A engorda das praias: onde as ressacas são perigosas?

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A realidade das mudanças climáticas tem sido mais percebida em ambientes litorâneos de grande fragilidade como é o caso das cidades costeiras. Estes aglomerados urbanos geralmente são instalados em planícies costeiras onde qualquer alteração do nível do mar provocado pelas marés astronômicas e principalmente meteorológicas (ventos) promovem a invasão das águas e inundações nas suas áreas baixas. Além disso, as forças das ondas tem também atacado com maior agressividade as estruturas costeiras posicionadas para conter a fúria do mar com enorme risco de colapso.

As ressacas que ultimamente tem se abatido no litoral estão cada vez mais agressivas, acarretando em perdas materiais e de vidas bastante significativas.

            O risco de prejuízo/impacto é proporcional a três fatores:

  • Intensidade da ameaça/ressaca (A);
  • Vulnerabilidade do litoral (V);
  • Nível de Exposição (E)

Risco = Ameaça x Vulnerabilidade x Exposição

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O risco de acidentes ambientais é proporcional à intensidade do fenômeno (ressaca, ventanias e chuvas), multiplicado pela vulnerabilidade e pela exposição do elemento impactado (litoral, estrutura costeira, praias, etc.). Graficamente falando, a grandeza do risco é proporcional à área do triângulo formado pela ameaça, vulnerabilidade e exposição.

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Se conseguirmos anular qualquer lado deste triângulo, a área é zerada e o risco desaparece. Assim, se for possível não expor a edificação ao ataque da ameaça, não há risco de qualquer acidente ambiental. Quanto mais conseguirmos reduzir os lados do triângulo e, neste caso, se afastarmos a linha d’água das obras urbanas, menor será o risco.

A exposição da praia à também depende da maré. Em época de maré de sizígia (Lua nova e Lua cheia), a amplitude da maré aumenta permitindo maior acesso das ondas para áreas mais internas das praias. Portanto, em cenário de Lua Cheia ou Lua Nova, a entrada de ressacas frontais (perpendiculares à linha da praia) proporcionam maiores condições de exposição da praia.

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Figura 1: fases da lua em relação à amplitude de onde. Fonte: Epitácio

Além da maré astronômica (ação gravitacional do Sol e da Lua), ocorrem as marés meteorológicas (ventos). Os ventos, ao soprarem contra o litoral, empurram e empilham as águas oceânicas provocando uma sobrelevação do nível do mar chamada de maré meteorológica. Este incremento do nível do mar possibilita maior acesso das ondas agressivas em áreas mais internas do litoral aumentando a sua exposição às ressacas.

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Figura 2: Atuação do vento no empilhamento de ondas. Fonte: Amaral/Folhapress.

A composição geológica e o relevo também são elementos importantes para classificar a vulnerabilidade do litoral. Um litoral formado por rochedos é muito mais resistente do que uma praia formada por sedimentos finos (areia). Assim como um litoral raso e plano é mais vulnerável do que um litoral íngreme.

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Figura 3: atuação das ondas nas áreas expostas protegidas e não protegidas.

Praias largas, com presença de vegetação de restinga, são fatores que deixam o litoral mais resistente contra o avanço do mar. Quanto maior for a largura de praia, maior será o volume de sedimento a ser removido pelo mar. Quanto mais vegetação cobrindo a praia, maior será a dificuldade do mar e dos ventos de remover os sedimentos. Praias menos vulneráveis são aquelas que possuem maior largura, cobertura vegetal e ancoradas por afloramentos rochosos em suas extremidades.

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Figura 4: área de preservação de  restinga serve como proteção. Fonte: Serra ES

Assim, nem sempre uma ressaca forte é perigosa. A exposição (localização e direção de ataque das ameaças) e principalmente a fragilidade do litoral podem ser fatores determinantes dos riscos que sua praia está submetida. Proteger a vegetação de praia e mantendo as praias mais largas, afastando as construções contra o ataque do mar, são medidas preventivas para se evitar os desastres naturais. Entretanto em locais totalmente urbanizados e com construções já estabelecidas, a alternativa de proteção mais eficiente são as engordas das praias.

Em função das características granulométricas, podemos moldar a declividade da praia e mesmo a manutenção dos sedimentos utilizados para a engorda evitando-se a sua perda decorrente do ataque das ondas locais. Um exemplo emblemático de engorda artificial é a praia de Copacabana que na década de 1970 sofreu um aterro hidráulico de areias dragadas da enseada de Botafogo. Portanto a praia de Copacabana que hoje usufruímos, na verdade, não é original e sim fruto de uma intervenção antrópica.

Em situações de áreas costeiras densamente ocupadas e com estreitas faixas de praia frente a erosão do mar e a pressão de uso do solo urbano, torna-se necessário reforçar a resiliência do litoral através da engorda da praia. Este alargamento artificial da praia, como foi realizado na década de 1970 em Copacabana, proporcionou uma estabilidade adicional à orla. Assim, a engorda de praia, quando bem dimensionada e conduzida, traz inúmeros benefícios para a comunidade local.

Escrito por Roberta Bonturi

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