Causas e efeitos do estrangulamento do Canal da Joatinga

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O presente artigo realiza uma avaliação da evolução das causas e efeitos da perda gradual da capacidade de trocas hídricas entre a Lagoa da Tijuca e o mar pelo Canal de Joatinga.

Ao longo dos últimos 17 anos (2000-2017) o crescimento urbano na faixa costeira da Baixada de Jacarepaguá se acentuou de tal maneira que provocou uma pressão para instalação de equipamentos de transporte de massa (metrô) e expansão das rodovias na região que costeia o Canal da Joatinga.

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Figura 1: delimitação da área de estudo, Canal da Joatinga (amarelo).

O Canal da Joatinga tem extensão aproximada de 3000 metros e se comunica com o mar através de uma abertura mantida pelo quebra-mar da Barra. Este impede o assoreamento (acúmulo de sedimentos) do canal pelas areias da praia da Barra carregadas pelas ondas. A estabilidade do canal, contudo se faz através das trocas hídricas realizadas graças à flutuação da maré. O prisma de maré que adentra pelo Canal da Joatinga tem capacidade de moldar a seção transversal do canal permitindo a renovação das águas interiores.

A ocupação acelerada e adensada das margens do canal provocou a mudança gradual de sua morfologia. Estas mudanças acarretaram pontos de estrangulamento da circulação natural reduzindo-se de forma significativa o fluxo das marés, o que favorece a deposição de sedimentos em áreas molhadas sombreadas pelos aterros bem como uma alteração da velocidade de vazões em outros pontos.

A mudança das condições naturais de circulação das águas provoca alterações na deposição (assoreamento) ou retirada (erosão) do leito lagunar, acarretando em um envelhecimento precoce das lagoas. Dentre as principais causas da gradual obstrução da circulação das águas citam-se as seguintes:

1) Assoreamento do Espelho d’água

Em função da enorme quantidade de matéria orgânica, resíduos urbanos, lixo e sedimentos acarreados pelos rios que cortam extensas áreas urbanizadas da bacia de drenagem da Baixada de Jacarepaguá, estas tendem a se depositar em áreas do espelho d’água lagunar com baixa velocidade de circulação. Mesmo em áreas estreitas do Canal da Joatinga onde naturalmente a velocidade de circulação é maior, existe a obstrução causada pelo arquipélago de Ilhas da Gigóia.

As figuras 2 e 3 pontuam os principais pontos encontrados de assoreamento formado nos últimos 15 anos.

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Figura 2: principais pontos de ilhas de assoreamento do Canal da Joatinga.

2) Assoreamento das Margens

Em função da suave declividade das margens do Canal da Joatinga somada às inúmeras curvas que compõem o referido canal, ocorrem locais propícios para o acúmulo de sedimentos. Da mesma forma o aporte de material carreado pelo canal de Marapendi, próximo ao arquipélago de ilhas, propicia o gradual assoreamento das margens próximas a estas ilhas naturais. Somado a isso, a ocupação das ilhas que promovem aterros clandestinos de suas margens, facilitou a obstrução da livre circulação de águas.

O assoreamento das margens torna-se então outro fator de estrangulamento da circulação das águas. As figuras 4 e 5 mostram os locais de crescente assoreamento das margens aumentando-se a resistência da circulação das águas e consequente redução do volume de renovação das águas interiores.

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Figura 3: principais pontos de assoreamento das margens do Canal da Joatinga.

3) Obstrução devido a obras

A necessidade de aumentar a capacidade de transito de veículos e transporte público (metrô) obrigou a instalação de infraestrutura que pudesse atender a estas demandas. Assim a construção da ponte estaiada para a chegada do metrô na Barra e a duplicação da ponte e pista de acesso de carros promoveram inúmeros pontos de ocupação de espaços do espelho d’água do Canal da Joatinga.

A construção da ponte estaiada promoveu a necessidade da instalação de pilares e ensecadeiras na fase de construção, o que acarretou em perdas da área da seção transversal do canal. Tal cenário foi outro fator de constipação da circulação.

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Figura 4: Imagem indicando margens do canal da Joatinga antes da construção da ponte estaiada (verde) e após a construção (vermelho).
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Figura 5: Imagem mostrando a construção da ponte estaiada sobre o canal da Joatinga.

Da mesma forma a construção dos pilares de sustentação de nova parte de acesso a Barra promoveu a ocupação de espaços por onde as águas escoavam pelo Canal da Joatinga. Tais ocupações acarretam em perda de carga bem como desvio das linhas de corrente durante a vazante ou enchente do fluxo de maré.

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Figura 6: Situação final e atual da ponte construída.

Em nosso próximo post, mostraremos as possíveis soluções para a reabertura da comunicação hídrica do Canal da Joatinga com o mar!
Aguardem 😉
glossário:
prisma de maré – volume de água que entra no canal na maré enchente

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