NAUFRÁGIO DAS CIDADES COSTEIRAS

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A maior absorção da radiação solar que atravessa uma atmosfera cada vez mais poluída por gases do efeito estufa (gás carbônico, metano, óxido nitroso) redunda no aquecimento do planeta. O calor em excesso acaba evaporando mais água da superfície dos oceanos e mantém um maior volume de água na atmosfera no estado gasoso. Assim, as chuvas se tornam mais intensas e volumosas quando se precipitam nos continentes. Em ambientes planos e próximos de espelhos d’água naturais (rios, lagoas, estuários e orla marinha), maior é o risco de acúmulo das águas promovendo as enchentes e inundações. O risco de acidentes ambientais nas áreas marginais potencializa-se em função dos desequilíbrios climáticos que se intensificam ano após ano. 

O Brasil por ser um país tropical tem suas estações (verão e inverno) melhor caracterizadas pelas chuvas (úmido ou seco), ao invés da temperatura que em geral se mantém elevadas ao longo do ano de maneira relativamente uniforme. Os efeitos extremos das mudanças climáticas representadas pelas chuvas intensas, tem castigado muito as cidades litorâneas espremidas entre as montanhas e o mar ou mesmo esparramadas nas planícies rasas ao nível dos espelhos d’água naturais. As manchas urbanas sofrem a pressão do acúmulo das águas na faixa costeira seja pela flutuação pontual do nível do mar de um lado e por outro lado pelas águas pluviais que escoam das montanhas e transbordam dos rios que serpenteiam as planícies costeiras.

O assoreamento dos rios e os aterros nos corpos d’água costeiros provocados pela ocupação humana limitam o livre escoamento das águas contribuindo assim com as inundações das zonas costeiras. Neste contexto nas próximas décadas a gestão das cidades costeiras será marcada pela capacidade de escoamento rápido das águas muitas vezes contaminadas de lixo e esgotos urbanos. A previsão, além do monitoramento pluviométrico e da flutuação do nível do mar em áreas de forte ocupação antrópica será um dos pontos fundamentais a considerar pelo futuro gestor urbano. Sem essas informações e conhecimento de gestão, as cidades costeiras irão naufragar e ficar submersas com a pressão do excesso de águas. Não menos importante será a identificação das áreas mais suscetíveis as inundações ou mesmo de desmoronamentos que serão premissas básicas para uma gestão segura e eficiente.

A percepção social de insegurança frente aos acidentes ambientais como enchentes e ressacas do mar vão exigir respostas claras e efetivas. Sem informações e ações efetivas que garantam a segurança e bem estar social, a depreciação econômica desses espaços costeiros valiosíssimos será uma realidade.

Levantamentos científicos recentes de centros de pesquisas de ponta, tem revelado que é crescente a intensificação das tempestades, principalmente no hemisfério sul. Estados brasileiros como SC, PR, SP e RJ registram aumento sensível do número de acidentes ambientais. Particularmente, 2022 apresentou um ano de forte influência do fenômeno La Niña. Tal cenário climático facilita a penetração das frentes frias vindas da Argentina em direção ao nordeste brasileiro, reduzindo assim as temperaturas e espalhando chuvas volumosas que afetam principalmente as cidades costeiras do Brasil, de sul a norte. As enchentes aconteceram desde o litoral do RS até o RN. Tal situação ocorre não somente devido as chuvas torrenciais como também à elevação pontual do nível do mar provocado pelas marés astronômicas somadas as meteorológicas e mesmo as de tormenta. As cidades costeiras ficam extremamente vulneráveis em função da pressão das águas continentais de um lado e oceânicas de outro.

A solução passa pela formação de recursos humanos preparados e com conhecimento das causas e dos efeitos desses fenômenos climáticos e oceanográficos. A necessidade de adequação e mesmo adaptação a esses novos cenários demandará profissionais com conhecimentos aplicados sobre as Ciências da Terra (Oceanografia, Geologia, Geografia e Climatologia) além das Humanas (Urbanismo, Economia, Sociologia e Comunicação). Saber considerar e interpretar todas essas disciplinas será fundamental para se atingir os resultados desejados de mitigação e de prevenção contra esses desdobramentos climáticos, ambientais e humanos visando uma melhor qualidade de vida nas cidades costeiras do Brasil.

Escrito por: David Zee

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

https://diariodorio.com/calcadao-do-leblon-e-novamente-atingido-por-ressaca-maritima/

https://outraspalavras.net/outrasmidias/o-naufragio-das-cidades-costeiras/

https://agbi.com.br/impactos-da-la-nina/

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