A Macumba e a erosão das praias cariocas

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O movimento das areias das praias de um lado para outro é consequência da dissipação da energia das ondas que se abatem no litoral. A maior ou menor quantidade de sedimentos transportados dependem da intensidade e da direção de ataque das ondas bem como a duração do mesmo.

No Rio de Janeiro o cenário de inverno costuma haver incidência das ondas provenientes de sudoeste. Em praias como Ipanema, São Conrado e Barra da Tijuca o banhista observa ondas vindas da direita para a esquerda. Nesta condição de inverno as areias são “varridas” da direita para a esquerda da linha de praia. Assim no inverno temos a retirada da areia do Leblon (a direita) e se encaminhando para o Arpoador (a esquerda) passando por Ipanema, ao centro. Neste caso tem-se erosão no Leblon (a praia se estreita) e deposição (assoreamento) no Arpoador, a praia se alarga.

No verão a situação é inversa com ondas incidindo da direita para a esquerda. Tal cenário favorece a erosão da praia do Arpoador e o transporte dos sedimentos para a direita, em direção ao Leblon, onde ocorre a deposição da areia e consequente alargamento da praia.

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Figura 1: Ondas provenientes da direção S/SE (verão) e SW (inverno) na orla de Leblon, Ipanema e Arpoador.

Neste ano, 2017, anomalamente as ondas estão entrando sobre o litoral carioca de sul e sudeste, mesmo no inverno. Esta direção de incidência das ondas normalmente só acontece no verão.  Assim os 6 meses do ano passado (outubro 2016 a março 2017) correspondentes a primavera e verão as ondas entravam normalmente de sul a sudeste. Este cenário se perdurou no outono e inverno seguinte (abril a setembro de 2017) de forma diferenciada aos anos anteriores. Iniciando a primavera (outubro 2017), a mesma direção de sul e sudeste, de ventos e ondas se perduraram fazendo transportar a areia da esquerda para a direita no litoral carioca.

Tal fato explica a erosão acentuada (perda da largura das praias) no Arpoador, no início da Praia da Barra (quebra-mar da Joatinga), e principalmente na Praia da Macumba. Todos locais citados encontram-se no lado esquerdo dos arcos de praia correspondentes.

A Praia da Barra, próximo ao quebra mar da Joatinga que normalmente tinha largura de 350 a 450 metros, hoje (outubro 2017) não tem mais que 150 metros. Inclusive a rampa de acesso na sua extremidade já se encontra destruída com o ataque das ondas.

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Figura 2: Foto da rampa de acesso ao píer destruída devido a ação das ondas e erosão (out/17).

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Figura 3: Croqui de situação de erosão no quebra-mar da Barra (out/17).
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Figura 4: Perfil de praia característico de erosão acentuada na praia do quebra-mar da Barra (set/17).

A Praia da Macumba após 2 décadas (1990 a 2010) de dragagem da embocadura do Canal de Sernambetiba e posterior retirada equivocada dos sedimentos empilhados na margem ao invés de repor na praia, provocou a fragilização da largura da praia. Assim, qualquer ressaca mais rigorosa é capaz de desestabilizar a Macumba, cuja erosão atinge facilmente a murada do calçadão provocando seu colapso. A continuar esse cenário que se espera nos próximos 6 meses é fácil concluir que a erosão tem grande chance de atingir as edificações e as casas da Praia da Macumba.

Neste sentido recomenda-se tomar medidas emergências, que não são definitivas, para evitar tragédias maiores que correm grande risco de acontecer no próximo verão (janeiro e fevereiro 2018), ou seja, avançar sobre as edificações da orla

Para promover as medidas definitivas, infelizmente, já não existe mais tempo hábil para serem realizadas até janeiro de 2018, quando se suspeita ser a época de colapso das edificações a beira mar.

Novamente o velho ditado acontece: “Só se coloca cadeado depois da casa arrombada”. Neste cenário as medidas emergenciais são sempre mais caras que as medidas preventivas.

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Figura 5: Porção a esquerda da Praia da Macumba totalmente submersa sob ataque das ondas (set/17).
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Figura 6: Colapso das estruturas de suporte do calçadão na orla da Macumba (set/17).
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Figura 7: Detalhe da fuga de material por trás dos muros de contenção do calçadão da praia da Macumba (set/17).

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Por Prof. David Zee e Alexandre Carlos Barreto

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0 Replies to “A Macumba e a erosão das praias cariocas”

  1. É bom ler texto técnico sobre a erosão nas praias do Rio de Janeiro.
    Chega de palpites.
    Parabéns!

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