Poluição atmosférica: bem mais que Efeito Estufa

Square

A humanidade, desde seu engatinhar no desenvolvimento, sempre se utilizou da natureza e recursos naturais para seu avanço. Esse avanço se tornou muito mais acentuado a partir da Revolução Industrial, mas somente na metade do século XX que os primeiros alertas acerca da degradação ambiental começaram a aparecer, e suas consequências a serem descobertas. E assim, começamos a descobrir os efeitos tóxicos da poluição atmosférica, que afeta não apenas o nosso ar, mas também nossas águas através da interação desses dois meios. Os oceanos e rios também sofrem com a poluição atmosférica quando, ao se dissolverem nas suas águas, poluentes afetam direta ou indiretamente os animais marinhos e toda a cadeia ligada a eles (como aves marinhas), além de nós humanos, que as consumimos de diversas formas.

Muitas são as fontes de poluição atmosférica, e muitos dos poluentes lançados ao ar são nossos velhos conhecidos: monóxido de carbono (que se transforma em dióxido de carbono), gás metano, compostos de enxofre, entre outros. São velhos conhecidos pois são os mais ligados ao poderoso efeito estufa. Mas você sabia que há outros compostos lançados à atmosfera que são tão ou mais nocivos diretamente à saúde humana?

imagem 1
Figura 1: Segundo a Folha de São Paulo, 1 em cada 10 mortes decorrem de complicações por poluição atmosféricas. Fonte: Folha de São Paulo, 2016.

Por exemplo, temos o mercúrio. Sua forma líquida infelizmente é um comum poluente de nossas águas, mas também pode fazer estragos na atmosfera. Neste meio, esse composto se degrada em metilmercúrio, que pode ser inalado por nós ou ingerido por alimentos ou água contaminados, chegando ao sangue humano e se concentrando no nosso cérebro, sistema nervoso e placenta, nas mulheres.

imagem 2
Figura 2: Mercúrio em estado líquido. Na forma de gás, não tem cheiro ou cor. Fonte: Alunos Online UOL.

No corpo, o derivado de mercúrio causa sintomas como insensibilidade na pele (parestesia), dormência ou sensação de formigamento, seguido de falta de controle muscular (ataxia cerebelar), dificuldade na articulação das palavras (disartria), distúrbios de personalidade (neurastenia), constrição do campo de visão, perda auditiva, problemas no olfato e paladar, dano difuso em sistemas nervosos de fetos, causando atrasos no desenvolvimento neurocognitivo e psicomotor (desde problemas de fala, mastigação e interação até microcefalia), desordens somatosensoriais e psiquiátricas, e em casos graves pode causar paralisia e morte. Há até estudos que comprovam a relação entre casos de mal de Parkinson, Autismo, Alzheimer, Esclerose Lateral Amiotrófica, Lúpus e Artrite Reumatóide e ingestão de pequenas concentrações de mercúrio.

Outro exemplo é o chumbo. Muito comum em combustíveis veiculares até meados da década de 80 nos Estados Unidos e até 1989 no Brasil, as principais formas de contaminação por chumbo ocorrem por ingestão de água ou alimentos contaminados ou por inalação de poeira que contém partículas do componente. Esse material pode ser armazenar por até 30 anos no tecido ósseo, caracterizando um dos poluentes mais perigosos.

imagem 3
Figura 3: Chumbo em forma sólida. Suas partículas misturas ao ar podem contaminar. Fonte: Revista Ecológico.

Depois de absorvido é transportado pelo sangue e distribuído por três compartimentos: sangue, tecidos mineralizados e tecidos moles (fígado, rins, pulmões, cérebro, baço, músculos e coração). Os sintomas que causam no homem são: redução do QI, dificuldades de aprendizagem ou problemas de comportamento, anemia, aumento da pressão sanguínea, danos aos rins e à medula óssea, abortos, diminuição da fertilidade, e principalmente danos ao sistema nervoso central e periférico.

imagem 4
Figura: Fontes naturais e antropogênicas da entrada de mercúrio e chumbo na atmosfera.

Um caso emblemático brasileiro ocorreu em Adrianópolis, no Vale da Ribeiro, Paraná. A mesma mineradora, Plubum, atuou durante 50 anos na região e descartou indevidamente compostos de chumbo no solo e atmosfera. Estudos comprovaram média concentração de chumbo no sangue de comunidades que viviam em torno da empresa, estritamente no limite do aceitado pela Center for Disease Control and Prevention (CDC). Como no caso anterior, plantações locais estavam contaminadas com o minério, e até hoje a população ainda sofre com os sintomas dessa intoxicação.

imagem 5
Figura 5: Poluição em São Paulo. Fonte: Cultura Mix.

Devemos lembrar novamente que, além de nos afetar, esses compostos afetam também os animais e o meio ambiente em que contaminam, incluindo os nossos oceanos. Todos os ambientes, oceanos, atmosfera e solo, estão diretamente conectados e interdependentes.

Embora muitas das vezes possam ocorrer acidentes de vazamentos químicos ou complicações no descarte, é muito importante destacar que a maior parte do problema da poluição por metais pesados ainda é negligência às leis e leis ambientais pouco rígidas. É essencial que a conscientização e educação da sociedade ocorram para que haja pressão nas autoridades responsáveis quanto à fiscalização e legislação para que, assim, haja menos impacto tanto para a natureza quanto para nós.

Comment

0 Replies to “Poluição atmosférica: bem mais que Efeito Estufa”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *