Erosão de Praia: Impactos e Soluções. Estudo de caso, Jabaquara Paraty – RJ

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No dia 16 de setembro de 2016 diversas praias sofreram com a força do mar devido à passagem de um ciclone extratropical no sul do país que provocou ventos fortes na direção da Costa Verde, ocasionando fortes ressacas. As imagens abaixo demonstram os impactos causados por ressacas na praia de Jabaquara, Paraty – RJ que nos últimos anos vêm sofrendo bastante com esse fenômeno.

Nas últimas décadas, o litoral brasileiro vem sofrendo uma intensa ocupação sem que mecanismos de adequação necessárias para sua sustentabilidade sejam efetivamente observadas e implantadas. Somando-se a isso, os bruscos efeitos das mudanças climáticas provocam enormes prejuízos e transtornos tanto para o homem como para os ecossistemas costeiros.

Neste sentido, vale a pena descrever um caso que pode representar muito bem os possíveis problemas ambientais bem como as alternativas de soluções. Dentro destas destaca-se a renaturalização das praias como estrutura natural para combater a erosão costeira.

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Figura 1: Na primeira imagem, ressaca do dia 14 de junho de 2016 afetando área entre os quiosques Caminito e Capitania dos Copos.
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Figura 2: Ressaca no dia 16 de setembro de 2016 resultante do ciclone, afetando o mesmo local da Figura 1. Fonte: Marcos Landim/TV Rio Sul.

O município de Paraty – RJ situa-se na orla da Baía de Paraty (Figura 3), a qual tem uma extensão aproximada de 180 quilômetros. Sua concavidade está voltada na direção nordeste e, portanto, bastante abrigada contra ventos de sul e sudeste, característicos de frentes frias. Pela direção da abertura da boca da Baía de Paraty, o litoral da cidade encontra-se exposta a ventos e ondas provenientes da direção leste e nordeste.

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Figura 3: Imagem de satélite mostrando as direções críticas de incidência das ondas na Praia do Jabaquara.

O principal problema da praia de Jabaquara encontra-se na sua porção sul (Figura 4), onde se observa um acentuado estágio de erosão acrescido com o assoreamento na embocadura do rio Jabaquara.

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Figura 4: Áreas mais impactadas em função da prioridade de recuperação.
  1. Áreas Emergenciais – trechos com um elevado grau de erosão, largura de praia reduzida, pouca ou nenhuma vegetação de restinga e com edificações próximas a linha d’água;
  2. Áreas Prioritárias – trechos com um elevado grau de erosão, pouca ou nenhuma vegetação de restinga, largura de praia reduzida, mas sem edificações próximas a linha d’água;
  3. Áreas Passíveis de Recuperação – trechos com pequeno ou médio grau de erosão, largura de praia razoável e vegetação de restinga parcialmente debilitada;
  4. Áreas de Vegetação Exuberante – trechos sem processos erosivos, com extensa largura de praia e vegetação de restinga exuberante.

A redução drástica da faixa emersa da praia do Jabaquara, além de frequentes avanços da linha d`água sobre os quiosques e mesmo calçamento na porção sul da praia de Jabaquara prejudicou as atividades turísticas, lazer e mesmo o comércio local. Além disso, a ameaça de colapso das edificações por ocasião das ressacas e a elevação do nível do mar em função das marés de sizígia e meteorológica. Da mesma forma a vegetação de mangue e restinga sofreram danos com o avanço do mar (Figura 5).

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Figura 5: Erosão avançada na margem esquerda do rio Jabaquara expondo as raízes do manguezal. (23/01/2014)

Dentro das premissas de ações exequíveis e que interfiram minimamente no cenário natural além de potencialmente restauradoras de processos/serviços de natureza seria um projeto de renaturalização praial.

A primeira providência seria estabilizar a embocadura do rio Jabaquara através da extensão e plantio da vegetação de mangue e restinga afetadas pela erosão (Figura 6). Através do replantio do mangue, cujas mudas devem ser fixadas com pedras sobrepostas nos sedimentos existentes, realizar-se-á o enrijecimento do prolongamento de um eixo imaginário em direção a ser determinada pelas condicionantes oceanográficas (direção predominante de penetração das ondas e nível das marés) e geomorfológicas da região (posição das ilhas e lages submersas) na embocadura do rio Jabaquara. Tal procedimento visaria manter a abertura da comunicação do rio com o mar.

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Figura 6: Áreas de revegetação: mangue, em preto e restinga, em laranja.

À medida que este esporão vegetal fosse fixado e concomitante durante a sua construção, pequenos volumes de sedimentos mais grosseiros podem ser lançados nos pontos de menor largura de praia e, portanto mais frágeis (Figura 7). O transporte longitudinal de sedimentos iria definir um novo perfil de equilíbrio praial, auxiliado pela interceptação destes sedimentos no esporão vegetal que estaria sendo implantado concomitantemente.

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Figura 7: Área de engorda de praia.

Através da engorda da praia (reposição dos sedimentos varridos pelo mar) ocorreria um reforço do corpo praial e assim seria recuperada a estrutura natural de proteção contra o ataque do mar (ondas e marés), ou seja, recupera-se a estabilidade da praia. Com a recuperação e replantio da vegetação de mangue e de restinga, reforça-se a praia como estrutura de resistência contra o ataque das ondas e ventos.

glossário:
maré de sízigia – maré com maior amplitude devido ao ciclo lunar
maré meteorológica – maré padrão de acordo com a lua, independe de sua fase

Comment

One Reply to “Erosão de Praia: Impactos e Soluções. Estudo de caso, Jabaquara Paraty – RJ”

  1. interessante, bem aqui certas áreas, não evidência tanto por ser o nível do mar, como nos outros litorais, que a gente vê desbarrancar !!

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