Cemitérios de navios – um perigo para os oceanos

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Os cemitérios de navios, como estão denominando os locais de despejo de navios abandonados, vêm aumentando cada vez mais em todo o mundo. Na maioria das vezes o desmanche desses navios acontecem em países mais pobres, onde a mão de obra é mais barata e não há muitas leis ambientais de fiscalização.

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Cemitério de navios de Nouadhibou, na Mauritânia, um dos maiores do mundo. Fonte: Green Savers.

O desmanche ou desmobilização de navios de carga, e mesmo de passageiros, é da ordem de 800 embarcações/ano e requer tecnologia e equipamentos especializados para se evitar o grande risco de impactos ao meio ambiente marinho e costeiro.

Primeiramente, e o pior deles, é o simples abandono das embarcações em águas costeiras onde a procriação da vida marinha se processa com mais intensidade. A biota juvenil é extremamente sensível e frágil aos produtos químicos que são emanados destes navios abandonados à sua própria sorte e de forma irresponsável. Isto se não falarmos também da grande concentração de pessoas que ficam expostas a gases venenosos, metais pesados e substâncias químicas tóxicas.

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Pescadores recolhem rede perto do Abreu e Lima, petroleiro que ganhou o apelido de sucatão na vizinhança, na Ilha do Governador. Foto: Custódio Coimbra/ Agência Globo.

A gradual deterioração do casco das embarcações desprende uma infinidade de produtos químicos e ferrosos, extremamente danosos a biota marinha. Além disso, o consequente afundamento destas carcaças obstrui as trocas hídricas de baías e estuários, sendo também uma enorme ameaça à navegação, tornando-se verdadeiras armadilhas para o transporte marítimo e uso das águas costeiras.

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Os navios abandonados chegam e despejar toneladas de poluentes por ano nos oceanos. Fonte: Revista Galileu.

            Também muito perigoso é o desmanche destes navios sem técnicas e equipamentos adequados, com registro de inúmeros acidentes com mortes e invalidez permanente dos trabalhadores. Nestes desmanches sem a melhor técnica, também ocorrem vazamentos de combustíveis, óleos, produtos químicos corrosivos, resíduos orgânicos e inorgânicos de resto de cargas não retiradas dos porões destes navios. Estes produtos contaminam de forma agressiva estas áreas costeiras extremamente frágeis e sensíveis podendo destruir em questão de anos todo um ecossistema construído em séculos pela natureza. A gradual deterioração de materiais ferrosos, plásticos, derivados do petróleo, dentre outros podem facilmente se transformar em elementos nocivos e com vida útil de longo prazo, afetando de forma permanente o meio ambiente. Dentre estes subprodutos destacam-se os metais pesados (chumbo, cádmio, zinco, mercúrio, estanho, níquel, etc), amianto, asbestos, resíduos de tintas anti-incrustantes, substâncias químicas cancerígenas, além de vapores tóxicos aprisionados nos porões.

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Cais de desmanche de navios em Chittagong, Bangladesh. Operários trabalham sem luvas, capacetes ou máscaras. Fonte: Revista Galileu.

No Brasil o principal problema é o abandono dos navios em fim de vida, muito observados na Baía de Guanabara, Baía de Todos os Santos, Baía de Paranaguá e Baía de Santos e São Vicente. Só na Baía de Guanabara já foram contabilizados e identificados 52 carcaças de navios e embarcações de grande porte. Da mesma forma, é possível observar inúmeros barcos de pesca, passeio e mesmo de carga de pequeno porte abandonados, afundados e espalhados ao logo do espelho d’água da Baía de Guanabara.

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Navio abandonado na Baía de Guanabara. Foto:  Estefan Radovicz / Agência O Dia.
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Morador de uma cabine de comando de uma embarcação abandonada no Barreto, em Niterói. Do convés, ele observa pelo menos outras seis carcaças que apodrecem na Baía de Guanabara. Fonte: Custodio Coimbra / Agência O Globo.

Uma vez ciente destes riscos ambientais que navios em fim de carreira podem trazer para a humanidade e o meio ambiente, a sociedade tem agora a responsabilidade de cobrar novas posturas e ações pela desmobilização correta destas embarcações sob pena de cumplicidade. Neste sentido as entidades representativas e pertinentes à questão tem a responsabilidade de conduzir através de pessoal técnico qualificado ações políticas, sociais e técnicas criando estratégias, opções e instrumentos objetivando o desmonte seguro e ambientalmente saudável dos navios em fim de vida.

 Por Alexandre Carlos Barreto

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