As Chuvas Orográficas e os Acidentes Ambientais

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David Zee

As chuvas orográficas ou chuvas de relevo presentes em grande parte do litoral brasileiro se devem as características climáticas e geográficas locais. Nas regiões sul e sudeste (do Rio Grande do Sul ao Espírito Santo) a Serra do Mar se aproxima do litoral e espreme uma estreita planície costeira contra o mar. Exatamente nesse trecho entre o mar e a montanha existem áreas densamente ocupadas e expostas as chuvas orográficas.

Localização geográfica da Serra do Mar (RS-ES)

Mas como se formam as chuvas orográficas?

A brisa marinha de final do dia que sopra do mar em direção ao continente evapora grande volume de umidade devido a sua interação com a superfície do mar. O vapor úmido é então carreado para o litoral e ao se deparar com a Serra do Mar é forçado a se elevar para altitudes superiores onde o frio promove a sua condensação e consequente precipitação nas encostas voltadas para o mar.

Essa umidade ao longo de milhares de anos formou a Mata Atlântica, famosa por sua biodiversidade animal e vegetal, que cobria extensas áreas costeiras do Rio Grande do Sul ao Rio Grande do Norte. Hoje a ocupação humana presente nas áreas costeiras reduziu a presença da Mata Atlântica original para apenas 12,4% da sua área original (SOS Mata Atlântica & INPE, 2020).

O mar e o relevo tem papel fundamental para promover o cenário úmido provocado pelas chuvas orográficas. Em geral as chuvas são de pequena a média intensidade, porém de longa duração. Isso representa um volume considerável de umidade que deve ser absorvido e trabalhado pela vegetação e pelo solo. Tais características favoreceram a formação da exuberante e rica biodiversidade da Mata Atlântica cuja cobertura promove a proteção do solo presente nas encostas íngremes da Serra do Mar.

Contudo com o avanço da ocupação humana na Serra do Mar, retirando a cobertura vegetal e impermeabilizando o solo, promoveu-se o desequilíbrio ambiental e a fragilização das condições de estabilidade dos planos inclinados. O risco de liquefação do solo desprotegido aumentava-se a medida que a Mata Atlântica vinha sendo substituída por rodovias e espaços agrícolas. Apesar das chuvas orográficas não serem muito intensas, a sua longa duração promovia o maior encharcamento do solo que sem a sustentação das raízes da vegetação nativa escorregava formando verdadeiras avalanches de lama e pedras que arrastam a pouca vegetação restante. O risco desses acidentes ambientais tem crescido muito nas últimas décadas promovendo muitas perdas materiais e de vidas. A alta visibilidade e os cenários catastróficos resultantes provocaram muita insegurança social e demandas por tecnologias que pudessem integrar a engenharia tradicional e a ambiental.

Em função da crescente pressão de ocupação da faixa costeira, espremida entre montanhas e mar, somada com as flutuações climáticas e oceanográficas, arma-se um cenário de riscos de acidentes ambientais.  A retirada da vegetação, a flutuação da duração e mesmo da intensidade das chuvas orográficas, somada com a exposição das cidades costeiras produziu um cenário de elevado risco social. Estudos recentes tem demonstrado a intensificação orográfica da precipitação na Serra do Mar ao longo do litoral paulista (Blanco & Massambani, 2000).

Acidente ambiental em Angra dos Reis, jan/2010

A progressão da ocupação humana no litoral e o aumento da intensidade das ameaças climáticas e oceanográficas tem trazido uma preocupação maior visando desenvolver metodologias para o monitoramento e previsões climato-oceanográficos, bem como, procedimentos para prevenção contra acidentes ambientais. Uma boa dica profissional para quem quer viver do mar no futuro próximo.

Escrito por: David Zee

Referências Bibliográficas

Blanco, C.M.R.; Massambani, O.. PROCESSOS DE INTENSIFICAÇÃO OROGRÁFICA DE PRECIPITAÇÃO DA SERRA DO MAR EM SÃO PAULO. Anais do XI Congresso Brasileiro de Meteorologia, Rio de Janeiro, Set/2000. P. 1884 – 1892. https://www.researchgate.net/publication/34738328_Processos_de_intensificacao_orografica_da_precipitacao_na_Serra_do_Mar_em_Sao_Paulo (consultado em 25/02/2021)

SOS Mata Atlântica & INPE. ATLAS DOS REMANESCENTES FLORESTAIS DA MATA ATLÂNTICA, PERÍODO 2018-2019. Relatório Técnico, São Paulo, 2020. 61p. http://www.inpe.br/noticias/noticia.php?Cod_Noticia=5115#:~:text=O%20Atlas%20da%20Mata%20Atl%C3%A2ntica,da%20%C3%A1rea%20original%20do%20bioma. (Consultado em 25/02/2020)

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