OS OCEANOS PRECISAM DA SUA DECISÃO

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Queremos crer que o negacionismo climático de alguns seja apenas uma fração da perplexidade de muitos. Afinal, todos que têm alguma relação com o mar percebem a sua crescente agressividade ao longo das últimas décadas provocada, sem dúvida, por um evidente desequilíbrio. Na verdade, os oceanos estando intrinsecamente ligados com a atmosfera (clima) estes absorvem grande parte do desequilíbrio do climático antes de refletirem seus efeitos nos continentes onde o homem está instalado. Ao conseguirmos assimilar essa primeira etapa de aceitação, de uma nova realidade climática, fica mais fácil resolver as etapas seguintes da prevenção. Ao reconhecer a origem, consegue-se atenuar com mais objetividade e eficácia os efeitos adversos que ameaçam o frágil equilíbrio humano. Esse movimento de defesa inicia-se com as ações rápidas de mitigação dos impactos para fazer frente à emergência climática (demandas de curto prazo). Uma vez atendido os impactos imediatos será a vez das ações preventivas de adequação das cidades costeiras frente às reações oceanográficas de médio prazo. Para ações de longo prazo, estas evoluem na direção da adaptação do homem para o novo cenário oceanográfico onde será necessário inovar e construir modelos inovadores para o desenvolvimento humano.

Torna-se urgente virar o disco da falta de ação (perplexidade) e reagir de modo preventivo para atender os desafios futuros que nos esperam. Na medida que percebemos as reações dos oceanos representadas pela evolução da agressividade ao longo do litoral do mundo todo, acende-se o alerta da insegurança social na mente das pessoas. No momento que os oceanos nos respondem os mesmos já absorveram silenciosamente grande parte das consequências do aquecimento do planeta. Pela grande capacidade térmica das águas oceânicas as mesmas já absorveram 93% do calor adicional do efeito estufa promovido pelo homem. As bacias oceânicas que ocupam mais de 2/3 da superfície do planeta, já acumularam todo volume de água expandida pelo aumento da temperatura média dos oceanos além do gelo derretido dos polos e dos cumes nevados estando por um triz para transbordarem. Outro magnífico serviço ambiental prestado silenciosamente pelos oceanos, nos dando tempo para nos recuperarmos da nossa perplexidade, é a fixação de parte do carbono liberado pelo consumo de combustíveis fósseis. Pois é, os oceanos capturam e fixam 28% do carbono antropogênico liberado na atmosfera. Mas o tempo está se esgotando e os oceanos já não tem mais fôlego para continuar aguentando a nossa incapacidade de reação efetiva. Já é tempo de parar de negociar e começar a agir de fato.

 Os oceanos estão segurando e retardando como podem a irresponsabilidade humana da nossa conveniência atual de deixar toda conta ambiental para as futuras gerações. Os pesquisadores que conhecem o problema já alertam diariamente os sinais do desequilíbrio planetário. Contudo, os governantes que deveriam liderar ações para reverter o modelo de desenvolvimento humano inadequado não conseguem responder e muito menos decidir.

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Os oceanos já sinalizam que não conseguirão segurar a onda por muito mais tempo. O limite de tolerância do mundo marinho sem alterar de modo definitivo as suas características primárias está se esgotando. Sinais evidentes do custo de alterações das suas características físicas são as bruscas e frequentes flutuações do nível do mar que atingem inúmeras zonas costeiras continentais e insulares do planeta. A gradual elevação da temperatura de suas águas altera o balanço do ciclo das águas do planeta e as condições da vida submarina. Quanto as características químicas a acidificação dos oceanos e o desequilíbrio dos ciclos biogeoquímicos já é uma realidade. A poluição gerada indica que enquanto os oceanos moderam a velocidade da evolução dos impactos o homem está perdendo tempo e não está fazendo a sua parte.  

É preciso agir com objetividade e lucidez pois não teremos uma segunda chance. Não existe planeta B. Enquanto os oceanos prestam inestimáveis serviços de atenuação das reações adversas do desequilíbrio climático, os governantes perdem tempo e parecem querer empurrar os problemas uns aos outros. Ou seja, ao invés de somarem esforços de recuperação parecem querer dividir as suas responsabilidades. A sociedade precisa trazer para si essa agenda de sobrevida do planeta. Somente com uma opinião pública coesa e lúcida é que conseguiremos reverter essa vontade política omissa e sem futuro.

Escrito por David Zee

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

Osborn,D.. Contrasting futures for ocean and society form diferente anthropogenic CO² emissions scenarios. www.sciencemag.org. July 2, 2015. Vol.349, issue 6243.

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