Navio Hidroceanógrafico Cruzeiro do Sul: a experiência de embarcar na Marinha do Brasil

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Para quem ainda não conhece o blog, sou a Gabriela Brandão, estudo Oceanografia na UERJ, e desde 2016 escrevo por aqui. Recentemente, eu e meus colegas de faculdade tivemos a oportunidade de participar de um embarque no navio hidroceanográfico da Marinha do Brasil, o Cruzeiro do Sul, e gostaria de compartilhar com vocês como foi essa experiência.

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Navio Hidroceanográfico Cruzeiro do Sul, o navio de pesquisa da Marinha que embarcamos.

A Marinha do Brasil possui o Grupamento de Navios Hidroceanográficos, que tem como principal objetivo o comprometimento com o Serviço Hidroceanográfico e a Segurança da Navegação no país, além da aquisição de dados hidroceanográficos, todos de suma importância para a sociedade brasileira.

O nosso grupo, composto por 12 alunos, embarcou no navio hidroceanográfico Cruzeiro do Sul durante 11 dias, com origem em Niterói e destino à Fortaleza. Fazia parte da Comissão Oceano Norte V e seu principal objetivo era a coleta de dados oceanográficos em cumprimento ao Plano de Coleta de Dados Meteorológicos e Oceanográficos (PCD-METOC) da Diretoria de Hidrografia e Navegação (DHN).

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Rota realizada pelo navio Cruzeiro do Sul em sua primeira pernada da comissão. Fonte: adaptado de Google.

O foco dessa comissão era analisar o alcance da pluma (encontro de águas de diferentes densidades dos rios e do mar) do Rio Amazonas e apoiar o Programa Nacional de Boias (PNBOIA). O PNBOIA é um programa que tem por objetivo obter e disponibilizar à comunidade dados meteorológicos e oceanográficos nas áreas oceânicas de interesse do Brasil e pode ser acessado por qualquer pessoa no link.

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Chegada dos alunos da UERJ ao navio Cruzeiro do Sul.

Durante nosso tempo de embarque, pudemos acompanhar e conhecer as principais atividades realizadas nessa comissão:

  • Lançamento de bóias de deriva: uma rede de derivadores rastreados por satélite da NOAA. Os parâmetros coletados foram: temperatura da superfície do mar, corrente superficial, pressão atmosférica e vento na superfície do mar.
Bóias de deriva pertencentes ao navio e que seriam lançadas para o projeto.
  • Lançamento de XBT: o XBT (eXpendable BathyThermograph) é um aparelho batitermógrafo descartável que possui um sensor de temperatura e um de pressão, e é lançado por gravidade por um fio metálico que envia as medições para o navio. Ele possibilita a apuragem da temperatura em tempo real e proporciona uma noção da camada de mistura. Infelizmente, mesmo sendo um equipamento de alto custo, é descartado no fundo oceânico sendo usado apenas uma vez e seu material é composto por plástico. Ainda é escolhido em relação a outros equipamentos devido a sua facilidade de uso e tempo de manuseio.
 Lançamento do projétil / Projétil, lançador e bateria do XBT
  • Coleta de amostra geológica: as amostras geológicas normalmente são coletadas pelo guincho geológico (um cabo de aço comum) acoplado normalmente a um dos amostradores: box corer e draga.
O box corer (1) e a draga são equipamentos utilizados para retirar amostras geológicas do fundo marinho.
  • Comparações meteorológicas e coleta de dados automáticos: dados meteorológicos são coletados manual e automaticamente.
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Estações meteorológicas automáticas do navio.
  • Análise química de oxigênio dissolvido: a amostra de água para determinação do oxigênio dissolvido foi demonstrada para nós com o uso do CTD. O CTD (sigla derivada do inglês: conductivity, temperature and depth) é um instrumento oceanográfico que possui sensores para registrar condutividade, temperatura e pressão na coluna d’água. As medidas de condutividade e pressão podem ser convertidas em salinidade e profundidade, respectivamente. Além dos três sensores básicos, o CTD também pode ser configurado com outros sensores a fim de medir mais parâmetros da água, como pH, oxigênio dissolvido, turbidez e fluorescência.
Aprendendo como funciona e se utiliza a rosete CTD.

E no encerramento do embarque, tivemos uma surpresa que me deixou muito feliz! Tivemos a honra de receber o nosso certificado da Tenente Natascha, a primeira mulher da Marinha qualificada para manobrar um navio! Ela e mais 11 alunas entraram na primeira turma de mulheres da Escola Naval em 2013 e se formaram em 2017. Foi muito legal poder ter a experiência de conversar e conhecer um pouco da sua história e de seus desafios.

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Tenente Natascha, a primeira mulher capacitada pela Marinha a fazer manobra de navio.

Por fim, gostaria de salientar a importância desse embarque. Foi uma experiência relevante para o nosso aprendizado, mesmo que, infelizmente, não tendo chegado ao Rio Amazonas e realizado as coletas. Os navios de pesquisa da Marinha são de suma importância para o nosso país e o Navio Hidroceanográfico Cruzeiro do Sul funciona como um “Laboratório Nacional Embarcado”. É um projeto em que a própria sociedade irá desfrutar, com o propósito de proporcionar ao Brasil mais uma plataforma de coleta de dados oceanográficos, somando e incrementando o embarque de pesquisadores, professores e alunos.

Gabriela Brandão

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