Zonas ameaçadas no litoral do Rio de Janeiro

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            As alterações climáticas e suas consequências estão cada vez mais evidentes.O que pode soar distante se confirma com sinais próximos que podem passar despercebidos. Estudos recentes conduzidos pela Faculdade de Oceanografia da UERJ demonstram que a frequência de ressacas significativas que atingem o município do Rio de Janeiro, tem se mantido elevado na última década (2007-2016). Entenda como ressaca significativa, todo e qualquer evento extremo oceanográfico na orla do Rio de Janeiro, que tenha oferecido risco e/ou acidentes para a cidade. 

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Figura 1: Evolução do número de ressacas ao longo dos anos. (Município do Rio de Janeiro)

            Foram observados inúmeros acidentes ambientais ao longo de toda orla fluminense nos últimos 6 anos (2011-2016). Acidentes com mortes e de alta visibilidade, como foi o caso da ciclovia a beira mar inaugurada em 2016, que liga os bairros do Leblon a São Conrado no Rio de Janeiro, poderia ter sido evitado se houvesse mais atenção aos sinais oferecidos ao longo do litoral do Rio de Janeiro.
Partindo-se da Costa Verde, a praia de Jabaquara, em Paraty, vem sofrendo processos de erosão significativa mesmo em litoral de menor exposição ao mar aberto. Apesar de estar encravada na baía de Paraty, esta sofre as consequências das mudanças climáticas. No caso, a direção predominante de entrada das ressacas tem alterado da direção sudoeste para o sul e sudeste o que deixa a praia mais exposta aos ataques das ondas de alto mar.

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Figura 2: Ressaca do dia 14 de junho de 2016 afetando área entre os quiosques Caminito e Capitania dos Copos. Praia de Jabaquara – Paraty.

            Este mesmo problema tem afetado a praia de João Brás situada no município de Mangaratiba. Localizado na baía de Mangaratiba, a praia de São Brás vem sendo erodida com maior intensidade a partir de 2014. O local, apesar de já ter recebido investimentos para a sua proteção através de estruturas costeiras como espigões nos últimos anos, estas vieram sofrendo desestruturação progressiva devido ao ataque de ondas de maior intensidade. O guia corrente serve para orientar a saída das águas do Rio Ingaíba. Mesmo assim já houveram situações da vazão do rio ultrapassar a crista do guia corrente e ameaçar a estabilidade da praia.

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Figura 3: Situação de erosão na praia de São Brás – Mangaratiba.

            No município do Rio de Janeiro, a praia da Macumba, com alta exposição ao mar aberto, já vem sofrendo problemas desde a década de 1990. A razão principal é a influência antrópica somada com a sua crescente exposição ao ataque do mar. Na década de 1980, a embocadura do Canal de Sernambetiba, que possuía um molhe para garantir a sua abertura, foi deteriorando-se por falta de manutenção. Desta forma, as correntes litorâneas varriam os sedimentos que mantinham a largura da praia da Macumba para dentro da embocadura desprotegida do Canal de Sernambetiba. O assoreamento da abertura provocava o entupimento do canal e inundações ocorriam frequentemente na região das Vargens, ao longo do canal, à montante. A solução foi a contínua dragagem da abertura para desentupimento, fazendo crescer a areia acumulada nas margens. Ao invés de restituir para a praia da Macumba, origem destes sedimentos, a mesma foi retirada por caminhões para o aterro das áreas baixas do Recreio dos Bandeirantes e Vargens. Assim, o déficit de sedimentos da praia da Macumba foi aumentando, resultando no estreitamento da faixa de praia e a aproximação perigosa da linha d’água ao novo calçadão edificado a partir de 2005.

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Figura 4: Ressaca destrói parte de calçadão da praia da Macumba – Rio de Janeiro. 22/08/2015. Fonte: https:www.youtube.com/watchv=iWRgwWVWDZE

            No município de Niterói, a praia de Piratininga teve seu calçadão parcialmente destruído em 2016. A sucessão das ressacas nos últimos anos tem fragilizado e erodido a praia de Piratininga. A proximidade do calçadão com a linha d’água ou mesmo a redução da praia permite o ataque direto das ondas sobre o muro de contenção do calçadão. Obviamente que a primeira estrutura natural de proteção das edificações costeiras são as praias. A capacidade de proteção oferecida pela praia está diretamente ligada a sua largura média e seu perfil (relevo). Com a sua redução, as edificações ficaram muito expostas as ressacas.

            Através da largura da praia e da elevação da mesma em relação ao nível médio do mar é possível avaliar o volume de areia existente. A resiliência da praia frente ao ataque do mar é diretamente proporcional a este volume de areia e a existência de vegetação de restinga. A vegetação é capaz de quebrar a energia de transporte provocada pelos ventos e suas raízes e aumentam a capacidade de agregação da areia frente a erosão causada pelo ataque das ondas e das correntes litorâneas. Portanto, seu pisoteio e as queimadas danificam e reduzem drasticamente a capacidade de retenção dos sedimentos proporcionada pela vegetação litorânea. São elas inclusive, que promovem o acúmulo da areia formando-se as dunas. As dunas representam a reserva ou estoque de sedimentos para conter o avanço do mar em cenários extremos de ressacas.

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Figura 5: Ressaca destrói parte de calçadão da praia de Piratininga – Niterói. 28/04/2016.

            Do início da Costa Verde (Paraty) até o final da Costa do Sol (Armação de Búzios), o litoral tem direção Leste-Oeste. Neste trecho, a ação da maré meteorológica que é causada pelos ventos oriundos das entradas de frentes frias, tem influência potencializada pois sofre ataque frontal desses avanços. Em função da direção predominante de entrada destas frentes frias, esta provoca uma a sobrelevação do nível do mar chamada de maré meteorológica, que chega a casa dos 0,6 a 0,8 metros de altura. Isso representa uma maior acessibilidade das ondas e o avanço considerável da linha de praia para posições mais internas das praias que tem reduzida declividade, como é o caso das baixadas costeiras.

            É preciso se atentar às  diferenças entre maré meteorológica com a maré astronômica. Esta última é influenciada pela atração dos corpos celestes como a Lua e o Sol. A maré astronômica tem suas amplitudes maiores por ocasião da Lua Cheia e Nova e atinge a altura de 1,2 metros.

            Já no litoral norte fluminense, a localidade com sérios problemas com o avanço do mar é Rio das Ostras. Neste local, além da mudança de intensidade e direção do ataque do mar, o homem também contribuiu com a desestabilização da orla litorânea. Nesta localidade, o litoral tem direção Norte/Sul e sua exposição com mar aberto propicia o ataque frontal de ventos e ondulações de alto mar. Em Rio das Ostras, a Praia da Tartaruga sofreu severa erosão no outono e inverno de 2015. Desde 2013 a praia da Tartaruga vem se estreitando perdendo cerca de 7 metros de largura em 2 anos e o risco do colapso da Rodovia Amaral Peixoto (RJ-106) que corre ao longo da orla foi eminente. Recentemente a erosão se estendeu para a Praia do Abricó também em Rio das Ostras.

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Figura 6: Praia erodida, boa parte da praia coberta pelo mar. Praia da Tartaruga,  Rio das Ostras. 28/01/2014.
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Figura 7: Detalhe do colapso do calçadão Fonte:  https://macaeempauta.blogspot.com.br/2015/03/praia-da-tartaruga-sofre-com-avanco-do.html

            Uma das praias mais emblemáticas quanto aos problemas de erosão é a praia de Atafona no norte fluminense. A cidade de mesmo nome está localizada na embocadura do Rio Paraíba do Sul que nos últimos anos teve redução substancial de sua vazão decorrente ao uso extensivo de suas águas para aproveitamento agropecuário, industrial e consumo das cidades por onde passa. A diminuição da vazão implica na redução do aporte de sedimentos o que provoca um desequilíbrio entre a oferta do rio e a retirada pelo mar. A tendência de perda praia se acentua ocasionando um recuo expressivo da linha d’água em direção a cidade. Desta forma, muitas edificações foram dragadas pelo mar ou se encontram sob sério risco de colapso.

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Figura 8: Praia de Atafona. Fonte: http://viafanzine.jor.br/site_vf/pag/1/na_terra3.htm

            Ao observar a localização das principais praias fluminenses sob severa erosão costeira nota-se que o fenômeno se distribui de forma homogênea sobre diversos pontos do litoral do estado do Rio de Janeiro.

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Figura 9: Localização das praias impactadas.

            Em função da vocação econômica (turismo e petróleo) do Rio de transporte. A gestão e a manutenção destes espaços garantem as atividades econômicas fundamentais para viabilizar o estado. Cuidados preventivos e investimentos em ações de mitigação para o combate a erosão do litoral devem ser urgentemente aplicadas antes que os riscos de segurança pública aumentem ainda mais. Neste sentido a sociedade deve estar alerta e pressionar as autoridades competentes para que ações de combate sejam permanentes e contínuas. Medidas pontuais e oportunistas não resolveram o problema de forma segura e objetiva.

Prof. David Zee

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