nova Lei Estadual
(Foto: Andrezza Buzzani)
Fonte: sacolas

No Município do Rio de Janeiro já existe a Lei nº 6.458, de janeiro de 2019, que obriga os estabelecimentos comerciais e ambulantes a usarem e fornecerem canudos fabricados exclusivamente com material biodegradável e/ou reciclável. E, também a Lei Estadual nº 8.006/18 das sacolas plásticas que entrou em vigor em junho de 2019, fazendo com que os estabelecimentos comerciais substituam as sacolas usuais por modelos feitos com fontes renováveis com duas cores: a sacola verde é para produtos recicláveis e, a cinza, para resíduos orgânicos.

Estas leis são exemplos de alternativas para reduzir o excesso de plásticos descartado diariamente e assim contribuir para a preservação do meio ambiente. 

Outra alternativa é a conscientização ecológica da sociedade. Ao transmitirmos informações, participarmos de mutirões de limpeza de praias como esse do Trote Ecológico, estamos despertando a conscientização na população e mostrando que com pequenas ações cada um pode ajudar, isso é muito importante.

Patrocinadores do Trote Ecológico.

E mais, além de promover a integração entre os graduandos, o Trote Ecológico nos ajudou a vencer a timidez inicial e nos mostrou como dialogar com as pessoas para transmitir nossos conhecimentos sobre temas importantes para a sociedade relacionados com Oceanografia: impactos ambientais e preservação dos mares. Nada mais do que um treino de desenvoltura que precisamos ter para no futuro apresentarmos artigos em seminários nas diversas áreas de atuação da Oceanografia.

Percebemos o quanto é essencial disseminar o conhecimento e realizar um trabalho de conscientização com a população. Isso é muito valioso pois dessa forma a sociedade cria consciência de que se cada um adotar pequenas ações, iremos amenizar os efeitos causados pelos desastres ambientais e preservaremos o meio ambiente para as próximas gerações. 

Neste evento, também tivemos oportunidade de conversar com professores do curso que passaram experiências do início de suas carreiras, dificuldades e conquistas na busca do primeiro emprego, deixando a principal dica: para sermos um bom oceanógrafo mesmo que não tenhamos a princípio interesse, temos que focar nos estudos com a mesma intensidade nas diversas áreas de atuação da Oceanografia: Biológica, Química, Física, Geológica, já que o curso é interdisciplinar, ou seja, todas essas áreas se complementam e interagem entre si.

Como a Oceanografia é um curso mais novo, também precisamos divulgar seus objetivos e atuações para a sociedade conhecer melhor o trabalho do oceanógrafo, por isso a importância da nossa participação nessas atividades sociais.

Valeu pelo convite!

Maria Gabriella Baptista

(Fontes: https://www.eea.europa.eu ; https://www.bbc.com ; https://epocanegocios.globo.com/)

Comment

13 Replies to “Trote Ecológico: possíveis soluções para a problemática do lixo nos oceanos”

    1. Achava que viver no Rio de Janeiro tornaria mais fácil o descarte correto do meu lixo, mas me enganei. Onde posso descartar o que é rejeito? Já faço compostagem e evito plástico, mas ainda como carne e encontro plástico em muita coisa que compro (mesmo quan do analiso se preciso, antes de comprar). Afinal, onde descartar meus recicláveis, peles e ossos e o que não vai pra composteira?

  1. Caramba Gabí!
    Amei! Tem que conscientizar as pessoas mesmo! Elas não tem noção de quanto lixo acaba indo para o mar.
    Fantástico!!!

    1. Excelente matéria e parabéns pela iniciativa de vocês! Realmente ainda falta muita conscientização dos brasileiros em relação ao descarte do lixo no local adequado…infelizmente eu duvido que com esse governo atual a situação apresente alguma melhora…uma pena!

  2. Maria Gabriella

    Muito bom o seu artigo que vem de encontro com a necessidade de esclarecer a população da importância da preservação do ambiente, e ressaltando a importância da preservação dos oceanos e em consequência de toda vida nele existente.

  3. Parabéns pela iniciativa. Realmente é importante dispensar corretamente as bitucas de cigarro. Já fui fumante e sei o quanto é difícil jogar fora o cigarro. Que tal propor a instalação de depósitos para esse lixo por toda orla ? Aquele em formato de cano é simples e barato. Grande abraço.

  4. Excelente artigo! A sociedade precisa ter sua consciência ambiental despertada e o artigo cumpre o importante papel de alertar para isso. Parabéns pelo artigo.

  5. Muito maneira a iniciativa, são com ações assim que começa a mudança, parabéns!

  6. Que belo ato de compaixão com a natureza! São pessoas como vocês que me renovam a esperança de um futuro melhor tanto pro planeta como para humanidade

  7. Muito obrigada. Fico grata, de receber esses elogios, Felipe :))

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *